Monday, September 10, 2012

CINCO MITOS ACERCA DA CRISE DO EURO


Se há economistas norte-americanos que há bastante tempo vêm a prognosticar o fim do euro (Paul Krugman, Joseph Stiglitz, Nouriel Roubini, por exemplo) também há quem tenha uma perspectiva mais optimista acerca do futuro da moeda única europeia. O Washington Post publica no seu caderno semanal "Outlook" uma série genericamente intitulada "Five myths about" onde  procura desmistificar um conjunto de ideias adquiridas (supostamente mal adquiridas) pela opinião pública acerca dos mais variados assuntos da vida social. Do tema de ontem - "Five myths about the euro crisis" incumbiu-se C. Fred Bergsten que terá uma opinião tão abalizada quanto as de alguns que discordarão dele.

Em todo o caso é interessante saber o que pensam muitos norte-americanos acerca da crise do euro e o que pensa acerca do mesmo assunto o senhor Fred Bergsten, cuja opinião reflectirá, certamente, a opinião de muitos norte-americanos geralmente bem informados.

1 - Os europeus nunca se unirão numa união política.
A zona euro nunca evoluirá para a os Estados Unidos da Europa, e a cacofonia de vozes na Europa continua a baralhar os mercados. Mas, apesar disso, os países da zona euro têm respondido à crise com uma rapidez notável. Para evitar o colapso financeiro dos membros mais fragilizados foram criados fundos de resgate da ordem de 1 trilião de dólares e o Banco Central Europeu tem emprestado muito mais, como aliás o tem feito a Reserva Federal Americana, e, recentemente, reafirmou o propósito de fazer o que for necessário para evitar uma catástrofe. Os membros da zona euro concordaram no estabelecimento de um conjunto de regras fiscais - com penalizações aos prevaricadores - com o objectivo de limitar os défices orçamentais, avançando no sentido de uma união fiscal parcial que possa sustentar uma política de ajuda dos países mais fortes aos outros. Vão avançar também para uma união bancária total que previna corridas aos bancos através de garantias globais aos depósitos. Os países devedores estão a implementar políticas de reformas estruturais que promovam o crescimento, encoragem o emprego e aumentem a produtividade.
Os países mais fortes, e nomeadamente a Alemanha, não podem dizer que garantem resgates ilimitados de modo a manter a pressão sobre os devedores. Mas a zona euro parece estar encaminhada para a completa união monetária e económica que foi prometida há vinte anos e que, por falta dela, emergiram as actuais dificuldades.

2 - A saída da Grécia da zona euro acabará com a zona euro
Não. Se a Grécia sair, a moeda única europeia sairá reforçada. O resultado será tão caótico para a Grécia que os outros devedores farão tudo o que for preciso para evitarem um desastre semelhante, acelerando as reformas. Por outro lado, no caso de "Grexit", os países mais fortes reforçarão as barreiras financeiras de defesa e acelerarão a união fiscal e bancária.
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3 - Os contribuintes alemães jamais pagarão para que sejam assegurada as pensões de gregos (ou espanhóis ou italianos)

A Alemanha é, e continuará a ser, o principal pagador da Europa, reclamando e exigindo austeridade e reformas, mas fará tudo para manter a zona euro unida. Tem assegurado a maior parte dos fundos de resgate e financiado os défices dos países devedores através do BCE.

Há várias razões para a Alemanha manter esta posição. Primeiro, o projecto de integração europeia iniciado há seis décadas atrás, de que o euro é o símbolo mais decisivo, surgiu a seguir à guerra provocada pela Alemanha. Os alemães não vão querer correr o risco de destruir a Europa outra vez, uma acção de que serão facilmente acusados se espoletarem a desintegração. Para além disso, a  economia da Alemanha sustenta-se em larga medida nas exportações para os outros estados membros e os bancos alemães estão muito expostos nos países devedores, pelo que os contribuintes alemães não têm alternativa senão resgatá-los se a Espanha ou a Itália falharem os seus compromissos. Na Alemanha todos os líderes políticos estão cientes destes factos e os partidos pró-euro têm ganho as eleições mais decisivas desde a erupção da crise.

4 - Se as medidas de austeridade continuarem, os eleitores revoltar-se-ão e os extremistas tomarão conta do poder

Um dos aspectos mais interessantes da crise do euro até agora tem sido a permanência em funções dos governos liderados por partidos moderados, e a rejeição das alternativas radicais tanto à esquerda como à direita. Na Grécia os eleitores entusiasmaram-se com as propostas de um partido radical mas o início de uma corrida aos bancos levou-os a mudar de ideias. 

5. A crise do euro deprimerá a economia dos EUA e poderá até influenciar a eleição presidencial em Novembro.
Sem dúvida, a recessão na Europa reduziu as exportações dos EUA e os lucros das empresas norte-americanas, desencentivou o emprego e a confiança dos investidores, reduzindo-nos cerca de 1% do produto. Analistas de macroeconomia calculam que o eventual colapso do euro provocaria nova recessão no próximo ano e a taxa de desemprego atingiria os 9% em 2013. Como as economias emergentes, lideradas pela China e Índia, que já representam metade da economia global, continuarão a expandir-se a uma taxa anual agregada de 6%, a economia, incluindo os EUA, continuará globalmente a crescer. Por outro lado, as perturbações na zona euro provocam a preferência de muitos investidores pelas obrigações do Tesouro americano, permitindo a manutenção das taxas de juro muito baixas, o que permitirá a recuperação do imobiliário e o crescimento do consumo interno.
Finalmente, a perspectiva de uma evolução favorável na Europa protege-nos - e às nossas eleições - de piores repercussões económicas.

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