Tuesday, February 07, 2012

AS TÁBUAS DA AUSTERIDADE


Os britânicos não gostam de Angela Merkel. O Economist ou o Financial Times também não.
O editorial publicado na edição desta semana do Economist - Angela the lawgiver - resume muito do que a maioria dos colunistas das duas publicações centradas na política e nos negócios  mais lidas em todo o mundo vêm escrevendo durante os últimos meses.

O subtítulo do artigo - A pact to cut budget deficits is achieved at the cost of a growing democratic deficit - sintetiza as vulnerabilidades de uma política aceite por 25 membros da UE - britânicos e checos recusaram - que acredita na redenção dos aflitos através das leis de austeridade impostas pelos desígnios de Merkel.

Na realidade, dos 25 que subscreveram mais um acordo, são cinco ou seis os principais visados e, mesmo de entre estes, as situações de fragilidade, e portanto de subordinação aos diktats de Merkel, têm graduações muito variáveis. A Grécia é o caso mais flagrante da prescrição mais pesada e, consequentemente, da subordinação mais humilhante. Depois da ruptura das negociações na semana passada até onde serão possíveis os compromissos que estão a ser tentados esta semana?

Ninguém sabe, mas todos esperam que a Grécia não seja colocada borda fora. O Economist, declaradamente uma publicação de pendor liberal, dedicou a capa de  várias edições nos últimos anos à importância da continuidade do euro e da União Europeia e criticou Cameron pelo seu afastamento do grupo fundamental da União. Não acredita no sucesso da política de austeridade e critica a falta de democraticidade na organização política e tomada de decisões da União. Mas não vai além disso.

Várias vezes tenho referido neste bloco de notas aquilo que continua ausente nas discussões públicas: A Grécia, para além de ser membro da UE é membro da NATO. Putin afirmava ontem que a NATO é completamente desnecessária, opõe-se à intervenção na Síria, opõe-se ao embargo ao Irão. Os dirigentes chineses alinham com ele. O governo húngaro admira-o. Se a Grécia tomba o desmoronamento da UE a leste é uma questão de tempo. Putin espera para recompor as peças que lhe saltaram do puzzle. 

Há falta de democraticidade na UE porque não há um governo mínimo legitimado pelos europeus. Há imposições de austeridade que não são digeríveis em tempo tão curto. Mas há sobretudo uma falta de perspectiva que garanta a perenidade da União Europeia a longo prazo e a sua presença como interveniente de topo num mundo irreversívelmente global. Há navegação costeira que não se apercebe dos submarinos imersos ao largo.

Saltando do barco, o Reino Unido não será menos responsável nem menos atingido pelo fim da União Europeia do que aqueles que, por enquanto, permanecem a bordo.
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Oxalá acerte!

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