As actas dos conselhos da Reserva Federal dos Estados Unidos são públicas cinco anos após a sua realização. Por elas foram conhecidos a partir de ontem os processos de decisão subsequentes às intervenções dos membros do "board" e, principalmente do Chairman Ben Bernanke, durante o ano de 2007, um antes de deflagrar a crise "subprime" . O relato é esclarecedor da distância a que se encontrava a percepção de cada um dos intervenientes da dimensão e evolução da crise em gestação. E, salvo um caso ou outro, percebe-se hoje que a grande maioria, incluindo Bern Bernanke, subvalorizou até muito tarde a ameaça latente. Janet Yellen, nº 2 da Fed, e provável sucessor de Bernanke em Janeiro de 2014, foi quem, quase isoladamente, alertou para as consequências do sobre aquecimento que se observava no mercado da habitação. Geithner, que veio a ser nomeado por Obama Secretário do Tesouro em 2008, afirmava em Janeiro de 2007 que era relativamente pequena a percentagem de créditos hipotecários "subprime" e negligenciáveis os seus efeitos.
A esta distância, contudo, o que parece mais estranho a um observador não iniciado nas intervenções com que os responsáveis dos bancos centrais governam o sistema financeiro mundial é a fina atenção com que vigiam e manobram as taxas de juro e descuram as consequências das inovações com que os banqueiros corroem o sistema em altíssimo proveito próprio e constroem as crises que derrubam as economias. Experimentadíssimos em tocar as oscilações das taxas de juro, ignoram, por razões de fé nos reguladores automáticos dos mercados, que provadamente não funcionam como um relógio suíço, as forcas caudinas que lhes baralham os cálculos.
"Em Dezembro (2007),a economia norte-americana já se encontrava em recessão, confirmada pelo National Bureau of Economic Research. Por essa altura, considerava a Fed reduzir em meio ponto percentual a sua taxa de juro de referência ... O senhor Bernanke, que disse preferir uma intervenção mais agressiva, acabou por escolher uma redução mais moderada de um quarto de ponto percentual"
"Em Dezembro de 2008, a Fed colocou as taxas de juro de curto prazo próximas de zero, onde ainda se encontram, inundou o mercado com créditos de emergência e avançou com programas de compra de obrigações hipotecárias ..."
E nenhuma referência à arquitectura de um sistema que, ao consentir a coabitação da banca de depósitos com a especulação financeira, suscita incontornavelmente a tentação permanente do aproveitamento perverso das oportunidades que a situação legalmente lhes faculta. Cinco anos depois, tudo continua praticamente na mesma incubando a próxima crise.
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