Sunday, March 11, 2012

PRODEC DA ARQUITECTURA

O A. comprou há alguns tempos um monte alentejano, e já reconstruiu a casa principal e a dos caseiros, um simpático casal septuagenário, que lhe cuida e vigia a propriedade. Fomos até lá pela segunda vez, este fim-de-semana. A caminho do monte, alguns quilómetros antes de chegar a Beja, surpreendeu-nos pela positiva o crescimento de área de olival relativamente à imagem que tínhamos retido da viagem dois ou três anos antes. A mancha de verde azeitona está bem longe de impressionar quem conheça os horizontes sem fim de olival instalados na Andaluzia, mas é motivante para um espraiar de vista sobre uma paisagem viva. 

Subitamente, à beira da estrada, choca-nos a sensibilidade mobilizada pelos olivais em formatura, um edifício grotesco que, vim a saber agora, é o Lagar do Marmelo, da Sovena, desenhado pelo arquitecto Ricardo Back Gordon, inaugurado em 2010, co-financiado pelo PRODEM, é o maior lagar de azeite do país e custou 9 milhões de euros.

Ao jantar, puxei a conversa para o olival. Para o senhor Jerónimo, o caseiro, quase tudo o que a nossa vista alcançou foi investido por espanhóis. Apesar da força da presença do edifício do Lagar do Marmelo, o senhor Jerónimo não se tinha dado ainda conta que, pelo menos, aquele olival à volta  é da Sovena, uma empresa portuguesa. Como o olival ali instalado adoptou as práticas de produção oliveícola introduzidas no Alentejo por produtores espanhóis, presumo que, para ele,  tudo o que é olival basto e rasteiro é espanhol.

Nem tudo. Contudo, apesar dos progressos feitos nos últimos anos, Portugal ainda é, para vergonha nossa, importador de azeite. Pergunta-se: Porquê?
Se de um lado da estrada brilham os olivais como um jardim por que é que do outro a planície continua estéril? Por que é que italianos, espanhóis, gregos, e outros mediterrânicos exportam azeite para todo o mundo e nós continuamos a importar?

O "Lagar do Marmelo" será porventura um achado arquitectónico e um orgulho da Sovena.
Mas é sintomático que aquilo que embebedou os portugueses durante tantos anos, a construção civil, mesmo numa paisagem produtiva agricola não se dispensou de se chegar à estrada e, mais do que querer-se afirmar-se o que não é,  um investimento imprescindível, não dispensou das pretensões a ser "prémio internacional de arquitectura". Não foi.

Mas se tivesse sido, não teria acrescentado nada à quantidade e à quantidade do azeite produzido lá dentro.


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3 comments:

Anonymous said...

De acordo com as estatisticas e as publicações da Confagri a balança comercial relativa a azeite , do País, é excedentaria desde 2010inclusive.
Quanto a espanhois , italianos e gregos exportarem pode acrescentar Portugal cujas exportações em alguns países asseguram um lugar cimeiro

rui fonseca said...

Fico naturalmente satisfeito com a sua informação.

Agora temos de passar a produzir para exportar.

Parece que o azeite produzido em Portugal é de óptima qualidade.

Mas não o vimos por lá por fora, a não ser numa ou noutra loja de produtos portugueses em locais para onde muitos emigraram.

Os olivais, como digo na nota, impressionaram-me favoravelmente.

Já a arquitectura exterior do Lagar pareceu-me uma coisa completamente deslocada e desmesurada.

Anonymous said...

Portugal exporta e nos PALOP tem. em quase todos uma quota de mercado importante.
Quanto ao lagar concordo.