Friday, September 14, 2012

QE 3 E ESPERAR PELO RESULTADO


"As preocupações aumentaram na última semana com o relatório, decepcionante, do emprego em Agosto e o aumento do número de desempregados. Qualquer destes indicadores confirma uma quebra de dinamismo no mercado do trabalho, e aparecem numa altura em que o desempego de longa duração e o desemprego jovem são muito elevados, os norte-americanos estão a desistir de conseguir trabalho, a pobreza está aumentar, a desigualdade de rendimentos está a alargar-se."  (aqui)

Onde se lê " os norte-americanos" poder-se-ia ler "os portugueses" porque o diagnóstico possível, salvo o tamanho do doente e a gravidade relativa da situação, não difere substancialmente. Mas os EUA são, pelo menos, em termos de PIB, sessenta vezes maiores que Portugal e a taxa de desemprego cerca de metade. 

Envolvido numa situação económica que parece ter perdido a resiliência que permitiu inverter vigorosamente das fases descendentes dos ciclos, que caracterizam as economias de mercado, em crises anteriores, Obama, a mês e meio de eleições presidenciais, só pode contar agora que a nova dose de "quantitive easing" - leia-se, libertação de mais liquidez pela FED - possa espevitar o indolente e quebrar a apatia dos empresários, que, segundo alguns, se sentaram nos lucros acumulados à espera que a crise passe, segundo outros, porque não há ambiente macroeconómico que faça germinar mais investimentos.

A crise espoletada pelo imobiliário decorreu em larga medida da dimensão que este sector tinha atingido na economia norte-americana (mas também em Espanha, no Reino Unido, em Portugal, entre outros). Os EUA desindustrializaram-se, e o sector industrial que no passado tinha sido a mola fundamental das retomas em crises anteriores, desta vez tem a mola pasmada. Alguma semelhança com a situação da economia portuguesa, o aumento de desemprego, a falta de políticas consequentes (de que muita gente fala sem dizer em que pensa, se é que pensa em alguma coisa, salvo injectar dinheiro sem proveito consistente) não é, portanto, mera coincidência.

Passos Coelho reafirmou ontem a sua determinação de ir por diante com as políticas anunciadas, e de outras a anunciar, com cariz idêntico. Por agora, a discussão e a contestação polarizam-se nas medidas de austeridade, porque ninguém sabe como é que se podem recuperar centenas de milhares de postos de trabalho perdidos em sectores económicos que irremediavelmente pasmaram. Na entrevista da RTP, o primeiro-ministro referiu que "muitas empresas do sector de construção civil e obras públicas encerraram as portas mais cedo do que o Governo esperava", e daí o aumento de desemprego acima das suas previsões. O que, não custa a crer, pode ser verdade. Mas é uma verdade que não aponta para uma solução. Logo a seguir, Passos Coelho afirmou que "não é possível voltar aos níveis de actividade nesses sectores - construção civil e obras públicas - que se observaram no passado recente". Estou a citar de cor, mas creio estar a reproduzir o sentido das afirmações produzidas pelo PM.  

Não é possível, não senhor. Então que fazer? Que fazer, senhor primeiro-ministro? Que fazer, senhor líder do principal partido da oposição?

Voltando aos EUA, e a Obama, Ben Bernanke decidiu injectar QE3 sem limite de volume. Resulta, não resulta, alguma coisa resultará. Para já o dólar está a cair significativamente contra o euro (está neste momento a fazer 1,316) e até o franco suíço (que está a fazer 1, 218 contra o euro) parece agora mais agarrado à moeda norte-americana que à moeda única europeia. O Yuan Renmimbi chinês, apesar da valorização pontual, deve manter-se no intervalo de variação em que tem flutuado nos últimos doze meses. A competitividade monetária resultante desta injecção de QE3 vai, portanto, sobretudo impor-se às economias da zona euro, se nada fizer inverter a tendência. Mas resolverá o problema da mola pasmada?
Duvido.

Voltando a Portugal, à QE3 da FED só podemos, parece, corresponder com a fé do senhor ministro das finanças. O que é manifestamente pouco. Quando em Maio do ano passado aquecia a campanha eleitoral em Portugal, anotei algures neste caderno de apontamentos que uma coligação que não englobasse os três partidos subscritores do programa de ajuda externa estaria condenada a não governar mais que dois anos.
Insisto nisto: O PS nunca deveria, nas circunstâncias da crise em que o país se afogou, ter sido dispensado de participar directamente na solução dos problemas de cuja criação foi principal protagonista. Não o tendo feito, o primeiro-ministro confronta-se agora com a totalidade da oposição externa e parte significativa do seu próprio partido. Até quando? Receio que me tenha enganado por excesso.

2 comments:

Anonymous said...

E quanto à China lançar uma nova moeda baseada no ouro? Quais as consequências para a nossa economia?
http://www.indiavision.com/news/article/business/339477/china-launching-gold-backed-worldwide-currency--now-the-americans-will-have-to-find-a-reason-to-go-to-war-against-china

rui fonseca said...

Obrigado pelo seu contributo, que me oarece interessante.
Vou analisar.