Sunday, May 22, 2011

BYPASS

A questão da reestruturação das dívidas soberanas dos países resgatados pela ajuda externa (Grécia, Irlanda e Portugal, para já), que opõe os que a levantam aos que não querem sequer ouvir falar dela provoca uma fractura que é aparente e que durará menos de dois anos.

Para salvar o sistema financeiro, um dos maiores responsáveis do imbróglio em que se encontram metidos os endividados pela voracidade com que lhes espreme o tutano depois de lhes ter feito engolir mais do que o corpo lhes consentia, a ajuda externa é o compasso de espera concedido pela União Europeia aos bancos credores se safarem sem os "hair cut" que mereciam mas que poderiam colocar a zona euro de patas para o ar e acabar com a União Europeia.   

Reestruturar, sim, mas devagar. Se as reestruturações se realizassem imediatamente, seriam os bancos que pagariam o preço das suas ganâncias e das suas irresponsabilidades ilimitadas. O efeito poderia ser catastrófico tendo em conta o emaranhado de imparidades daí resultante e as insolvências em cascata que provocaria. Funcionou portanto o efeito do "moral hazard", isto é, os bancos são demasido grandes para poderem cair sem destruir tudo à volta. Too big to fail, portanto, terão de ser os contribuintes a arcar com os prejuízos do desastre de que eles, bancos, foram grandes culpados. Se a história não se repete, replica-se.

Com a ajuda externa a responsabilidade dos endividados transfere-se para a União Europeia, para o Banco Central Europeu e para o FMI. O FMI será, nestas circunstâncias originais, (nunca o FMI tinha participado em resgates a meias com a União Europeia) credor privilegiado, pelo que o mais que certo incumprimento dos compromissos assumidos no âmbito do apoio der ajuda externa, transferir-se-á para os contribuintes da União Europeia  e safar-se-ão, outra vez, os bancos e o sistema.

Os finlandeses, e não só, que se opuseram à ajuda externa, sabem bem que é assim. Poderia ser de outro modo?
Pode, a partir de 2013 se vingar a proposta de Markel de fazer pagar aos bancos o preço do risco das operações que fazem.

Percebe-se tudo, não?

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