Uma sondagem realizada pela Universidade Católica (ref aqui) mostra uma rotunda queda do PSD e uma pequena subida do PS nas intenções de voto dos portugueses. Mais impressionante, contudo, do que a queda previsível dos partidos que formam a coligação do Governo é a desesperança do eleitorado: 60% dos portugueses não vê alternativa credível ao actual Governo.
Há pouco mais de um ano, o PSD ganhava destacadamente as eleições
mas era por demais óbvio que o período do estado de graça seria curto. A situação dramática em que o país se encontrava, e da qual ainda não se desembaraçou, fazia prever que a coligação, se desobrigasse o PS de participar no esforço político de implementar as medidas que o Governo anterior tinha negociado com a troica, em pouco tempo ficaria queimada pelo tição que iria pegar.
Na altura, escrevi aqui, o que me pareceu óbvio:
Qual será o comportamento do PS, fora do Governo, se a maré alta do descontentamento saltar para a rua? O PS é subscritor do memorando (MoU) mas a aplicação deste não obedece a critérios tão objectivos que não possam provocar diferenças de interpretação e os resultados diferentes leituras logo à partida. Repare-se, por exemplo, na tão controversa redução da TSU. Quando o Governo e os partidos subscritores do MoU se comprometem a uma "major reduction" de quanto é que se está a falar? Sabemos que não se trata de uma redução pequena e gradual, como, para efeitos eleitorais, tem prégado Sócrates. Mas não sabemos quanto nem como. Só esta questão, e há dezenas delas sensíveis à controvérsia, dá para excitar a opinião pública ao rubro e corroer o governo.
Uma coligação tripartida parece, neste momento, estar fora das perspectivas dos partidos da troica, apesar de ter sido, e continuar a ser, sujerida de vários quadrantes politicos. Do meu ponto de vista, que defendo praticamente desde quando iniciei este caderno, há mais de cinco anos, Portugal, na situação de crise em que se encontra há mais de uma dezena de anos, precisa de um governo que represente a grande maioria a população. Será sempre um governo fraco o que deixar de fora a representação de quase 50% dos portugueses
Um pouco depois de mais de um ano do actual Governo ter tomado posse, confirma-se o óbvio.
Há muita gente, politicamente influente, que continua a rejeitar sem concessões uma solução de governo alargado. Por razões óbvias, o BCP e o BE afirmam-se contra, ainda que obtivessem dividendos. O líder do PS sente-se confortável, vê aumentar a sua popularidade e a votação no seu partido, limitando-se a defender propostas de que nem ele sabe os contornos, as consequências e as possibilidades de concretização, mas que emprenham os ouvidos dos eleitores arreliados com uma situação de que são os menos responsáveis.
Apesar do recente rombo, publicamente denunciado na comunicação social (uma garotice, segundo uma eminência parda) nas relações institucionais entre os dois partidos no Governo, tudo leva crer que a ruptura final, por agora, fica adiada. Mas que ela ocorrerá um dia destes, é tão certo como Portugal continuar a ver o desemprego a subir, a economia imersa, a dívida a subir e o défice a recusar-se a ir ao sítio, e o simpático António José seguro nas sondagens.
Para corrigir uma rota errática, que já vem de longe, é preciso determinação mas esta não significa auto suficiência. A redução/aumento da TSU, à volta da qual se gerou todo o charivari que monopolizou a discussão política, não parece agradar nem a empregados nem a empregadores. O aumento das contribuições dos trabalhadores corresponde, inquestionavelmente, a um aumento de impostos. Só por obsessão ideológica enveredou o PSD por uma via em que atascou o Governo. Se os compromissos com a troica não lhe permitem outra margem de monobra senão o aumento dos impostos, porque não diz isso de forma calara e concisa aos portugueses e procede como não pode (ou não sabe) deixar de proceder?
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