Sunday, March 04, 2012

PORTUGAL AO NATURAL

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Esta não é a primeira vez que anoto neste caderno a minha dificuldade em compreender o alheamento com que os portugueses convivem com situações de escancaradas degradações urbanas, mesmo em locais que o imaginário colectivo supõe serem selectos e não arremedos em tamanho ampliado dos bairros degradados da periferia dos maiores centros urbanos. Lisboa está cheia de exemplos destes, de prédios degradados há muito abandonados, à espera que os decénios passem até que um dia se desmoronem. Na artéria central que vai dos Restauradores ao Campo Grande há dezenas, só na Fontes Pereira de Melo, se não me falham as contas, há quatro ou cinco enormidades destas.

O presidente da edilidade lisboeta afirmava há dias no programa em que tem assento como comentador político, que, na ausência de investimento privado que possa dinamizar o crescimento económico e prevenir o crescimento imparável do desemprego (no próximo mês de Junho terminam todas as grandes obras públicas em curso e mais se 150 mil empregos estão ameaçados) tem de avançar o investimento público com obras infraestruturantes a nível europeu que possam ter impacto na economia portuguesa. Não percebi bem onde ele queria chegar mas admito que estivesse a pensar no novo aeroporto de Lisboa, o TGV, etc.

Estas são, segundo A. Costa as obrigações dos outros. Acerca das dele, como é costume disse nada.

E, no entanto, ele sabe, ele mesmo tem dito, já os antecessores tinham dito, que Lisboa tem perdido habitantes, que é preciso reabilitar a cidade, que só desse modo se pode evitar a afluência enorme de viaturas vindas da periferia dormitório para o centro escritório. Fez ele, ou fizeram os outros, já alguma coisa por isso? Nada.

A Câmara tem prédios abandonados, o Estado tem prédios abandonados, é assim tão difíicil trocar essas inutilidades por contratos-programa que reabilitem a cidade sem custos para o erário público, mesmo em tempos de crise?

Cascais, também já me referi ao assunto várias vezes, é geralmente tida por uma referência turística, formando com Lisboa e Sintra o triângulo com mais visitantes estrangeiros. Pois apesar da marca e dos marqueses que nela habitam, a entrada de Cascais é, para quem se puser a observar à volta, que é geralmente a atitude dos visitantes, um campo de com vários mostrengos urbanos esventrados. A primeira fotografia é um exemplo do que digo.

De um lado do CascaisVilla (o shopping que alguém de mau gosto aprovou que fosse construído naquele local) há, outro exemplo, desta incúria inqualificável (vd. fotografia a seguir). Construiram uma passagem pedonal inferior (com entradas que medeiam entre si não mais que trinta metros) para o outro lado da rua. Pouco à frente há uma passadeira para peões protegida por semáforos. Resultado: Ninguém utiliza a tal passagem pedonal inferior. Está vandalizada, cheira a urina que tresanda, é um caneiro a céu aberto à entrada da mui nobre vila de Cascais.

Quanto custou a brincadeira? Não sabemos. Quem foram os brincalhões? Não sabemos. O que sabemos é que, uma vez aberta, e estupidamente gastos dinheiros públicos para a construir não há nem dinheiro nem decisão política que agora mande tapar o aborto nauseabundo.

"O homem tende para a acção, tal como o fogo tende para cima e a pedra para baixo" - Voltaire 
Li isto há dias no tal plasma que encontrei aqui.
Não sei se algum dos curiosos que vêm o plasma enquanto esperam e lêm este pensamento tiram alguma conclusão que lhes sirva de proveito.

Por mim, mandava reinstalar o plasma na sala do Conselho de Ministros com uma cópia desta nota.

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