Friday, January 11, 2013

E, OS JUROS, NÃO CONTAM?

"...Educação, saúde, protecção social, salário dos funcionários, pensões, justiça, segurança, vêm sendo parcialmente assegurados pelos financiamentos da Troyca..." - aqui
E os juros também, não?

Caro António,

Grande parte do diagnóstico dos técnicos autores do parecer está correcto e, na sua grande maioria até nem constitui novidade. Antes pelo contrário, se muitas das situações criticadas ainda persistem não é por não terem sido há muito diagnosticadas.

Grande parte das suas propostas são pertinentes, algumas estarão menos bem ou até erradamente fundamentadas, mas o documento poderia ser uma boa base de discussão em sede própria entre o Governo e a oposição, na altura governo, que subscreveu o memorando com a troica. E digo, poderia ser, porque, pelo andar da carruagem, muito provavelmente não vai ser. Os políticos portugueses velam mais pela protecção das suas posições partidárias que pelos interesses do país.

Mas, voltando aos juros, percebo mal que os técnicos não tenham registado aquilo que até a directora-geral do FMI, Christine Lagarde tem dito e reafirmado. Por exemplo aqui - Lagarde calls for caution on austerity.
Os juros contam e contam demais nas contas que nos esmagam.
O endividamento da República, das empresas e das famílias foi importado e distribuido sem rei nem roque. E, de repente, pretendem que os endividados regurgitem o que lhes deram a engolir, num ápice.

Não regurgitam, sobretudo se ao mesmo tempo lhe enfraquecem os abdominais. Se a despesa pública é restringida em fase deprimida do ciclo, é aritmética a dedução que a despesa relativamente ao PIB, por efeito dos juros que se vencem, não parará de crescer.

Que a troica queira ignorar isto, percebe-se mal, mas percebe-se. Que nos queira convencer que os juros não contam ... são contas que eu não sei contar.

6 comments:

Antonio Janeiro said...

Se o dinheiro que vem da tronca e para pagar pensões , vencimentos e outras despesas sociais e então de onde e que vem o dinheiro para entrar no BPN, no Finibanco, nos consultores e toda aquela rapaziada que anda pelos corredores do governo ?
Quanto e que foi gasto com o estudo do FMI, quanto e que os da troyca levam pelas visitas que fazem ao Gaspar, juros etc?
Enquanto não houver alterações de políticas para colocar a
economia a crescer não há medidas que cheguem para tapar o buraco e vamos andando até não sobrar nada , vamos todos cair e a partir da miséria ....depois alguém há - de colocar pedra sobre pedra e aí vão ser utilizados alguns na reconstrução e começa a aparecer o emprego mas até lá muitos vão ficar pelo caminho!
O Passos e um louco, o Gaspar um fanático e Relvas o chico esperto que vai fazendo a ponte para amanha dar o salto para se juntar aos seus amigos no Brasil ou em Angola.

rui fonseca said...


É realmente chocante que também nem uma linha seja dedicada à recapitalização, leia-se nacionalização encapotada, de alguns bancos e à gritante falta de justiça no caso do BPN, e não só.

Nada a apontar à banca que endividou alegramente o país? Só por conivência corporativa.

Anonymous said...

Alias a fatia da despesa que mais tem crescido e a que mais tem desiquilibrado as contas do estado é a referente á divida e aos juros inerentes. Não é preciso ser economista para saber que as condições a que está sujeita a divida nas condições em que o País se encontra e se tem tornado não são exiquiveis. Portanto de que estão à espera os senhores do FMI para fazer um estudo adequado e sério sobreo estado? A pergunta não é onde cortar no Estado mas sim o que devo fazer para assegurar as funções do Estado. Os governos têm a obrigação de cumprir determinadas funções tendo em vista o equilibrio social do País fazendo a redistribuição da riqueza. Querer reduzir ao minimo as funções do estado é negar o próprio estado. Basear o estudo em permissas desatualizadas e escassas pressupõe que este é um estudo feito à medida e para alfaites já temos os suficientes Pedir o estudo a uma entidade que recentemente fez mea culpa por ter errado previsões das suas medidas é no minimo criminoso pois demonstraram que não têm credibilidade suficiente para uma tarefa com repercursões na vida de um povo.

Anonymous said...

exequíveis

Pinho Cardão said...

Caro Rui:
Concordo com quase tudo do que dizes. Todavia, não percebo bem a tua alusão aos juros.
De facto, e este é um dado objectivo, os juros da dívida portuguesa tiveram sistematicamente um spread minimizável em relação aos juros da dívida alemã, excepto no que se refer ao período que antecedeu o pedido de apoio. Portanto, e até aí, juros baixos. Com o programa de apoio, os juros baixos são, na medida em que a taxa é afectada de um ligeiro spread em relação ao preço da tomada de fundos no mercado pelo Mecanismo de de Apoio, que tem o rating mais elevado do mercado.
Do que resulta que a taxa média dos juros da dívida portuguesa é relativamente baixa. Não é aí que está o problema.
Sei que as comparações são por vezes inadequadas, mas não hesito em fazer uma comparação com o que se passa nas empresas. Para que uma reestruturação financeira se torna lógica e pertinente é necessário que a empresa seja economicamente viável. Sem viabilidade económica, perdão de dívida ou baixa de juros não alteram a situação da empresa, vai-se degradando sucessivamente.
Assim acontece com os países. Primeiro, o país tem que encontrar o caminho de gerar superavit orçamental, antes de encargos financeiros. Depois, se verá o que fazer com estes. Andar ao contrário é pura ilusão.

rui fonseca said...

Caro António,

Obrigado pelo teu comentário.

Admitamos que os juros debitados pela troica não são elevados. Ainda que o "funding" das operações que os suportam sejam feitas a valores consideravelmente mais baixos, negativos num ou outro caso, até. E o "yield" da dívida da República está nos 4,94%.

Mas o problema não é sobretudo esse. O que torna impossível a redução da dívida para niveis suportáveis pela República é o nivel a que a deixaram chegar num contexto recessivo que não permite inverter-lhe a tendência.

Mesmo as privatizações daquilo que gerou alguma receita (EDP, REN, ANA ... e foi-se quase tudo o que valia alguma coisa. Sobra a CGD!)
não deu para lhe dar a volta. Os juros sobem mais que as reduções feitas.

Ignorar isto, pode ter outro objectivo, mas escamoteia esta realidade.

Recentente, foi notícia o sucesso de emissões, hipotecária da CGD da CGD (750 milhões 5,75% a 5 anos) e do BES (500 milhões 4,75% a 5 anos). Mas a quem emprestam a Caixa e o BES estes fundos e a que taxas? O sucesso das operações feitas pelo Tesouro está por explicar. Por enquanto.