Foi o título do primeiro romance Jorge Amado, escrito em 1931.
Paulo Rigger é o principal personagem, um intelectual que, tendo viajado pela Europa, considerava que a mistura das raças era a causa do atraso do seu país e o Carnaval o impulsionador daquela mistura. Desiludido, acaba por voltar para a Europa embalado nos seus preconceitos racistas.
Oito décadas depois, o primeiro-ministro de Portugal decide não conceder tolerância de ponto na terça-feira de Carnaval e impedir a construção da ponte carnavalesca que começa em sábado de entrudo, continua no domingo gordo e só acaba, quando acaba, em quarta-feira de cinzas. Um desastre, segundo a conceituada opinião de vários opinadores, porque o Carnaval é tradição popular e as tradições são para se manter. Será Passos Coelho um Paulo Rigger reencarnado? É pouco provável porque a Passos Coelho, comprovadamente, os fantasmas da miscigenação não o apoquentam.
Argumenta Passos Coelho, com muita razão, que se, numa altura em que o Governo e a Igreja se entendem para retirar dois feriados civis e dois religiosos do calendário, seria incongruente que se consagrasse como feriado aquilo que não tem sido: a terça-feira de Carnaval.
Argumentam os críticos que, além do mais, a decisão foi tomada muito em cima do acontecimento quando os municípios com carnavais ensaiados e prontos para desfilar esperavam milhares de reinadios. E que o desacerto da decisão vai ser provado com a desobediência dos foliões. Veremos. Em todo o caso, a não tolerância do ponto não impede que, aqueles que queiram ir onde esperavam ir utilizem uns dias das suas férias, consoante a dimensão da ponte carnavalesca desejada.
Quanto a tradições carnavalescas, a maior parte delas são importadas do Brasil.
É muito provável que o Entrudo tenha sido levado para o Brasil pelos portugueses mas dos jogos de entrudo do sec. XVI já não há vestígios nos sumptuosos corsos do Rio. Para grande desgosto de Paulo Rigger, a mestiçagem tomou conta dos sambódromos. E, como o calor aperta e convida ao relaxe, descobrem-se e bamboleiam-se os corpos até a um ponto que Rigger jamais poderia imaginar.
E em Portugal?
Em Portugal, a tradição carnavalesca passou a importar-se do Brasil: Convidam-se estrelas das telenovelas para cabeças de cartaz, tiritam de frio meios despidas os que desfilam, a fazer o melhor que sabem e podem ao som do samba, que, sem calor, está muito longe de ser a mesma coisa.
Há alguns anos assisti a um desfile carnavalesco entre a Figueira e Buarcos. Fazia o frio do costume.
Alguém se lembrou de acompanhar musicalmente o desfile com fados!
Rebolavam as raparigas as nádegas, o bronzeado do Verão já descolorido, ao som do "Ai Mouraria"
Não sei se a experiência teve continuidade. Era deprimente mas tinha meia tradição, não?
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