Sunday, February 19, 2012

A TOLERÂNCIA DE PONTO DO RANGER

Percebe-se que muita gente, a propósito do aumento dos dias de trabalho, seja por aumento da duração diária, seja por redução dos feriados, seja por não concessão da tolerância de ponto, reaja revoltada e proteste nas ruas. Ninguém gosta de ver diminuidos os direitos adquiridos. A reacção contrária é possível mas não é normal. 

Já não se percebe, no entanto, que pessoas minimamente informadas, e mesmo algumas individualidades respeitáveis, afirmem que não é com medidas destas que se aumenta a competitividade da nossa economia. Ora um razoável nível de bom senso e o conhecimento da aritmética elementar são suficientes para demonstrar o contrário. A competitividade não depende apenas das horas trabalhadas, evidentemente, pode, em alguns casos ou circunstâncias, não depender mesmo nada, mas é indiscutível que, em princípio, a mais horas de trabalho corresponde mais trabalho realizado. Há, evidentemente, limites para o funcionamento desta correlação, mas estão muito para além daqueles que estão na ordem do dia em Portugal. 

Uma lei da economia que qualquer artesão cesteiro não desconhece: Quem faz um cesto faz um cento, é apenas uma questão de tempo.  

E o Ranger, tropa para operações especiais com quartel em Lamego, o que pensa disto?

Ouvi-o ontem na Antena 1. O Ranger está desmotivado. Não está desmotivadíssimo porque isso seria uma vergonha para um ranger, habituado a passar dias debaixo do solo, a treinos só suportáveis por uma elite que começa com 400 voluntários e que vão desistindo até sobrarem não mais que uma dúzia. Mulheres, não há, mas não está proibido. No exército dos EUA há algumas. Por cá ainda não apareceu a primeira candidata. O Comandante tem o maior orgulho nos seus homens. Eles são o exemplo da dedicação aos valores mais elevados e à renúncia aos interesses próprios. O seu modo de vida é arriscá-la.

Está o Ranger insatisfeito com o pré ou o retardar das promoções? Não senhora!, garante o Ranger à repórter. O que o desmotiva é a inactividade a que ele e muitos camaradas seus estão relegados. O que o Ranger não compreende é que sendo os rangers formados para intervir em teatros de guerra onde as operações especiais são o regalo de cada dia, vêm outros camaradas sem especialidade, nem treino, nem nada, de comandos serem enviados para o Afeganistão. E eles, ele mesmo, está há nove anos á espera de uma oportunidade! Há nove anos que se treina e se retreina em Lamego, e o Afeganistão viste-o?

Aproximou-se da repórter um segundo Ranger, com mais sorte, vá lá. Esteve dois anos no Kosovo, foi o máximo, agora queria o Afeganistão e não lho dão, só para rimar.

E se a guerra acaba no Afeganistão? Nunca acabou, não vai acabar, confiam eles, esperançados.

E quanto a terça-feira de Carnaval, como é? Militar, cara repórter, acata ordens. Se não há tolerância, o Ranger treina. Para quê? Ora para quê? Para estar preparado para o Afeganistão, é assim tão difícil de perceber?



Quem faz um cesto faz um cento mesmo em Domingo Gordo ( hoje, na Figueira da Foz)

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