Na entrevista do Expresso, afirma o Presidente da República "Agora as privatizações são resultado da dinâmica insustentável da dívida externa, são consequência de um programa de ajustamento negociado com a troika, com o objectivo de reduzir a pressão dessas empresas públicas sobre o orçamento e de obter recursos para diminuir a dívida pública. É a força das circunstâncias que leva a este novo ciclo de privatizações." E isso preocupa-o? Quando um país tem grandes desequilibrios externos, quais são as alternativas? Pedir empréstimos? Já não podemos. Vender ouro? Ainda temos algum..."
Vender o ouro. Por que não? Venho apontado recorrentemente esta questão neste bloco de notas há muito tempo. Estranhamente, a ausência de abordagem do assunto persiste apesar do PR o ter deixado em suspenso na resposta que deu. E que, suponho, ninguém lhe pegou.
Curiosamente, ontem e hoje, a questão mais discutida entre economistas nos EUA é uma ideia que pode resolver a contenda, suspensa por dois meses, entre democratas e republicanos sobre o aumento do nível da dívida pública, como pretende Obama, ou a redução da despesa pública, reclamada pela oposição, que, incontornavelmente determinará uma recessão acentuada nos EUA com reflexos imparáveis na economia mundial.
Que ideia é essa? Cunhar um trilião em moedas. Não aumenta o défice nem terá impacto sobre o nível dos preços e, ouro sobre azul, é legal e não carece de autorização do Senado e do Congresso. Quem quiser saber como é que a ideia luminosa pode funcionar comece por aqui e explore os links que vão remetendo uns autores para outros.
E, em Portugal? Por que não se amoeda o ouro que resta? Com a crise de confiança que paira pela Europa em geral e, hiper agravada em Portugal, os ourinhos vender-se-iam melhor que pãezinhos quentes, não? Sempre que coloco esta questão a alguém que suponho com conhecimentos suficientes do assunto para dar umas para a caixa, ouço as mesmas respostas: "não resolvia o problema da dívida" - mas falamos de cerca de 16 mil milhões de euros!, muito mais do que pode valer o que falta privatizar - "teria um impacto sociológico negativo tremendo" - mas a cunhagem permitiria aos portugueses investir no que é seu, e à medida das suas possibilidades, num activo seguro.
Talvez Krugman, doutorado honoris causa no mesmo dia por três universidades portuguesas, devesse ser consultado. Se o PR não estiver mal informado e o ouro não tiver já sido derretido num buraco desconhecido, perto de si.
6 comments:
Acerca do ouro que ainda se acha armazenado nos cofres do BdP, sou ha muito, da opinião que o caro Rui aqui deixa expressa.
Ainda recentemente voltei a tocar nesse assunto colocando a pergunta directamente ao Dr. Tavares Moreira, lá no "Quarta". Não obtive resposta, evidentemente. E como imaginei que não a obteria, antecipei uma resposta: aquele ouro tem uma origem demoníaca, o seu peso equivale a milhares de vidas humanas, extreminadas, expropriadas, violadas e presas pelos exércitos nazis de Hitler.
Seria agora um tanto imoral (no mínimo) trocar esse ouro, por dívida, com os mesmos que a última coisa que pretendem é voltar a possuí-lo.
Então, coloca-se nova questão, embrulhada numa ambiguidade sem limites e que hoje, pode considerar-se fruto da imparcialidade portuguesa durante a segunda guerra mundial; temos uma dívida; temos com que paga-la se não na totalidade, pelo menos em boa parte; os nossos credores não aceitam o nosso ouro. E o ouro é nosso, mas serviu para pagar o volfrâmio que era utilizado para matar os povos a quem esse ouro foi roubado.
Mas que grande trapalhada.
É mais ou menos como termos uma mulher excepcionalmente atractiva, mas não podermos ter sexo com ela porque foi casada com um tipo que já morreu e com quem ela mantém uma paixão psicológica.
;)))
É interessante a sua observação.
Mas não penso que a razão da não utilização do ouro seja a que diz. Se fosse, há muito tempo que a guerra teria sido erradicada da terra, porque a venda de armas e munições é um negócio global imparável.
Aliás, há uns tempos atrás, a proposta de venda do ouro português saiu na imprensa alemã.
Tê-me referido que o BCE não autoriza a venda (o que é estranho porque nenhum outro membro da UE tem uma relação tão elevada de reservas de ouro por habitante)ou que uma venda de uma quantidade significativa baixaria muito o valor no mercado, daí resultando um valor esmagado para o vendedor.
Ora, nestas condições, se o ouro ainda existe, como se depreende do discurso do PR, a sua amoedação permitiria oferecer aos portugueses
a possibilidade de um investimento seguro sem intervir significativamente com as cotações do mercado.
Há uns anos atrás, Cadilhe propõs a venda do ouro para pagar a indemnização dos funcionários redundantes do Estado. Seria, essa sim, uma redução estrutural do défice, mas depois calou-se. Porquê, não sei.
Alguém saberá?
É. Um mistério indecifrável.
Contudo, do meu ponto de vista, mantenho, a principal questão prende-se com a origem desse ouro e o que foi pago com ele. Não sei se a Alemanha teme que ao mexer-se nesse ouro se possa estar a fazer sangrar, uma ferida que ainda não fechou.
Ainda por cima, os conflitos entre Israelitas e Sirios mantem-se.
A questão da viabilidade da troca de ouro por dívida situa-se ao mesmo nível da compra de dívida pelo BCE. O ouro do BdP não é pertença do estado português e aquele está impedido estatutariamente de financiar o estado. E a emissão de moeda continua a ser monopólio do BCE.
Só me admira é como o presidente, conhecendo bem estas limitações, vem referir essa hipótese.
Quanto a consultar o Krugman, está à vista que o governo prefere consultar quem leia pela mesma cartilha e foi bater à porta do FMI que agora entregou o relatório escrevendo preto no branco aqulo que o governo quer fazer e não tem coragem para anunciar.
Vamos esperar pelas cenas dos próximos capítulos.
Abrç
L
"O ouro do BdP não é pertença do estado português"
Essa é boa!
Onde é que ouviste ou leste isso?
Se nos roubaram não nos avisaram.
Nem sequer o PR!!!!!!
Abç
A única coisa que conheço escrito é a proibição estatutária de o BdP fazer empréstimos ao Estado ou mesmo dar garantias (art.º 18).
Com esta restrição, como é que a venda ouro, fazendo parte dos activos do banco, pode reduzir a dívida do Estado?
Abraço
L
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