Monday, March 19, 2012

NO FUTURO, NÃO VAI HAVER EMPREGO PARA OS MENINOS

Um dos temas a que mais reflexões tenho anotado neste caderno de apontamentos é o trinómio, globalização, produtividade e emprego. O outro é a Justiça (que não temos). Vezes sem conta, quando o assunto vem à baila, ou o puxamos a propósito de outro tema de qualquer modo correlacionado, tenho afirmado que "um dia quem quiser trabalhar tem de pagar por isso". Ninguém quer imaginar o mundo económico e social em que nascemos, crescemos e vivemos, do avesso.

E, no entanto, esse virar do avesso vem acontecendo sem que economistas e sociólogos o queiram encarar, interpretar para descortinar saídas que possam evitar uma ruptura que, se acontecer, será apocalíptica. O mundo anda preocupado com as finanças porque o reequilíbrio financeiro é urgente mas o aspecto mais grave da crise é o combate pelo emprego. A globalização sem regras acelerou o crescimento da produtividade ao mesmo tempo que determinava que factores de competitividade deprimentes (p.e., menores ou nenhumas garantias de segurança social) provocassem a deslocalização de indústrias desempregando nuns lados o que empregou noutros.

Globalmente, para níveis de produções crescentes são requeridos níveis de emprego decrescentes. Em sistema de mercado concorrencial o resultado não pode ser outro, se tudo o resto se mantiver constante: os preços do trabalho descem.

O programa de apoio a  estágios como forma de minimizar a redução do emprego jovem e, eventualmente, aumentar as capacidades das empresas de acolhimento, não é, obviamente, senão uma solução várias vezes repetidas no passado com os resultados que se conhecem. Avisava Albert Einstein: "Insanity is doing the same thing over and over again, expecting different results".
 
O desemprego aumenta quando há tanto para fazer neste país. Há um ano havia um consenso alargado acerca da prioridade que deveria ser dada às actividades económicas transaccionáveis, isto é, aquelas que têm se se bater com os concorrentes externos. O que é que foi feito nesse sentido, entretanto? O que fizeram os bancos, e particularmente a Caixa Geral de Depósitos, para mudarmos de paradigma? O que fizeram para privilegiar as exportações e, como auto defesa comum, preterirem os financiamentos às importações?
 
O ministério da Economia mora na Horta Seca. Quem rega a economia consoante os seus próprios interesses são os bancos. Se queremos reduzir o desemprego impõe-se que os bancos reguem de acordo também com esse objectivo. Ou seca tudo.
 
No futuro, dizia Agostinho da Silva, que em 2006 a propósito deste assunto citei aqui, não vai haver emprego para os meninos. Esse futuro, quero acreditar, ainda vem muito longe. Mas já está a começar a acontecer.

No comments: