A República Portuguesa é um reino de jogos. Entre outros,
- o Jogo da Cabra Cega a que se dedicam alguns foliões com a justiça;
- o Jogo das Escondidas com que os governos, central, regionais e locais, se entretiveram (e alguns ainda se continuam a entreter), fintando a realidade com as aparências;
- o Jogo do Faz de Conta, que se distingue do anterior porque as manobras são conhecidas e a realidade não é escondida mas é mascarada;
As notícias que dão conta aqui de que a Comissão Europeia deu o seu amen ao casamento do BIC com o mostrengo, adiantam que para além do dote (os contribuintes para além de arcarem com o escandaloso buracão têm ainda de gemer para pagar os custos que ficam de lado, nomeadamente as indemnizações ao pessoal não absorvido pelo noivo e todas surpresas que ainda vierem a acontecer quando o embrulho estiver completamente desembrulhado) o Estado cobrou uma comissão de apenas 0,2% sobre a garantia ao empréstimo de 5 mil milhões de euros que a Caixa fez ao mostrengo para lhe saciar a gula.
O que é curioso na notícia é que ao jornalista do DN, e a alguns que citaram a notícia, o que lhes tocou na corda da espantação foi o facto de a comisão cobrada pelo Estado ter sido apenas de 0,2%, cerca de metade daquela que foi cobrada aos outros bancos!
Estamos, claramente, perante um Jogo de Faz de Conta que, sem surpresas, o jornalista bebeu até ao último trago. Porque, senhor jornalista,
A Caixa Geral de Depósitos é uma coisa que tem como único accionista o Estado português;
O BPN, o mostrengo, mal nacionalizado (o que não quer dizer que não houvesse razões, na altura, para que fosse, mas deveria ter abrangido a trupe toda) passou a ter como único accionista o Estado;
Logo, a garantia dada pelo Estado à Caixa foi meramente formal e para uso externo. Em caso de incumprimento, mais que óbvio, do BPN, os cinco mil milhões emprestados somos nós, contribuintes que temos de ajoujar com eles.
O Estado tanto poderia levar 0,2%, como 0,4%, como 400%, porque o resultado, para nós, os que pagam impostos, seria o mesmo. Tudo o que Estado cobrou, ou poderia cobrar, neste caso, é irrelevante para o preço que temos de pagar pelo mostrengo.
O que é importante, mas continua escondido, é saber como, quando e para onde foram parar os 5 mil milhões, mais o que escorreu e vai escorrer até ficar completamente escorrido.
Uma resposta que teríamos direito se vivessemo num país de direito. O resto é entretenimento.
Ou muito me engano, ou a história deste caso escandaloso vai consagrar dois protagonistas pela negativa: Teixeira dos Santos, por uma nacionalização desastrada, Vitor Gaspar por uma privatização obscura.
No comments:
Post a Comment