Saturday, January 12, 2013

LÁ VAI BARÃO! *


Repito-me. O assunto não é novo, a notícia de hoje do Expresso apenas actualiza a sua dimensão, e resume-se facilmente: os gestores dos Metropolitanos de Lisboa e Porto tomaram a irresponsável decisão de realizar contratos de cobertura de riscos de subida de taxas da euribor em empréstimos externos daquelas duas empresas públicas. Há outros casos semelhantes mas estes dois são os mais relevantes. Como a euribor desceu, e não subiu como previram os bruxos-gestores, e, nestes casos, as taxas contratadas sobem com o tempo decorrido,  as perdas já vão em 3000 milhões de euros. Podem as taxas subir no futuro?

Pois podem. Mas não deveriam os gestores públicos ser autorizados a subscrever contratos que se sustentem em previsões de evolução de taxas de juro ou de câmbios a longo prazo. O risco assumido em nome da República não deveria nunca ser delegado pelo Instituto incumbido pela gestão da dívida pública. Se há funções que devem ser centralizadas, porque só desse modo podem ser minimizados os riscos globais dos contribuintes, a gestão de riscos financeiros é indiscutivelmente uma delas. Ninguém tem o condão de adivinhar os caprichos dos mercados financeiros e os senhores gestores das empresas públicas muitas vezes nem sequer percebem da poda fundamental que os incumbiram: gerir eficientemente os meios materiais e humanos dessas organizações, sem independência financeira se elas não forem estruturalmente financeiramente auto suficientes.De outro modo, não acabarão nunca os buracos nem os buracos deixarão de alargar-se, sempre, evidentemente, por conta dos contribuintes e a inimputabilidade dos culpados.

Contadas as perdas certas e as contigentes resultantes da nacionalização do buraco sem fundo à vista que se chamou BPN, das recapitalizações em vias de nacionalizações do Banif e do BCP, dos fundos perdidos na Caixa, nos avales prestados em empréstimos contraídos pelos mesmos sorvedouros, os prejuízos imparáveis das empresas públicas, sobretudo mas não só, de transportes, alguns dos quais não estão ainda reconhecidos no défice nem na dívida pública, é, no mínimo, revoltante, que na procura de meios que cubram os famigerados 4,4 mil milhões da ordem do dia se ignore esta carga, que os excede várias vezes, como se fosse uma fatalidade sem remédio.
 ---
* Modificado.
"Lá vai barão!" era uma expressão brasileira satirizada por Jô Soares nos anos 80 do século passado, e significava esbanjamento dos dinheiros públicos. Nas notas de 1000 cruzeiros, rapidamente desvalorizados pela inflação galopante, figurava a esfígie do barão do Rio Branco.

3 comments:

Anonymous said...

La vai barão!
Porque e que estas empresas publicas não são privatizadas se não tem valor podiam ser oferecidas dou exemplos na venda na EDP tinham oferecido o Metro, na REN tinham incluído a Cp, na Ana a Carris.
Trocar por miúdos o que e bom e ficar com o lixo tem destas coisas e depois os amigos nomeados para as administrações , são sempre escolhas cujo perfil e a incompetência ( mais um para a CP, este esteve no jornal I, foi corrido e agora entra na CP )
No próximo dia 3 de marco vamos estar na rua em Lisboa e no Porto para dizer basta!
Porque e que os administradores destas empresas não são responsabilizados?
Para que e que servem os tribunais ?
Onde e que vamos parar?

Para que servem os tribunais?

rui fonseca said...

"Para que servem os tribunais?"

NO caso do BPN, se servem para alguma coisa, não se tem visto.

Francisco Silva said...

Os conteúdos tratados neste blog são sempre tratados de excelência, sou um viajante neste mundo e tenho dificuldades em os comentar porque não encontro motivos para rebater.