Há dias, o presidente da Comissão Executiva do BPI, defendia a privatização de 30% da CGD, juntando a essa defesa vários argumentos: além de outros, o Estado continuaria maioritário, em Espanha está a ser essa a política seguida, a entrada de accionistas privados resolveria o problema de recapitalização da Caixa.
A esquerda, por razões ideológicas irredutíveis denunciou logo as intenções da manobra de Ulrich, os outros banqueiros ou não se pronunciaram-se ou pronunciaram-se contra. A não privatização da Caixa é pois um dos raros casos em que banqueiros e o pessoal de esquerda se colocam do mesmo lado.
Como, de vez em quando, costumo vaguear pela blogosfera deparei aqui, como era previsível, com a esperada crítica cerrada à hipótese de privatizar a Caixa. Coloquei algumas questões, que não mereceram resposta atá ao momento em que escrevo esta nota. Falta de tempo ou de argumento?
Ei-las:
Considera que a Caixa tem de algum modo desempenhado um papel distinto dos outros bancos no financiamento da economia portuguesa?
Não é verdade que os financiamentos da Caixa se têm dirigido mais para a economia do betão em larga escala e muito pouco para o apoio às PME?
Não é verdade que a Caixa (quando digo Caixa, digo os tutores dela, nomeados pelo governo) não apoiou muitos negócios financeiros especulativos?
Não é verdade que a Caixa municiou uns accionistas do BCP contra outros financiando-os com a garantia das acções compradas que hoje não valem um chavo?
Não é verdade que se não fosse a Caixa o anterior governo dificilmente teria nacionalizado esse mostrengo que dá pelo nome de BPN e que eu, tu, ele, mas não eles, teremos de pagar?
Não é verdade que também a Caixa investiu em dívida soberana grega?
Não é verdade que também a Caixa importou crédito com que se afogou o país sem olhar às consequências?
Não é verdade que a Caixa tem como Chairman o homem que, na altura, foi responsável pelas operações ruinosas em Espanha e depois foi promovido a CEO?
Não é verdade que o anterior presidente da Caixa foi (et pour cause) depois presidente do BCP, a ainda por lá se mantém em funções relevantes, depois de tudo o que se sabe sobre a promiscuidade entre a Caixa e alguns accionistas do BCP?
Não é verdade que a Caixa se comporta como o resto do rebanho mas vai-lhe na cauda calcando as cagadas que o rebanho deixa para trás?
Não é verdade que a Caixa desfruta de uma situação historicamente justificada de grande recolector das poupanças de milhões de portugueses que depois aplicou em financiamentos que, na sua esmagadora maioria, não se dirigiram para a economia reprodutiva?
Se tudo isto, ou grande parte disto, não é verdade, um de nós não sabe o que é a Caixa.
Mas se pelo menos uma grande parte disto é verdade, para que queremos a Caixa? Nós, que não somos banqueiros.
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Entretanto, sobre a Caixa, soube-se ontem isto.
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