A recente divulgação do ranking das
escolas secundárias provocou os comentários habituais: genericamente, para uns
o ranking é um instrumento útil de
avaliação, para outros é um instrumento sem precisão
suficiente para dele poderem ser retiradas conclusões fiáveis. Depende da perspectiva em que assenta o observador. A mim, subsiste-me uma dúvida: por que razão o ensino secundário privado é geralmente melhor
sucedido que o ensino secundário público mas o ensino superior público é, com
excepção da U. Católica, geralmente melhor sucedido que o ensino superior
privado?
Entretanto um outro ranking, do Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) anualmente editado pelas Nações Unidas, foi praticamente ignorado. Com uma evolução que, nos últimos 15 anos, se traduziu numa queda da posição de Portugal na 28ª. posição no Relatório de 2002 (indicadores de 2000) para a 43ª no Relatório de 2015 (indicadores de 2014), o ranking é incómodo. E, sendo incómodo, talvez, dirão alguns, seja pouco fiável.
A edição deste ano tem a dignificação do
trabalho como tema central e inclui o habitual anexo estatístico, e, como
sempre, o ranking do IDH dos países membros decomposto nos indicadores
considerados. Vejamos, a voo de pássaro, a evolução de
Portugal no ranking nos últimos 15 anos observada pelos relatório do PNUD
de 2002 e 2015.
Mantiveram-se nos primeiros 27 lugares do ranking de 2002, com excepção da Grécia que desceu da 24ª para a 29ª posição, todos os países que antecediam Portugal, ainda que se tenham observado algumas alterações significativas: p.e. A Suécia desceu do 2º. lugar para 14º., a Suiça subiu do 11º. para o 3º. Só a Noruega se manteve o mesmo lugar, de liderança.
Tendo descolado do pelotão da frente, Portugal foi ultrapassado pela Eslovénia, Rep. Checa, Estónia, Eslováquia, Polónia, Lituânia, Malta, Argentina, Chile. E ainda, por razões não relevantes para este efeito, o Brunei, a Arábia Saudita, os Emiratos Árabes Unidos. O Liechtenstein (13ª. posição em 2015) e Andorra (34ª.) não integravam o ranking divulgado em 2002.
Mesmo uma análise expedita permite facilmente concluir que, segundo os critérios do PNUD, os dois componentes de avaliação "educação" no índice de desenvolvimento humano têm um peso relativo nitidamente superior aos restantes. E, destes dois, sobreleva-se a média de anos de escolaridade. Em Portugal este número (8,2) é o mais baixo do conjunto de países que nos antecedem no ranking e cerca de metade do número de anos (16,3) de escolaridade esperada. O abandono escolar é, em Portugal, uma calamidade que persistiu ao longo dos últimos 15 anos, tendo-se eventualmente agravado, em termos relativos, considerando o índice de educação (94% para um máximo de 98% na Noruega) atribuido no ranking de 2002.
A este respeito é também interessante a comparação dos indicadores de Portugal com os da Grécia.
À Grécia, que ocupa agora a 29ª. posição, i.e., 14 posições acima da posição portuguesa é atribuido um IDH de 0,865 (0,830 a Portugal)
No entanto
- a "esperança de vida à nascença" - na Grécia, 80,9 anos (H/M), é um valor igual ao calculado para Portugal.
- o "PIB/capita em paridade de poder de compra" - na Grécia, 24 524 dólares; em Portugal, 25 757 dólares.
- o "número esperado de anos de escolaridade" - 17,6 na Grécia compara com 16,3 em Portugal.
mas
- o "a média de anos de escolaridade" - 10,3 na Grécia, é superior em 2 anos à média observada em Portugal (8,2).
Justificam, só por si, estes dois anos de escolaridade efectiva a diferença de 14 posições no ranking, independentemente de ser nitidamente mais favorável a Portugal o indicador PIB/capita (PPP)?
Para os administradores do PNUD, sim.
Para nós, tem dias.
---
Tendo descolado do pelotão da frente, Portugal foi ultrapassado pela Eslovénia, Rep. Checa, Estónia, Eslováquia, Polónia, Lituânia, Malta, Argentina, Chile. E ainda, por razões não relevantes para este efeito, o Brunei, a Arábia Saudita, os Emiratos Árabes Unidos. O Liechtenstein (13ª. posição em 2015) e Andorra (34ª.) não integravam o ranking divulgado em 2002.
Mesmo uma análise expedita permite facilmente concluir que, segundo os critérios do PNUD, os dois componentes de avaliação "educação" no índice de desenvolvimento humano têm um peso relativo nitidamente superior aos restantes. E, destes dois, sobreleva-se a média de anos de escolaridade. Em Portugal este número (8,2) é o mais baixo do conjunto de países que nos antecedem no ranking e cerca de metade do número de anos (16,3) de escolaridade esperada. O abandono escolar é, em Portugal, uma calamidade que persistiu ao longo dos últimos 15 anos, tendo-se eventualmente agravado, em termos relativos, considerando o índice de educação (94% para um máximo de 98% na Noruega) atribuido no ranking de 2002.
A este respeito é também interessante a comparação dos indicadores de Portugal com os da Grécia.
À Grécia, que ocupa agora a 29ª. posição, i.e., 14 posições acima da posição portuguesa é atribuido um IDH de 0,865 (0,830 a Portugal)
No entanto
- a "esperança de vida à nascença" - na Grécia, 80,9 anos (H/M), é um valor igual ao calculado para Portugal.
- o "PIB/capita em paridade de poder de compra" - na Grécia, 24 524 dólares; em Portugal, 25 757 dólares.
- o "número esperado de anos de escolaridade" - 17,6 na Grécia compara com 16,3 em Portugal.
mas
- o "a média de anos de escolaridade" - 10,3 na Grécia, é superior em 2 anos à média observada em Portugal (8,2).
Justificam, só por si, estes dois anos de escolaridade efectiva a diferença de 14 posições no ranking, independentemente de ser nitidamente mais favorável a Portugal o indicador PIB/capita (PPP)?
Para os administradores do PNUD, sim.
Para nós, tem dias.
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O Relatório de 2002 incluía um quadro - "Tendências Demográficas" - que vale sobretudo pela análise comparativa que permite fazer com outros países. O défice demográfico refletido na evolução destes valores antecipava há muito tempo a crise demográfica estrutural reflectida nos dados divulgados em Junho deste ano pelo INE, vd. aqui.
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