Saturday, May 21, 2011

DETALHES

Pergunto-me, sempre que entro na pequena loja onde compro o jornal, qual será o peso do euromilhões no endividamento externo português. O dono da loja, um rapaz simpático que cumprimenta todos os clientes e está a par de tudo o que se passa na vizinhança, está a prosperar a olhos vistos: a vender tabaco,  jornais, revistas, euromilhões, totoloto, totobola, raspadinha, e outras sortes correlativas, deverá cobrar em média, pelos cálculos que tenho feito durante o tempo em que espero na fila, para cima de trinta euros por cliente. Eu, que não lhe entrego mais que três euros ao sábado, sou, certamente, um caso raro no meio duma clientela que sai de lá com dois ou três jornais, desportivo um deles, uma ou duas revistas de mexericos, tabaco e jogo da sorte, com especial destaque para o euromilhões.

A propósito, despertou-me a atenção um artigo publicado no Expresso de hoje, citando dados da H2 Gambling Capital, a maior consultora mundial da indústria de jogo, que calcula em 1,4 milhões as perdas anuais dos portugueses em jogos de azar. Quer isto dizer que, grosso modo, cada português com mais de 18 anos perdeu, em média, o ano passado com o euromilhões e quejandos qualquer coisa como 148 euros. Uma bagatela, dirão alguns a quem o dinheiro não custa a ganhar.

Aparentemente, nem a crise assusta os jogadores
Na Alemanha, aposta-se menos que em Portugal (142 euros de perda por adulto).
Irlandeses e Gregos, com endividamentos que obrigaram a pedir ajuda externa, superam os portugueses no vício do jogo. Os irlandeses apostam €410 per capita, os gregos quase o dobro dos portugueses.

Se a Angela Merkel, uma desmancha prazeres, sabe disto, ainda um dia destes virá a terreiro bradar: Meninos tenham juizo. Não vos emprestamos dinheiro para vocês jogarem na roleta!

11 comments:

António said...

"superam os portugueses no vício do jogo."

Boa noite.
Faça o favor de não confundir vício com aflição.
Sabe o que quero dizer. Em avaliações somos muito bons. É pena.

rui fonseca said...

"Faça o favor de não confundir vício com aflição."

Caro António,

Não farei se o António me explicar onde me confundo.

António said...

Vou tentar.
Acha que os portugueses são amigos da jogatina. Eu, nem sim nem não.
Como você tem obrigação de saber, há jogo e Jogo. O Jogo, com letra grande, é praticado por poucos portugueses, que gastam o que herdaram, o que recebem de cortiças, de árvores, de terras, de rendas e outras coisas que lhes trazem o cacau pela porta dentro, sempre certinho.
Ou seja, as estatísticas novamente.
Um tipo come dois frangos por dia, outro não come nenhum, comem, pelo iné e por quem acredita nele, um frango cada um. Porreiro, pá!
Esse Jogo, é o grande. Depois há o pequeno, euromilhões e assim, em que alguns gastam dois, três, quatro euros e, e...
A ver se lhes sai alguma coisita. A aflição do dia a dia obriga a essa ginástica, ao sacrifício de investir qualquer coisa a troco de outra onde se podia gastar o mesmo valor. Coisa pouca e que não envergonha ninguém pelo valor em si, mas devia envergonhar uma nação inteira, que vê compatriotas seus a ter de optar entre duas coisas, na ânsia de uma lufada grande ou pequena que lhes permita mandar tudo isto abaixo de Braga, estatísticas, estudos e opinião dos outros a seu respeito, incluídas.
Estar no quente e seco e criticar os outros por andarem à chuva e ao frio, é fácil. Difícil é sair de casa e fazer o mesmo.
Comprar dois jornais e outras tantas revistas, não me parece um hábito tão mau quanto isso. Até mexe com a economia.
É preciso pesquisar,inventar, compor, fotografar,imprimir, embalar, distribuir, revender, etc. etc.
Ver tv, ter internet, tempo para isso, é coisa que gasta tempo que nem toda a gente tem. E é preciso ler. Ler, nem que seja o jornal desportivo ou a revista maria.
Depois, quem compra 30 euros de jornais e revistas, não as compra obrigatóriamente todas para si. Há quem faça vaquinhas. No prédio, no café e entre vizinhos.
A realidade não é o que passa na tv, meu caro.
Há outra, a verdadeira.Não confunda as coisas. Os portugueses que levaram Portugal ao triste estado em que se encontra, não foram esses que você encontra na rua. Foram outros, que você sabe muito bem quem são.
Saudações e até sempre.

rui fonseca said...

Obrigado pela sua explicação que explica muita coisa com a qual concordo mas não explica tudo, salvo melhor opinião.

Mais do que uma necessidade de equilibrar as contas da casa (que não equilibra, porque nenhum jogo devolve aos jogadores aquilo que eles globalmente investem) o jogo é um vício, ou se quiser, uma atitude.

Já entrei várias vezes em casinos e nunca deixei lá um chavo. Também não trouxe, evidentemente. Mas quem vejo debruçado sobre as slot machines ou à volta das meses da roleta, bacará, etc., não são, geralmente, gente afluente. Esses ganham-no à grande e à francesa sem arriscar tanto. Até porque sabem que se forem frequentadores frequentes acabarão por perder muito mais do que podem ganhar.

Quanto a leituras, também só estou parcialmente de acordo consigo. Só em Portugal os jornais desportivos conseguem mais leitores que os outros. É bom que leiam. Pois é. Mas há leituras e leituras.

Penso eu.

Sempre a considerá-lo.

António said...

Mas há leituras e leituras.

Pois há. Mas a que preço?

Os livros do JrodSantos?
Do Nobel Seramago?
Ou livros dos gurus da economia?
Os de culinária?
Aqueles que aconselham como sair da crise(ao autor, claro)
Mesmo em saldo, veja-lhes o preço.
Prestam para alguma coisa? O que fica?

Tudo coisa fina, como sabe.

rui fonseca said...

O Nobel Saramago tem coisas boas.
Por exemplo, "O Memorial do Convento"

Não?

António said...

O Nobel Saramago tem coisas boas.
Por exemplo, "O Memorial do Convento"

Não?

Não faço ideia. Tenho ouvido dizer umas coisas, mas não ligo muito.Parece que quem escrevia aquelas coisas era uma espanhola.
E espanholas, sabe como são...

Anonymous said...

Se houve alguém que nos trouxe até ao momento actual foi precisamente "a elite" que considera todos os outros provincianos e ignorantes.

rui fonseca said...

"E espanholas, sabe como são..."

Tem alguma coisa a reclamar?

rui fonseca said...

""a elite" que considera todos os outros provincianos e ignorantes."

Eu sou provinciano e ignorante, sem dúvida nenhuma.
Quem não é ignorante?

João Vaz said...

Concordo com o Rui.
Aqui na Figueira é deprimente ir ao fim de tarde ao Casino: gente e mais gente a estourar dinheiro nas slots.