Tuesday, September 04, 2012

DESTA VEZ É DIFERENTE

Robert J. Samuelson, jornalista do Washington Post (sem nenhuma relação familiar com Paul Samuelson, Prémio Nobel da Economia em 1970) afirma-se partidariamente independente e, por essa razão, não vota. 
Ontem, o WP publicava um artigo seu - Grading Obama´s economics -, onde o veterano Robert faz uma avaliação da administração de Obama desde que tomou posse em Janeiro de 2009: não mais que um medíocre C+, reconhecendo, no entanto, que o presidente dos EUA tem pouca influência na evolução da situação económica do país.

Afirma Robert que, depois de bater no fundo em meados de 2009, a economia norte-americana cresceu apenas 2,2% /ano, que comparam mal com o vigor das recuperações observadas nas nove crises anteriores desde 1950 - em média , 4,2% durante os primeiros três anos.

 Há neste julgamento do independente Robert J. Samuelson um enviesamento de raciocínio que, não podendo atribuir-se à sua falta de conhecimento da história económica contemporânea dos EUA - que vem comentando há mais de três de dezenas de anos -, nem a ideologia partidária, de que se diz isento, a meu ver à apreciação de Robert escapou um factor que, não sendo subtil, parece escapar à maioria dos comentadores tanto nos EUA como na Europa, e, nomedamente, em Portugal.

 Carmen Reinhart e Keneth Rogoff defendem em This Time is Different: Eight Centuries of Financial Folly que esta crise não é diferente das outras, e que pouco se aprendeu (ou pouco se quis aprender) com as causas e consequências conhecidas das crises anteriores. A escalpelização exaustiva dessas crises permitiu-lhes estabelecer padrões que se repetem nos diferentes sintomas das sociedades onde houve desvalorizações profundas das moedas, inflações e hiperinflações, incumprimento de dívidas externas e domésticas, assim como dos ciclos nos preços dos imobiliários e nas bolsas de valores, nos aumentos do dresemprego, nas receitas dos estados como reflexo dessas mesmas crises.

E, no entanto, há aspectos, que não podem ser descartados, na configuração desta crise. O centro de gravidade da economia mundial está a deslocar-se para o Oriente. A economia chinesa deve ultrapassar, a curto prazo, o peso da economia norte-americana, depois de já ter deixado para trás a economia japonesa e a economia alemã. A economia da União Europeia, sendo globalmente ainda maior, ainda não é uma economia realmente globalizada.

A deslocalização industrial do ocidente para oriente foi lubrificada com o forte afluxo de capitais em sentido contrário, animando o crescimento do imobiliário que passou a representar no total da riqueza produzida uma quota insustentável. Uma vez, inevitavelmente, invertida a tendência do ciclo no sentido descendente, a recuperação, para ser tão vivaz como em retomas anteriores, teria de contar com uma mola económica que lhe permitisse igualar o padrão. O sector imobiliário, só por si, não consegue isso e os sectores industriais estão no outro lado do mundo. A queda dos preços do imobiliário atingiu os 30%, e só agora parece ter parado.

Como é que poderia ter sido diferente?   

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