Tuesday, January 22, 2013

CAPITALISMO POPULAR

Esteve na moda há uns anos atrás. Algum tempo depois, revelou-se um logro que afugentou a galinha dos ovinhos de ouro. Mas só afugentou, não matou de vez, porque mais tarde ou mais cedo, só não se sabe quando, a falta de memória dos homens acabará por ceder à tentação de engordar a galinha outra vez. Naquela altura em que o eldorado parecia ter-se instalado num país de pobres, remediados e alguns poucos com olho de rei, as emissões de subscrição pública de capital caíam como maná à mão de semear dos que tinham uns cobres poupados ao canto da gaveta.
 
Várias vezes me telefonaram do banco sugerindo-me a participação nesta ou naquela subscrição, coisa garantida, resultado mais que assegurado, nos últimos tempos as acções tinham subido em flecha. Avesso a aceitar que a roda da sorte seja um meio tão válido como qualquer outro para aumentar rendimentos, só muito raramente, e sempre para não rejeitar a participação num daqueles grupos ocasionais, dispendi dinheiro na compra de lotaria ou qualquer outra arte afim. Naturalmente, nunca ganhei. Pelas mesmas razões, nunca me atrairam os negócios da bolsa. Mas cedi algumas vezes às sugestões de subscrição de emissões de capital que geralmente redundavam na atribuição de poucas dezenas de títulos em resultado de rateios geralmente apertados. Como, nestes casos, a minha propensão  para vender foi sempre tão baixa como a de comprar, ainda hoje tenho em carteira (!) 74 acções da Soaecom, em resultado de aumentos por incorporções de resultados sobre as 50 que inicialmente paguei ao preço de emissão de 10 euros, representando um investimento de 500 euros, há doze anos.  
 
Hoje foi oficialmente anunciada a fusão da Sonaecom com a Zon, estando as acções da Sonaecom a transaccionar a 1,537. Quer isto dizer que, na melhor das hipóteses, o meu investimento de 500 euros, há doze anos, valerá hoje aproximadamente 114 euros, ou seja menos de 1/4 do valor investido. Culpa da crise? De modo algum. Se há negócios que visivelmente têm crescido neste país um deles é indubitavelmente o das telecomunicações. Aliàs, logo a seguir à emissão, as cotações da Sonaecom cairam para cerca de um terço do preço a que foram emitidas e, desde, então nunca recuperaram.
O logro, neste como em muitos outros casos idênticos, perpretado pelo emitente, foi incubado pelo sindicato bancário que colocou a emissão, com a benção conivente da Comissão de Mercado de Valores. Se o accionista Belmiro de Azevedo & Companhia tivesse perdido, proporcionalmente, o mesmo que aqueles a quem ele vendeu gato por lebre, há muito tempo que teria encerrado a tenda.

No capitalismo popular só perde o popular.

1 comment:

Luis Moreira said...

Tente amanhã :http://bandalargablogue.blogs.sapo.pt/122838.html