Sunday, February 07, 2010

CONFESSO QUE DISCORDO

(...) Há provocações que são boas porque, por exemplo, alertam para a raiz dos problemas. Mas também podem ser contraproducentes se forem feitas sem tacto ou consciência de quem são os destinatários. Falo, claro, da ideia de que isto vai lá através da descida dos salários nominais. Para quem tenha paciência, ver este clip, sendo que o tal incómodo vem no fim.
http://195.23.58.155:8080/streamtv/2010/02/WMS_RM_FILTER/28714524.wmv
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Vi e ouvi, com prazer, até ao fim.
Peço a sua paciência para ler porque razão discordo parcialmente do que afirma.
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Não entendo (mas a responsabilidade não é sua) porque é que o tema versava sobre a redução dos salários no sector privado. E, porque não, na função pública?
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Com a entrada no euro (o bode expiatório para as nossas debilidades) tanto a função pública como os monopólios de facto (aqueles cujos preços são regulados ou subvencionados pelo Estado) têm estado a apropriar-se de partes proporcionalmente superiores ao crescimento do rendimento nacional, que, até deve ter decrescido nos últimos anos.
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Ora essa apropriação dos não transaccionáveis (sei que não gosta do nome mas as coisas precisam de um nome) tem sido feita à custa do empobrecimento de grande parte dos não transaccionáveis, aqueles que têm de mostrar o que valem no mercado.
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É por essa razão de sucção de um sector relativamente a outro que o desequilíbrio da balança comercial se agravou irremediavelmente e o endividamento subiu. É por essa mesma razão (económica) que não sabemos sair da ratoeira que em que nos armadilhámos.
Diz o Professor Pedro Lains, se bem entendo as suas palavras, que, estando nós inseridos numa economia aberta, só o mercado pode resolver, com tempo, as nossas dificuldades permitindo passar de uma economia ainda muito dependente de um sector de baixa tecnologia para uma economia high-tec. Entretanto, pedimos ajuda.
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Ora, salvo o devido respeito, é neste ponto que discordo de si.
Porque uma parte substancial da economia portuguesa sai fora das leis do mercado. É o Governo que, administrativamente, fixa os preços e comanda as transferências de produtividade estatística entre sectores. A produtividade global calculada não corresponde à produtividade determinada pelo marcado porque é enviesada pela intervenção administrativa do Estado.
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É o Governo quem, ao aumentar os salários dos funcionários públicos em 2,9% quando o rendimento nacional decresceu, aumentou a produtividade da função pública e reduziu a produtividade dos que não viram os seus salários aumentados ou os perderam porque perderam o emprego.
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O mercado não resolve os efeitos distorcidos da intervenção do Estado na fixação administrativa dos preços (impostos e taxas) que pagamos pelos serviços prestados e pelos preços regulados ou subvencionados ou consentidos, pelo Estado, dos monopólios de facto.
Só o Governo pode distorcer aquilo que distorceu.
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Mas muito lhe agradecia que me dissesse que estou errado.
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comentário para o post Confesso... que não coloquei por o blog de Pedro Lains não estar, por razões que desconheço, a aceitar comentários neste momento.

4 comments:

Anonymous said...

Caro Rui,
Já houve um comentário seu anterior ao qual eu queria ter respondido mas não consegui. Este também é interessante. Um dia respondo. Fica a promessa e obrigado pelo seu interesse.
PL

António said...

Boa tarde.
Permita-me uma achega, que pode transmitir a todos os que lutam por uma melhor produtividade nacional, um melhor desempenho no sector privado e uma substancial economia no sector publico, mas que envergonhadamente coram ante a possibilidade do "quem será o primeiro a dizer isto?"
Começo pelos do sector publico:
Fechar todas as repartições, tribunais, escolas e urinóis publicos, às doze horas de sexta- feira, ou mesmo à quinta-feira às dezoito, já que ir "trabalhar" na sexta de manhã só faz aumentar o consumo de gasóleo. De luz e cafés das máquinas lá instaladas e que nós abastecemos. E água das máquinas da água.
Economiza-se na energia gasta nos computadores, na iluminação, no papel a imprimir mails particulares, no toner, nos tinteiros, nos agrafes, nos clips, nos cafés, na água, no açucar, pappel higiénico e água do autoclismo, dos lavatórios e mais energia dos secadores de mãos e mais papel dos toalhetes e para os mais finos, toalhas de tecido que é preciso mandar lavar, que nós pagamos.mais coisas que gastam muito e agora não me lembro mas que pode englobar o material de escritório que roubam para levar para casa. Até nos post-it's!

Já para aumentar a produtividade do sector privado, podia-se começar por acabar com a semana americana, passar novamente à semana inglesa e posteriormente acaber de vez com o descanso ao sábado.
Após a boa aceitação desse meio de aumento de produtividade, então sim, era de implementar a redução dos salários, pagando semanalmente, já que dessa forma ninguém está trinta dias sem receber, o que ameniza um bocado a coisa. Já não se ouviria dizer que o dinheiro não chega ao fim do mês.
O salário passaria a chamar-se féria.
E por falar em férias, que é isso de tantos dias de férias?
A mim, mais de uma semana já me enche de tédio.
Também era o que devia ser. Uma semanita e pronto.
Se mesmo assim não aumentarem a produtividade à razão do aumento do esbulho dos outros, porrada para cima do lombo!

rui fonseca said...

"porrada para cima do lombo!"

De quem?

António said...

Dos que vão trabalhar ao sábado, ora essa!