Pedro Romano aponta
aqui os dois argumentos a evitar na culpabilização dos gregos
1 – O PIB per capita dos gregos é mais alto do que português.
Anotei há algum tempo já no meu bloco de notas que os gregos não
são hoje mais pobres que os portugueses se compararmos os PIB per capita
em ppc dos respectivos países. E não são, se tivermos em conta os
valores publicados pelas principais instituições internacionais.
É evidente que tendo o
PIB observado na Grécia um tombo de cerca de 25% (cá terá sido de 6% em
período idêntico) o recuo não se fez como os barcos na maré vazia: os
mais pobres recuaram mais, por múltiplas razões que seria fastidioso
repetir, alguns dos mais ricos provavelmente até se aproveitaram do
tombo.
Mas se isto é verdade, também é verdade que os gregos (e não só) têm
um trabalho a realizar: introduzir mecanismos fiscais que reduzam as
desigualdades estatisticamente evidenciadas entre os mais afluentes e os
mais desfavorecidos. Constitucionalmente, os armadores e a
Igreja Ortodoxa, o maior proprietário grego, estão isentos de impostos.
Ora, a este propósito, o que a mim me surpreende é o coro de
lamentações que por aí vai acerca da pobreza grega como se não
existisse, e cada vez mais evidente, pobreza em Portugal.
2 – A recessão grega foi enorme porque a Grécia não cumpriu o Memorando de Entendimento, ao contrário de Portugal e Irlanda.
Os gregos terão feito, segundo PR, até agora um ajustamento superior ao de qualquer outro país da zona euro.
Considero desde o começo das
intervenções da troica, cá e lá, que era no mínimo absurdo que os
programas, ditos de estabilização, obrigassem os que tinham sido
empanturrados com crédito fácil a regurgitá-lo em três
ou quatro anos.
E daqui passo, de forma sucinta, a um terceiro ponto por minha conta:
Quem emprestou inicialmente os fundos? Os bancos.
Quem tinha conhecimento dos níveis de endividamento atingidos? Os bancos
Quem deveria ter analisado o risco dos empréstimos concedidos? Os bancos
Quem embolsou os rendimentos astronómicos dos contratos de empréstimos concedidos? Os banqueiros.
Estava tudo a dar certo, inclusivé do ponto de vista dos devedores,
quando os banqueiros disseram, acabou o jogo, mandem entrar os
políticos.
E os políticos entraram e começou a guerra entre os povos do norte e os povos do sul.
Foi nesta perversa passagem de responsabilidades dos banqueiros para os
políticos que o sistema claudicou e não se vê como possa recompor-se.
Às discussões entre devedores e credores, públicos e privados, não
deveriam ser chamados os políticos para castigo dos contribuintes. Quem
deveria estar a negociar com o sr. Yanis Varoufakis não deveria ser o
sr. Schäuble mas os banqueiros que, inicialmente, irresponsavelmente
inundaram a Grécia, e não só. Perante vinte ou trinta banqueiros, o sr.
Varoufakis ou alguém por ele, teria uma capacidade de negociação,
legítima e reforçada, muito maior. Se os banqueiros soubessem que seria
assim, nem a Grécia (e Portugal, e a Espanha, e etc.) estariam hoje
metidos nos buracos em que se encontram.
Há uns anos atrás, o sr. Bern Bernanke afirmava numa entrevista da
Time (que o considerou personalidade do ano) que o maior problema com
que, no campo financeiro, os EUA se confrontavam era o “too big to
fail”, o “moral hazard” que infecta todo o sistema.
Sem que ninguém, apesar da crise, queira e consiga vaciná-lo. Ou sequer falar mais nisso.