Tuesday, February 21, 2012

CARNAVAL EM AGOSTO

A cultura tem as costas largas mas geralmente pouco pano para lhe cobrir o pêlo.
Um dos sinais distintivos culturais de uma sociedade são as suas tradições, uma parte da memória do seu passado sem a qual o presente é uma amnésia à deriva. Nem todas as tradições são respeitáveis à luz dos valores que a evolução do desenvolvimento humano vai burilando, algumas vão sendo reprovadas e eliminadas pela moral e pela lei encontradas nos caminhos que as sociedades percorrem. Outras são admitidas por imitação e acabam como adopção de memória curta que o tempo se encarregará, ou não, de cimentar.

Há dias comentei aqui (aliás, também aqui ) que, há já muitos anos, tinha assistido a um desfile carnavalesco, num domingo gordo, frio, de sol envergonhado, as desfilantes a saracotearem as bundas caucasianas ao som do fado gritado através dos altifalantes colocados ao longo do percurso. Alguém que leu a minha nota actualizou-me na matéria: O ridículo não voltou a repetir-se e hoje existem em Buarcos duas escolas de samba. Que ensaiam durante o ano, é uma oportunidade de convívio entre os jovens, e outros menos jovens, presumo, que mal há nisso?

Nenhum.
Buarcos tinha no seu rancho folclórico (As Cantarinhas de Buarcos) o orgulho de uma tradição mostrada em muitos sítios do mundo. Era, acredito que ainda seja, a continuidade de uma memória antiga, registo etnográfico de uma comunidade piscatória que muitas vezes vi rejubilar e chorar. E sempre me encantou a destreza com que dançavam de cântaros enfeitados à cabeça sem cacos no fim.

E não pode haver "Cantarinhas" e "escolas de samba"? Pode. Mas não é perdurável.  O produto importado , por razões que seria fastidioso estar aqui a esmiuçar, acabará por afastar o produto local. A tradição acabará por ceder à importação.

Este ano a meteorologia está do lado dos sambistas portugas. Faz sol, a temperatura será amena lá para o começo da tarde, não chove, a seca é outra coisa. Em todo o caso, a imitação do samba brasileiro é visivelmente um arremedo ridículo do original. Este ano o Rei  Momo é o Futre! Não há fado mas há Futre.

Sobra-me uma sugestão: Se o samba veio para ficar no carnaval português, porque não alteram o dia de entrudo para meados de Agosto, quando a temperatura atinge os valores do Carnaval do Rio?
Além do mais escusava o governo de não conceder tolerância de ponto. Em Agosto, Portugal está de férias.
Se a tradição se importa não deve importar-se que a mudem para estação mais adequada.

Natal é quando um homem quiser.
E por que não o Carnaval?

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