Lembram-se daquela cena em ""Driving Miss Daisy" quando a velha judia oferece a Hoke, o seu motorista analfabeto, um livro de iniciação à leitura no dia de Natal, frisando que o fazia, não por ser dia de Natal, "porque os judeus não oferecem prendas de Natal"?
Trata-se de uma cena muito significativa da diversidade dos valores, neste caso religiosos, com que se tecem as sociedades humanamente desenvolvidas. Lamentavelmente, por outro lado, é o desrespeito por essa diversidade que destrói outras.
A diversidade étnica, religiosa, cultural, é crescente com a crescente mobilidade humana. Nunca foram tão intensos os fluxos migratórios, nunca as sociedades experimentaram a crescente diversidade de valores civicamente respeitáveis entre pessoas que se relacionam no dia a dia.
Vem isto a propósito de uma discussão que pode abrir brechas na sociedade portuguesa num altura em que a coesão social é um requisito de sucesso para ultrapassar a crise económica e financeira: o corte de feriados. Os monárquicos, os nacionalistas, os pretensamente mais patriotas que os outros, enfim, um grupo alargado, que conta com o apoio decidido de dezenas de historiadores, rejeita que o 1º. de Dezembro seja um dos sacrificados pelas exigências da austeridade; Os Socialistas, pretensamente legítimos herdeiros dos que fizeram a Primeira República, rejeitam que cortem o Cinco de Outubro; A Igreja portuguesa condescende em aceitar um corte de dois feriados religiosos desde que o Governo corte dois civis, e o Papa aprove.
Ninguém, no entanto, parece-me, se lembrou que, para além dos católicos (a sério), a sociedade portuguesa é composta por muitos cidadãos com outros credos religiosos, para além daqueles que, na prática, não praticam credo algum.
Como contentar todos sem molestar os valores prezados por outros?
Fácil: "Feriados à la Carte"
Quer isto dizer que o Governo deveria, atendendo às nossas necessidades de crescimento de competitividade, e tendo em conta os parceiros com que nos relacionamos, a União Europeia de que somos elemento, os factores de custo daqueles com quem temos de competir, fixar um número de dias de feriados anuais.
Não contando com o Domingo de Páscoa (por ser domingo), Portugal tem 7 feriados nacionais civis (contando com a Terça-feira de Carnaval) e 6 feriados religiosos. Se o Governo entende que deve cortar 4, porque não legisla isso mesmo e deixa o resto por conta dos cidadãos? Cada um que escolha dos 9 restantes aqueles que realmente mais preza.
Isto é: Se um cidadão professa a religião judaica (ou islâmica, ou qualquer outra) faz sentido que lhe seja concedido feriado no dia de Natal mas não no dia da celebração da sua festa religiosa? Faz sentido que o dispensem no dia de Terça Feira de Carnaval se ele preferiria que lhe mantivessem o 5 de Outubro? Se um preza mais o 1º. de Dezembro que o 25 de Abril porque não lhe conceder essa opção? É legítimo negar a um católico um dia para a festividade do Corpo de Deus e obrigar um judeu a não trabalhar no dia de Natal?
Pensem nisso senhores deputados!
E, já agora, mudem de Conselho de Administração da AR por clara incompetência no domínio da aritmética. Essa da água engarrafada ser mais barata que que a da torneira só por asneira ou brincadeira de Carnaval (vd. aqui )
8 comments:
" Essa da água engarrafada ser mais barata que a da torneira..."
Onde é que está afirmação na noticia citada?
Ouvi a mesma notícia na Antena 1, noticiário das oito.
O argumento citado pela rádio foi
o maior custo da água da torneira relativamente à água engarrafada se forem considerados todos os custos.
Só pode ser uma asneira ou brincadeira, evidentemente.
Nos EUA, aonde por razões familiares me desloco com frequência, em todos os restaurantes a primeira coisa que o empregado faz é trazer-nos um copo grande com água. Da torneira, evidentemente. Grátis, evidentemente. Nunca vi alguém pedir àgua engarrafada. Não quero com isto dizer que não haja. Eu nunca vi.
Mas nós, evidentemente, vivemos num país rico, não é?
Que operações adicionais implica a mais distribuir a água da torneira?
Encher os vasos e lavá-los?
Usem vasos de plástico. Assim como assim a água engarrafada é servida do mesmo modo.
Teriam de encher nas casas de banho?
Que coisa mais bizarra!!! Quanto custa uma extensão para um local mais apropriado?
Não brinquem connosco!
Ainda a propósito do mesmo assunto, leia o Público de hoje:
Parlamento rejeita beber água da torneira porque sai 30 vezes mais cara
()
O Conselho de Administração da Assembleia da República manifestou-se, mais uma vez, contra a introdução da água da torneira nas reuniões parlamentares, argumentando que o seu custo é quase 30 vezes superior ao da água engarrafada.
aqui:http://www.publico.pt/Sociedade/parlamento-rejeita-beber-agua-da-torneira-porque-sai-30-mais-cara-do-que-a-engarrafada-1534706
Afinal nâo consta do artigo que cita mas sim do que ouviu na radio.Não é a mesma coisa e em qualquer dois casos parece-me abusivo tirar conclusões sobre a capacidade aritmética dos decisores.
Não está aqui em causa se vai ou não aos Estados Unidos , as razões por que vai e o que lhe põem na mesa.
O que está em causa é um juizo que expressou não fundamentado e de forma enganosa encapado na noticia de um jornal, que não a deu nos seus termos, o que além de demagogia é tentativa de manipulação.
E será que o Senhor já fez contas?
Se cada deputado beber em média 1 garrafa de 1,5 por dia , e considerando que em qualquer supermercado uma garrafa com essa capacidade de marca branca custa cerca de 13 centimos e cuto total diario de 30 euros ou seja 150 por semana, aproximadamente 6000 por ano considerando que a A.R.trabalha em média 40 semanas por ano.
Mesmo sabendo que um empregado seria manifestamente insuficiente para todas as tarefas inerentes á distribuição de água, e lavagem do vazilhame ( jarros)teriamos um custo de pessoal de mais de 8000 euros . Por nem ser necessário, esqueço eventual custo de investimento de máquina de lavar,de vazilhame, quebras, etc
Portanto parece-me que as aritméticas individuais extrapoladas dos EEUU são capazes de conduzir a resultado errado.
Caro Anonymous,
Apenas referi os EUA para comparar comportamentos: aquilo que lá é trivial aqui é execepção. Os restaurantes em Portugal não servem água da torneira. Se pedimos água trazem-nos água engarrafada.
Reparo, por outro lado, que, entretanto alguém anónimo, deu mais uma informação publicada no Público.
Qaunto a custos com pessoal, há pessoal que hoje encomenda, compra, confere, paga faturas da água engarrafada; há pessoal que as recebe, as armazena, as transporta, as distribui pelas bancadas e que, no fim da sessão, recolhe as embalagens vazias.
A água engarrafada é servida em copos de plástico? A água da torneira também pode ser.
Sobra a lavagem dos vasos. O que faz o pessoal, incumbido de distribuir e recolher as embalagens de água engarrafada, durante o dia?
Não, caro Anonymous, a questão não é essa. A questão é que há quem ganhe com o negócio.
Por essas e por outras é que estamos onde estamos.
Só mais uma achega: Quanto a pessoal, estamos falados. Quem distribui garrafas pode distribuir os vasos de água da torneira. Que podem ser de plástico, se quiser, como são agora.
Uma notícia que acabo de ouvir na RTP diz que o estudo orçou em cerca de cinco mil euros o custo do investimento em vasos. É de gozo. Devem ser de cristal. Passam de plástico para cristal?
Talvez não me tenha feito entender.
Eu até estaria totalmente de acordo se o Senhor dissesse : " bebam pela torneira na casa de banho".
Não posso é concordar com argumentos pouco fundamentados que são usados para uma conclusão aprioristica.
" bebam pela torneira na casa de banho".
Como democrata, tenho o maior respeito pelos deputados.
Já tenho menos respeito por quem, neste caso, concluiu pelo risível.
Post a Comment