Estacionaram a furgoneta, com as fotografias em tamanho de outdoor dos líderes nacional e local do partido, à direita da entrada do mercado municipal; do lado esquerdo, fardado com o azul e o amarelo do partido, um quarteto tratava o melhor que podia o cochicho da menina. Mesmo à entrada, os contratados do costume, igualmente fardados, distribuiam bandeiras e encaminhavam os curiosos para uma mesa montada nas traseiras da furgoneta, com duas cadeiras. Campanha activa, segundo o reclame : Quem quisesse, sentava-se e ficava a saber como estava de tensão arterial e de glicémia.
Mas não tinha freguesia que se visse. Ou porque a tensão arterial e a glicémia não apoquentasse quem entrava e saía, ou porque os constrangisse a presença de mirones, o certo é que o quarteto musical reunia mais admiradores à volta que a mesa das medidas de saúde. Mas havia outras razões para a ausência de pacientes.
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- Pá, não queres medir ali a tensão?
- Ná.
- E por que não?
- Pode estar alta e lá me estraga o almoço. Tenho uma caldeirada para hoje. E tu, já mediste a tua?
- Aqui, nunca. Não quero nada com esta gente. Nem de borla.
- E porquê?
- Porque não. Por mais voltas que isto dê não troco de camisola.
- Ninguém te obriga a nada.
- Pois não. Mas não quero ficar a dever-lhes este favor, sequer. Já agora, diz-me: onde é que se come aqui uma boa caldeirada?
- Estás a fazer-te convidado, já percebi.
- Estou?
- Vá. Anda daí.
- Aqui, nunca. Não quero nada com esta gente. Nem de borla.
- E porquê?
- Porque não. Por mais voltas que isto dê não troco de camisola.
- Ninguém te obriga a nada.
- Pois não. Mas não quero ficar a dever-lhes este favor, sequer. Já agora, diz-me: onde é que se come aqui uma boa caldeirada?
- Estás a fazer-te convidado, já percebi.
- Estou?
- Vá. Anda daí.
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