Friday, February 17, 2012

PRIVATIZEM A CAIXA!

Hoje são poucos aqueles que, insuspeitos de defender interesses próprios, discordam que o grande responsável pelo caos financeiro que continua a assolar algumas economias ocidentais (incluindo os EUA e o Reino Unido) decorreu, e continua a decorrer, de uma tara do sistema que continua por eliminar: o moral hazard. Tenho apontado isto neste bloco de notas e não é ensimesmamento meu: No começo de 2010, Ben Bernanke (citei aqui) em entrevista concedida à Time afirmava sem rodeios que o maior problema do sistema financeiro nos EUA era o "Too big to fail" o que, trocado por miúdos, significa que os banqueiros podem enveredar pelos caminhos mais arriscados porque, se falharem, os contribuintes serão chamados a pagar os seus erros. Se ganharem, ficam podres de ricos, sem obrigação de reposição dos ganhos feitos à custa das suas irresponsabilidades.

Até agora, continua tudo mais ou menos na mesma. E não é com mais regulação que a questão será solucionada. Para cada cláusula regulamentar há sempre um batalhão de advogados dispostos a inventar a sua ultrapassagem para cobrar os seus honorários. Insisto nisto: Separem a banca de depósitos e investimentos na economia real da banca de financiamento e promoção de operações meramente financeiras e deixem cair estas se elas não se aguentarem.

Em Portugal, a Caixa Geral de Depósitos continua, incompreensivelmente a fazer o que sempre fez de algumas décadas a esta parte: comporta-se como um banco com um casino por parceiro. Financiou operações claramente especulativas, envolveu-se em guerras entre accionistas de outros bancos, geriu desastradamente esse mostrengo que dá pelo nome de BPN, que continua a fazer o que lhe apetece. Há dias, dizia o presidente da Caixa, quando anunciava os quase meio milhar de milhões de perdas em 2011 que isso se devia a imparidades não provisionadas anteriormente. Mas o seu antecessor é o actual chairman da mesma instituição e o antecessor do antecessor foi até agora presidente do banco onde se desenrolou uma guerra que a Caixa municiou, quando ele ali dava ordens. Agora sai de CEO e passa a presidente do Conselho de Supervisão (ou a mesma coisa com outro nome).

Quer dizer: O beneficío ao infractor prolonga-se para lá do suporte que os contribuintes  são obrigados a ajoujar se o banco dá de lado e premeia os principais responsáveis pelo tombo.

Mas o que me levou a escrever este apontamento não foi apenas a intenção de relembrar o tema.
O que me suscitou este apontamento foi uma das muitas dúvidas que não sei se alguém que me lê sabe a resposta. Uma, por exemplo, para não me alongar mais: As perdas brutais do BPN (cinco mil milhões?) são uma enormidade qualquer que seja o termo de comparação buscado neste país. Estão encostadas na Caixa e o presidente não as considera incobráveis porque tem a garantia do Estado (leia-se dos impostos dos contribuintes). O anterior já tinha dito o mesmo. Estão contadas nas contas do Estado?

Por mim a Caixa deveria ser vendida. Integralmente. Reconhecidamente não serve para nada e, no caso do BPN, serviu para permitir que o escândalo ainda fosse maior. Com o produto da venda o Estado entraria no capital dos bancos que precisam de cumprir os rácios requeridos, se os seus actuais accionistas o solicitassem. A entrada do Estado far-se-ia como accionista com acções privilegiadas, sem direito a voto mas com prioridade na atribuição de dividendo.

E aproveitem os 12 mil milhões destinados aquele fim para promover o crescimento económico. Há tanto que pode ser feito com pouco dinheiro e elevado retorno!

2 comments:

Anonymous said...

Desta vez não posso deixar de estar integralmente de acordo com o que escreve.
Só peca por demasiada brandura. E o julgamento de todos esses figurões que têm malbaratado o nosso dinheiro?
Cai no esquecimento ? Enquanto essa gente não for responsabilizada civil e , nalguns casos, criminalmente só nos resta continuarmos a ser espoliados.

rui fonseca said...

É assim, lamentavelmente.
Continue a aparecer!
Se for para discordar, tanto melhor.
Cá nesta casa é assim.