Wednesday, March 21, 2012

AS VOLTAS QUE O MOSTRENGO DÁ

A Comissão Europeia considera que a falência do BPN seria menos onerosa para o Estado português, isto é, para os contribuintes portugueses, do que a venda ao BIC. Vd  aqui.

Um documento da Comissão Europeia põe em causa a operação de reprivatização do BPN, e entende que "é incontestável" que a venda é feita a um valor negativo "e que terá havido" um auxílio ao adquirente , o BIC.

E, então em que ficamos? A Comissão opõe-se, a venda não é consentida e segue-se a falência, ou a Comissão diz mas, agora, seria melhor que estivesse calada? Ficamos sem saber, mas suspeito que, depois do que já se sabe, a anulação da venda é impraticável. A Comissão parece comportar-se neste caso como o tribunal eunuco presidido pelo honorável doutor Oliveira Martins: acorda tarde, boceja, e convive.

Acerca do BPN já coloquei neste bloco de notas mais de uma centena de apontamentos. Quem estiver interessado basta clicar no etiqueta "BPN", que está a seguir a mais este comentário, para as consultar.
Desde há muito tempo que me espanta como é que um mostrengo cuja marca é uma infâmia continua de porta aberta. Desde há muito tempo que não percebo como é que um banco falido continua a operar. Desde há muito tempo que me interrogo quem é que ainda é cliente do BPN.

Há dias o meu amigo CM dizia-me: Eu sou. E sou porque os tipos dão-me um juro sobre os depósitos à ordem. Como eu tenho um fluxo razoável de receitas, a grande maioria das quais consignadas a pagamentos inadiáveis no fim de cada mês, não posso fazer depósitos a prazo mas o BPN garante-me o que nenhum otro banco me garante: uma remuneração nos DO. E depois, como sabes, aquilo agora é do Estado. É como se fosse a Caixa.

Calei-me. O meu amigo não é parvo, eu é que, sem querer, sou. Porque, ao continuar a conceder condições superiores aos outros bancos, como sempre fez, aliás, daí a razão de parte da ruína, os prejuízos decorrentes dessa política são os contribuintes que têm de os pagar.

O BPN é o maior escândalo financeiro da história portuguesa. Não é caso único mas, tanto quanto se sabe por enquanto, trata-se de uma fraude que equivalerá a, pelo menos, 4% do PIB. Qualquer coisa equivalente ao valor da recessão de 2012.

Qual era a dimensão do buraco na altura da nacionalização? Quanto é agora? Quatro vezes mais? A diferença deve-se inteirinha à incompetência de quem decidiu manter o mostrengo de bocarra aberta e entregar a sua guarda à incompetência inimputável dos caixeiros (por caixeiros, entenda-se, os gestores públicos da CGD).

Há quase um ano, o compromisso assinado com a troica determinava que o mostrengo fosse vendido até Julho do ano passado. Ou, se isso não fosse exequível, que fosse extinto. Passado todo este tempo, nem foi extinto nem a venda consumada, vem a Comissão dizer que a venda em curso (não sei que outro termo mais adequado se possa empregar) é mais um acto para aumentar a profundidade espantosa do escândalo.

Entretanto, o caso do mostrengo vai ser, mais uma vez, sujeito a inquérito parlamentar. Para nada.

No fim de tudo isto, só uma cois é certa: o contribuinte paga.  

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