A cena vem detrás mas ganhou outra velocidade nos últimos tempos com a reentrada no palco da famigerada redução e aumento da tê-esse-u. A histeria à volta da tsu varreu tudo quanto antes ocupava a ribalta e dominou a plateia política. O ministro das Finanças, ao tirar da manga a simultânea do aumento para empregados e redução para empregadores, tinha apostado numa jogada de alto risco. Cairam-lhe em cima, impiedosamente, uns e outros. O primeiro-ministro, que só se deve ter apercebido da peça quando viu o mar mais alto que a terra, tomou a decisão politicamente mais correcta de retirar a proposta e ir à procura de outro caminho, que não poderá deixar de ser, a todos os títulos, desgastante, sobretudo se, como vem sendo habitual, for imposto apenas aos mesmos de sempre.
Um ex-ministro das Finanças, filiado do principal partido que apoia o Governo afirmou que o primeiro-ministro não estava preparado para o desempenho do cargo, a ex-ministra da mesma pasta, anterior presidente do mesmo partido, voltou a repetir o que vem afirmando há tempos - o prazo para consolidação é curto e o programa de reformas incumprível dentro dele -, para o ex-ministro, quanto mais alargado for o prazo mais difícil se torna desatar o imbróglio. Dois actores para dois discursos vezes sem conta declamado por vários coros à esquerda e à direita.
É no meio desta encenação surrealista, onde ao fundo passam os manifestantes convocados por quem lhes dá corda mas não sabe, nem quer saber, para onde os conduz, que um terceiro filiado do partido maioritário, de qualificações e méritos mais reconhecidos lá fora que cá dentro, eminência que pretendiam parda, volta a entrar na loja e partir a loiça: a proposta de redução e aumento da tsu era uma ideia genial e os empresários portugueses que a rejeitaram são ignorantes. Um escândalo.
Está mais que provado que o professor Borges não tem a mínima capacidade de adaptação à carreira política, que exige dissimulação, demagogia e sangue frio. Talvez por razões de índole pessoal, dos mais respeitáveis, o professor Borges, para além da sua manifesta inabilidade para se mover em espaços politicamente minados, deve andar azedo. Mas disse uma enormidade inconcebível capaz de mobilizar contra ele a fina flor da inteligência portuguesa?
Vejamos: Borges rematou a sua polémica intervenção afirmando que quem entende que " o programa de ajustamento se faz sem apertar o cinto estará um bocadinho a dormir". Não estará. Todos quantos, e são muitos, vêm os consumos e os lucros inerentes a cairem, discordam e aproveitam a falta de jeito do professor Borges para o desancar.*
A questão do ajustamento, em última análise a questão da recuperação do orgulho há muito perdido de ser português, não se resume, longe disso, à redução dos salários como forma de ganhar competitividade e sustentar o equilíbrio da balança de pagamentos, mas também passa por lá. Aliás, está a passar,e só não vê quem não quer ver ou é curto de vista.
Mas não chega, nem com mais tempo, como advoga a ex-ministra nem com menos tempo, como friamente defende o ex-ministro. Porque a carga de juros é insuportável e não para de parir dívida que, por sua vez, gera mais juros. Por que é que não se desata o nó górdio pegando também nesta ponta decisiva? Até quando continuará troica a fingir ignorar as evidências com a complacência lorpa dos políticos?
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* Correl.- aqui
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