Caro E.,
Pelo título se subentende que o objectivo do colunista não é tanto a defesa do documento mas cascar na ronha do PS. Porque não sou partidário* ocorre-me sempre a tendência para olhar para o outro lado dos convencimentos dos outros. Começa por afirmar o articulista que "é fácil fugir à discussão quando os cálculos e os interessses eleitorais recomendam uma atitude mais proveitosa a prazo."
E condena o PS por se limitar a críticas circunstanciais sem apresentar alternativas credíveis.
Ora isto não é um argumento novo, é um disco riscado. Há anos que andamos a ouvi-lo. Sai um governo, entra outro, e a música, com mais ou menos sustenidos, é a mesma. O senhor César das Neves garante que o senhor "Passos Coelho é tão corajoso como Soares e Salazar" mas usa uma bitola elástica e confunde coragem com auto suficiência. Se o senhor Seguro sobe nas sondagens, e se arrisca a ganhar as municipais por larga margem, não ficará a dever o feito não inédito à coragem do senhor Passos Coelho mas à auto suficiência deste, que permite ao senhor Seguro criticar e manter-se ao largo. Em matéria de coragem, a auto suficiência do senhor Passos Coelho é idêntica à do senhor Sócrates, e a do senhor Seguro é insufiente.
Se assistimos a uma recorrente judicialização da decisão política, e consequente desvalorização da democracia, a culpa de quem é?** Nos EUA continua a guerra entre democratas e republicanos a propósito do consentimento do crescimento da dívida (debt ceiling), o governo federal corre o risco de entrar em ruptura de pagamentos ou lançar a economia numa recessão pavorosa em consequência de um abrupto redução de rendimentos por aumento dos impostos (fiscal cliff) mas a ninguém ocorre recorrer ao Tribunal Constitucional para resolver o imbróglio. A propósito: Para contornar a obstinação dos republicanos ocorreu a alguns democratas (Krugman tem-se batido pela ideia) a cunhagem de 1 trilião de dólares em moedas de platina. Não vai adiante porque os próprios democratas rejeitam a alternativa e pretendem obrigar os republicanos a confrontarem-se com as eventuais consequências das suas posições. Nós ainda temos ouro, disse o PR na entrevista do Expresso. Por que é que ninguém fala disso?
Em Portugal, o senhor Passos Coelho sabia que algumas das suas propostas estavam longe de ser pacíficas, mesmo entre os seus partidários, e avançou contra tudo e contra todos, incluindo o Presidente da República, que, aliás, também não assumiu posição política e preferiu endossar o embrulho para o TC. Isto é coragem? É a política que temos.
Quanto ao parecer dos técnicos do FMI, quem é que tem dúvidas hoje que foi propositadamente divulgado para confrontar o TC com os riscos da sua decisão? A coragem do senhor Passos Coelho é a coragem do endosso. Entre redefenir as funções do Estado e reduzir indiscriminadamente as despesas do Estado, o primeiro-ministro continua a querer adoptar esta última via, porque é mais fácil. Entre chamar a oposição e discutir com ela fora da praça pública, obrigando-a a assumir as suas responsabilidades,continua a preferir a exibição mediática das sessões do plenário da AR transmitidas pelos canais de televisão.
----E condena o PS por se limitar a críticas circunstanciais sem apresentar alternativas credíveis.
Ora isto não é um argumento novo, é um disco riscado. Há anos que andamos a ouvi-lo. Sai um governo, entra outro, e a música, com mais ou menos sustenidos, é a mesma. O senhor César das Neves garante que o senhor "Passos Coelho é tão corajoso como Soares e Salazar" mas usa uma bitola elástica e confunde coragem com auto suficiência. Se o senhor Seguro sobe nas sondagens, e se arrisca a ganhar as municipais por larga margem, não ficará a dever o feito não inédito à coragem do senhor Passos Coelho mas à auto suficiência deste, que permite ao senhor Seguro criticar e manter-se ao largo. Em matéria de coragem, a auto suficiência do senhor Passos Coelho é idêntica à do senhor Sócrates, e a do senhor Seguro é insufiente.
Se assistimos a uma recorrente judicialização da decisão política, e consequente desvalorização da democracia, a culpa de quem é?** Nos EUA continua a guerra entre democratas e republicanos a propósito do consentimento do crescimento da dívida (debt ceiling), o governo federal corre o risco de entrar em ruptura de pagamentos ou lançar a economia numa recessão pavorosa em consequência de um abrupto redução de rendimentos por aumento dos impostos (fiscal cliff) mas a ninguém ocorre recorrer ao Tribunal Constitucional para resolver o imbróglio. A propósito: Para contornar a obstinação dos republicanos ocorreu a alguns democratas (Krugman tem-se batido pela ideia) a cunhagem de 1 trilião de dólares em moedas de platina. Não vai adiante porque os próprios democratas rejeitam a alternativa e pretendem obrigar os republicanos a confrontarem-se com as eventuais consequências das suas posições. Nós ainda temos ouro, disse o PR na entrevista do Expresso. Por que é que ninguém fala disso?
Em Portugal, o senhor Passos Coelho sabia que algumas das suas propostas estavam longe de ser pacíficas, mesmo entre os seus partidários, e avançou contra tudo e contra todos, incluindo o Presidente da República, que, aliás, também não assumiu posição política e preferiu endossar o embrulho para o TC. Isto é coragem? É a política que temos.
Quanto ao parecer dos técnicos do FMI, quem é que tem dúvidas hoje que foi propositadamente divulgado para confrontar o TC com os riscos da sua decisão? A coragem do senhor Passos Coelho é a coragem do endosso. Entre redefenir as funções do Estado e reduzir indiscriminadamente as despesas do Estado, o primeiro-ministro continua a querer adoptar esta última via, porque é mais fácil. Entre chamar a oposição e discutir com ela fora da praça pública, obrigando-a a assumir as suas responsabilidades,continua a preferir a exibição mediática das sessões do plenário da AR transmitidas pelos canais de televisão.
"Enfim, cada um o que quer aprova, o senhor sabe: pão ou pães, é questão de opiniães... O sertão
está em toda parte". (Grande Sertão: Veredas)
------------ Correl. - Um mau passo
* Nem do Sporting. O que não me garante que não seja
compulsivamente chamado a contribuir para lhe pagar as dívidas.
** Um pândego, que dá pelo nome de Raposo
e é colunista com banca garantida no Expresso,
colunizou nas suas duas últimas redacções
contra o pagamento de reformas e a favor do recurso
para o TEDH se o TC julgar inconstitucional alguns items do OE 2013.
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