Tuesday, September 18, 2012

GASPAR VAI À ORAL - REVISÃO DA NOTA

Há dias, a cinco fusos daqui, ouvi através da Internet parte da entrevista ao primeiro-ministro, dois ou três dias depois do sua comunicação atabalhoada sobre (parte, veio a saber-se depois) das medidas de austeridade para 2013, incluindo aquela que viria a polarizar as discordâncias de todos os quadrantes políticos e sociais: a redução e aumento das TSU. Nessa entrevista, quando interpelado por um dos entrevistadores sobre a posição de P Portas sobre o assunto, Passos Coelho foi peremptório: O Governo é suportado por uma coligação de dois partidos e, em caso algum, o ministro de Estado e dos Negócios Estrangeiros, que é presidente do partido parceiro do PSD na coligação, poderia deixar de ter sido ouvido sobre um assunto tão importante. Se as palavras não foram estas, seguramente que o sentido foi este. A coligação parecia estar sólida, apesar dos rumores de que acusava indícios de fracturas.
 
Concluí: Na próxima reunião do Conselho de Estado, o ministro das Finanças não vai chumbar na prova oral porque nem o primeiro-ministro recua nem o presidente da República o demite. E o ministro passa administrativamente. Enganei-me, redondamente. Portas tinha sido ouvido e tinha discordado, e Passos Coelho cometeu um erro clamoroso ao declarar publicamente que estava certo de um acordo que não existia. Portas, que já ouvi ser acusado de se ter pronunciado ao retardador, fez o que devia ter feito e deixou ao primeiro-ministro a batata quente de se desenvencilhar do imbróglio.
 
Neste momento, tudo leva a crer que o primeiro-ministro vai apresentar-se em Belém na sexta-feira com uma alternativa para ultrapassar o impasse em que o Governo se meteu. Um alternativa que dificilmente poderá deixar de passar por um aumento gereralizado e progressivo dos impostos sobre os rendimentos, uma opção que, se tivesse sido adoptada desde o início, teria poupado estas confrontações de agora e evitado muitos erros no passado.
 
Por convicções, que não são indefenidamente inabaláveis, como agora se demonstrará, aqueles que defendem a redução da intervenção do Estado na economia, opõem-se sistematicamente ao aumento de impostos, o que, reconheça-se é uma atitude consequente com as suas opções de liberalismo económico. Esquecem-se, ou não querem lembrar-se quando são eles os maiores ganhadores com as obras e serviços que o Estado lhes encomenda, que, enquanto há crédito há dinheiro, se não sobem os impostos agora sobem descontroladamente a dívida e os juros, que se traduzirão em impostos que nos engasgam amanhã. Isto é, estão a engasgar-nos agora porque nos iludimos antes.
 
Passos Coelho entendeu (mal, insisto) desobrigar o PS de empurrar a carga com que o governo anterior, sobretudo, sobrecarregou, e deixou sobrecarregar, de endividamento até ao insuportável os portugueses. Desta vez, ouviu Portas e desvalorizou, e agora está só no meio de uma conjuntura medonha. Mais uma vez a intervenção mais activa do presidente da República poderia carrilar uma situação a caminho de um descarrilamento à grega. Mas nem Passos se entende bem com ele nem também ele se entende bem com Passos.
 
Tudo considerado, a redução/aumento da TSU não deve fazer parte da prova oral de sexta-feira e haverá um aumento considerável dos impostos com que terão de pagar erros de obras megalómanas do passado, participações público privadas suportadas por pressupostos falseados, serviços sem préstimos, roubos impunes (só à sua conta, o BPN representará uns 5% do PIB), empresas públicas e municipais descontroladas, juros insuportáveis. Gaspar passará coxo na oral, e talvez Passos e Portas se entendam até ao próximo aperto da austeridura.

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Act.- Ouço parte  de um discurso do secretário de estado adjunto do primeiro-ministro reafirmando que o Governo vai manter a proposta de redução/aumento da TSU, modelando-lhe alguns efeitos junto dos trabalhadores com salários mais baixos.   

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