Friday, September 21, 2012

AS CONTAS DO BANQUEIRO

O banqueiro Ulrich não se coíbe de dizer o que pensa, honra lhe seja.
 
Lê-se aqui que ontem disse à Reuters que, se a medida relativa à taxa social única avançar, o BPI deverá ter um ganho de 10 milhões de euros em 2013, e que a Comissão Executiva do banco quer reinjectá-lo a favor dos colaboradores do banco, da qualidade do serviço e da própria economia. Quanto é que os executivos pretendem reinjectar nos colaboradores, na qualidade do serviço e na economia, não sabemos. O que sabemos é que, contas feitas, têm 10 milhões para fazerem deles o que entenderem.
 
Mas também podemos fazer uma ideia. Comecemos pela economia. Como é que o BPI vai reinjectar na economia e quanto? Durante o primeiro semestre deste ano, o banco facturou, segundo relatório divulgado aqui cerca de 603 milhões de euros. Se fizer uma segunda parte idêntica, facturará no ano cerca de 1,2 mil milhões de euros. Admitamos que em 2013 faz, pelo menos, o mesmo. Admitamos ainda que, a reinjecção na economia de que fala Ulrich será concretizada sob a forma de redução dos preços (juros, comissões) e que, patrioticamente, lhe destina metade dos 5 milhões. Quanto se reduzirão, por este efeito, o custo dos encargos financeiros dos clientes do BPI? Quem divide 5 por 1200, encontra um balúrdio de 4,167 por mil!
 
Acrescentou o banqueiro Ulrich, além do mais, repreendendo os líderes empresariais e líderes de associações empresariais, que pensam de outro modo, que eles "deviam deixar as questões políticas aos políticos, por isso é que os elegemos", "O que está em cima da mesa é um bolo de 2.000 milhões de euros” e que “o impacto que isto terá na economia depende do que as empresas façam"
Mais:
Fernando Ulrich referiu que seria "pedagógico" outras empresas dizerem o que vão fazer com uma descida da TSU "porque ajuda as pessoas a perceber o que é que pode resultar daqui".
 
Ora, é fácil perceber, senhor banqueiro Ulrich que as empresas que se confrontam no mercado com a concorrência externa serão levadas a aproveitar a redução da TSU para reduzir os preços, ainda que essa redução seja imperceptível se as outras, as que não estão sujeitas à concorrência externa, comerem parte ou a totalidade do bolo, como se propõe fazer o BPI.
 
Por outro lado, senhor banqueiro Ulrich, o senhor sabe que aos reformados da segurança social procedentes dos sectores privados estão a ser, e vão continuar a ser, cortadas duas prestações das suas pensões de reforma, pensões que foram calculadas em bases anuais, que por cretinice máxima foram dividas por 14 e, duas delas, por cretinice absoluta, alcunhadas de subsídios ( um deles, subsídio de férias a reformados!). Mas há excepções, senhor banqueiro Ulrich. Várias. Entre as quais, os reformados bancários!
 
O orçamento geral do estado é, não devia ser mas é, um composto por dois reservatórios - receita e despesa - onde os impostos e as contribuições para a segurança social se confundem em vasos comunicantes. Os sucessivos governos têm lançado mão das contribuições da segurança social para reduzirem os défices do Estado. Contas que deveriam ser claras, são omitidas à opinião pública. O que é que isto significa? Que aos pensionistas a quem são cortadas duas prestações da sua pensão contratualizada (forçadamente contratualizada com o Estado) é imposto um grau de contribuição de austeridade superior aqueles a quem esse esforço proporcional não é pedido. Isto é, quando o banqueiro Ulrich reinjecta nos vencimentos dos colaboradores do banco parte daquilo que a redução da TSU lhe garante, está objectivamente a agravar ainda mais aquela iniquidade.   
 
Lamentável, senhor banqueiro Ulrich, além do mais,  porque foram os senhores banqueiros, de braço dado com os políticos quem cavaram o buraco em que nos lançaram.

No comments: