Tuesday, September 25, 2012

A MULHER DE JESUS

A interpretação do texto do sec II, tido por autêntico pela catedrática de História de Harvard que revelou na semana passada a tradução feita por especialistas de reconhecida competência, poderá vir a obrigar a Igreja Católica a rever a sua posição quanto à subalternidade a que votou a mulher desde a sua instituição formal?
 
A Igreja sustentou sempre a resistência das suas fundações na reacção tardia às convulsões que moldaram os caminhos das sociedades ao longo dos séculos. Quando, finalmente, reconheceu que o planeta terra era redondo ou o universo mais próximo heliocêntrico, já a ciência há mais de um século tinha posto em causa a criação divina do homem num lance instantâneo e demonstrado a evolução das espécies. Não há na história da Igreja nenhum salto abrupto a partir de uma revelação científica.
 
Não é, portanto, esperável que o reforço que este documento poderá induzir nas posições de leigos ou exegetas, favoráveis quanto à paridade da condição humana no seio da Igreja independentemente do sexo, possa alterar subitamente as convicções ancestrais da hierarquia. Essa evolução, que concederá às mulheres a dignidade teológica reservada aos homens e a liberdade de se realizarem, mulheres e homens, integralmente como seres humanos, acabará por decorrer da crescente crise vocações, um eufemismo que não significa outra coisa senão a crescente falta de capacidade da Igreja para motivar os jovens para uma carreira de sacerdócio.
 
Muito cruamente, a hierarquia da Igreja em matérias em que o sexo impere sempre preferiu fechar os olhos às transgressões aos seus tabus, mesmo quando estavam (ou estejam) envolvidos alguns dos seus mais altos dignitários. Os múltiplos processos de pedofilia, por exemplo, que têm sido notícia nos últimos anos, e têm levado à falência de algumas dioceses, não poderão deixar de ter na sua origem, na maior parte dos casos, a repressão institucional de uma parte substancial da condição humana que induz comportamentos aberrantes. Apesar destes e de muitos escândalos que habitam na sua história, a Igreja não deu qualquer sinal de mudança. Mudará agora com um documento onde consta uma alusão breve e imprecisa ao eventual casamento de Jesus? Não é crível.
 
Mudará por razões de oferta e de procura, uma perspectiva relativamente à qual a Igreja sempre manteve os olhos bem abertos. A Igreja será cada vez mais pressionada a alargar o seu campo de recrutamento de vocações num mundo onde a concorrência religiosa está a aumentar. E, por essa razão, indirectamente, talvez o tal documento favoreça os ventos competitivos de mudança .  
 
 
 
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