Wednesday, February 17, 2010

O SEXO DA ECONOMIA

Ainda a propósito do que escrevi nos dois últimos apontamentos, (aqui e aqui) quanto mais penso na posicionamento de muitos economistas relativamente às responsabilidades que assacam às Universidades onde ensinam na gestação da crise financeira global, mais se me arreiga a ideia de que essa auto incriminação (de que eles, ainda que críticos não podem, honestamente, desvincular-se) é, sobretudo, uma atitude partidária. Não é por acaso, julgo eu, que Castro Caldas refere no comentário que transcrevi aqui a falta de pluralismo no ensino da economia.

O ensino universitário, a investigação científica, ou são plurais no espectro possível de análise, ou não são nem uma coisa nem outra. Presumo, contudo, que aqueles que hoje tão acirradamente contestam as instituições onde são profissionais, e alegam falta de pluralismo, pretendem que a Universidade seja palco de discussão ideológica sem qualquer constrangimento que o método científico requer para que o seja.

Pego na citação feita por CCaldas de uma afirmação de Samuelson em 1955:

“In recent years, 90 per cent of American economists have stopped being Keynesian economists" or Anti-Keynesian economists." Instead, they have worked toward a synthesis of whatever is valuable in older economics and in modern theories of income determination. The result might be called neo-classical economics and is accepted, in its broad outlines, by all but about 5 per cent of extreme left-wing and right-wing writers.”

e pergunto-me: Poderia ser diferente?
Não é a economia, como qualquer outra área do conhecimento, um edifício em construção, resultante dos contributos que vão sendo carreados ao longo dos tempos? Em 55 anos alguma coisa consistente foi acrescentada ao edifício, espera-se.

Se as ideologias neo-liberais prevaleceram nas últimas décadas, e sobretudo depois do desmoronamento da experiência do socialismo real, se essas ideologias promoveram a desregulação e a desregulação permitiu o saque, o que é que fomentou o descalabro: a ideologia ou a ciência?
Ninguém, se não for comandado por convicções ideológicas inabaláveis, pode continuar a acreditar no princípio do equilíbrio natural dos mercados. Em 1 de Agosto de 2007 transcrevi aqui uma pergunta de Nouriel Roubini, que citava Minsky, o economista que melhor e de forma mais isenta estudou a obra de Keynes. Nouriel Roubini, nessa altura, e tanto quanto julgo saber, ainda era praticamente ignorado em Portugal:
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Specifically, the crucial macro question that we should ask ourselves today is whether we are at the peak of a Minsky Credit Cycle. Or as the UBS economist George Magnus – an expert of financial instability - put it: “Have we reached a Minsky moment?”
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Há muito tempo que Minsky demonstrou a natural tendência para o desequilíbrio dos mercados financeiros. Quem é que ignorava isso? A Universidade não podia ignorar. Ignoraram aqueles a quem convinha fazer crer que também esses mercados (quais os outros?) tendem para o equilíbrio.
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Evidentemente que os mercados necessitam de regulação. E, sobretudo, precisam de regulação os mercados financeiros onde a lógica de intervenção dos apostadores é, geralmente, a dos jogadores de casino. A começar pela clarificação obrigatória bastante do conteúdo dos produtos transaccionados. E pela não admissão às mesas de jogo daqueles que não têm capacidade nem financeira nem conhecimento suficiente daquilo que se propõem comprar.
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Etc.

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