Wednesday, February 04, 2009

O PREÇO DO BURACO NEGRO

Buracos negros há muitos. Todos os dias somos atingidos com notícias que nos prometem ir ao bolso, na sequência de buracos que alguns abriram e que, certamente, terão de ser tapados pelos contribuintes. Ora é desta inevitabilidade, de que têm os contribuintes que pagar o que outros roubaram ou destruiram, em que nos querem fazer crer, que ninguém fala e eu não percebo porquê.

A manchete de alguns jornais diários de hoje é a declaração de ontem do vice-presidente do BPN de que o buraco financeiro deste banco é de 1800 milhões de euros, ainda com tendência crescente, o que, segundo o Público, daria para construir 360 quilómetros de auto-estrada ou para financiar mais de metade do novo aeroporto (avaliado em 3,3 mil milhões) ou um quarto do TGV.
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O vice-presidente, que depunha perante uma comissão parlamentar, acrescentou que a CGD já tinha injectado 1,4 mil milhões no BPN o que poderá obrigar o banco público a recorrer de novo ao Estado para reforçar os seus capitais.
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Dito de outro modo: este e os outros buracos negros que já se conhecem, sem se conhecerem as profundidades, e de outros que certamente vão continuar a aparecer nos tempos mais próximos, vão sugando os recursos e a credibilidade financeira internacional do Estado, de tudo resultando uma pirâmide de facturas colossais que terão de ser pagas por todos os portugueses.
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Ora é esta inevitabilidade que merece a maior repulsa mas ninguém repele. Muita gente contesta os investimentos, megalómanos segundo eles, no novo aeroporto e no TGV. Talvez tenham razão porque a dívida acumulada é tanta que a burra não vai continuar a aguentar sem dar de lado. Mas porque carga de água devemos todos, os que em nada contribuiram para estes buracos, até mesmo os que ainda nem sequer nasceram, ajudar a tapá-los?
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Antes de mais o governo deveria tornar público os contornos do buraco aberto. Quem o abriu, que dimensões tem, quem encheu os bolsos com o que de lá foi retirado. Porque o buraco não se abriu retirando vácuo. É este esclarecimento que tarda, é a falta de responsabilização e de devolução do furto, é todo este encostar resignado ao orçamento do Estado, que um dia destes derrubará as instituições democráticas porque a carga de injustiça excedeu a capacidade de resistência do regime.

8 comments:

António said...

Boa noite.
Já vai em 1800 milhões.
E como você sabe o Dr. Cadilhe é que era o mentiroso.
Quem trabalhou muito bem fazendo jus ao chorudo ordenado e restantes mordomias que lhe pagamos foi o sr. governador. O da entidade que devia impedir logo no início coisa muito menores que aquilo.
Devia andar muito ocupado a fiscalizar o BCP, o BPP, o Finibanco e talvez a tentar compreender como ganhava tanto para pagar o pouco ou nada que fazia.
Mas buraco, buraco, parece ser o da Dívida Externa.Nem sei dizer aquele valor.
Você sabe?
E saberá como se diz, caso o comboio e a pista de aviões vá para diante?
Como será?

A Chata said...

Barack Obama to impose $500,000 cap on top executives' pay
President Barack Obama will announce today that he’s imposing a cap of $500,000 on the compensation of top executives at companies that receive significant federal assistance in the future, responding to a public outcry over Wall Street excess.

Last Updated: 3:13PM GMT 04 Feb 2009

Pode não funcionar na prática (há tantas maneiras de dar a volta) e nem ter grande impacto na resolução da crise mas, tem certamemte um efeito benéfico no estado de espirito da população.

Para aqueles que como este,

Efforts to curb executive pay may backfire, said Scott Minerd, chief executive officer and chief investment officer of Guggenheim Partners Asset Management, who helps oversee more than $30bn in stocks and bonds.
The Obama measure is “too draconian and too arbitrary, and doesn’t take into account free-market forces,” said Mr Minerd“Companies that need the most talented people to fix their problems won’t be able to pay them.”

estão com medo de perder esta gente tão "talentosa", digo: pois eles que vão procurar emprego noutros países e desejo boa sorte a quem os empregar.

Embora, por principio, não concordar com "purgas" parece-me que estanos a precisar de algumas.

A podridão que tem estado a vir ao de cima é tanta que é preciso dar alguma satisfação às populações expoliadas.


Esta noticia é interessante.
Quando a li, pensei, onde é que já ouvi falar deste país o Kyrgystan?

Kyrgyzstan to close US air base

Kyrgyzstan has announced that it is to close a United States air base on its territory which is vital for Washington's military operations in Afghanistan.
The closure would interfere with US plans to send additional troops to Afghanistan in the coming months.
Kurmanbek Bakiyev, the Kyrgyz president, announced the decision on Wednesday after securing Russian aid during talks with Dmitry Medvedev, his Russian counterpart, in Moscow.
...
http://english.aljazeera.net/news/asia/2009/02/20092411526793937.html

Resolvi procurar.

China strengthens its role in Kyrgyzstan
By Daniel Allen
Aug 1, 2008

BEIJING - At the high-altitude Irkeshtam border crossing a convoy of shiny Chinese rigs waits to cross into Kyrgyzstan. Facing the deserted vehicles, a snaking line-up of battered Kamaz trucks with Kyrgyz plates sits patiently, returning to China to load up with more cheap cellphones, TV sets and plastic kitchenware.
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China is steadily strengthening political and economic ties with small, landlocked Kyrgyzstan, with one eye on the sizeable energy reserves of its neighbors to the north and west. At the same time, Kyrgyzstan's dependence on Chinese income and infrastructure grows deeper by the day
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China is now making moves to become the new Central Asian superpower. It is constructing roads, factories, power plants and pipelines and filling supermarket shelves with cut-price consumer goods bought with low-interest loans from Chinese banks.
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Indeed, the growing influence of China within Kyrgyzstan's corridors of power, and in the foreign policy of other Central Asian states, has led to fears in Washington that the SCO is being developed to counter US interests in the region. These fears have been strengthened by the recent inclusion in the SCO of Iran, Pakistan, India, Mongolia and Afghanistan as either observer or guest nations.
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Despite claims by Russian president Vladimir Putin and Hu Jintao that the SCO is not being built up as a rival to the North Atlantic Treaty Organization, or NATO, the SCO has already secured the closure of a US military base in Uzbekistan in 2005. A similar base at Kyrgyzstan's Manas Airport in Bishkek, which is proving crucial for US and coalition operations in Afghanistan, remains open in spite of Sino-Russian pressure, although the rent has jumped to more than US$150 million a year (roughly 7% of Kyrgyzstan's entire GDP).
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Levanta-se uma ponta do tapete e saltam-nos chineses por todo lado...

Miguel Madeira said...

Ainda não percebi muito bem os 1.800 milhões do BPN: isso são resultados liquidos negativos de 1.800 milhões, um passivo de 1.800 milhões ou uma situação liquida negativa de 1.800 milhões?

Rui Fonseca said...

"Mas buraco, buraco, parece ser o da Dívida Externa.Nem sei dizer aquele valor.
Você sabe?"

Caro António,

No final de 2007, segundo o Banco Mundial, a dívida externa portuguesa total equivalia a 201,6%do PIB, sendo do Estado 47,9%, Autoridades Monetárias 3,8%, Bancos 111,2% Outros Sectores 30,8%"Outra dívida 7,8%.

Cerca de 30% vencia-se a curto prazo.

Não conheço os números para 2008 mas sabemos que a dívida tem estado a crescer a cerca de 10% ao ano. Nesta altura deve ultrapassar
os 210% do PIB.

É uma senhora carga!

Rui Fonseca said...

"Levanta-se uma ponta do tapete e saltam-nos chineses por todo lado..."

A nossa cara Amiga A., há muito que anda com amarelofobia.

A mim não me preocupam as dinâmicas chinesas mas os nossos imobilismos.

É realmente impressionante a trajectória da China nas últimas décadas. Mas não penso que seja caso para nos assustarmos. Mas que o andamento chinês impõe um andamento diferente aos ocidentais é um facto que não podemos ignorar nem contrariar.

Temos de nos adaptar.

Foi sempre assim, segundo Darwin.

Rui Fonseca said...

"Ainda não percebi muito bem os 1.800 milhões do BPN: isso são resultados liquidos negativos de 1.800 milhões, um passivo de 1.800 milhões ou uma situação liquida negativa de 1.800 milhões?"

Presumo que sejam "imparidades" um termo hoje muito em voga.

Um activo sem consistência é uma imparidade. Está inscrito mas
não existe, nunca existiu, ou deixou de existir, total ou parcialmente.

A Chata said...

"A nossa cara Amiga A., há muito que anda com amarelofobia. "

Se lhe fei essa impressão foi sem querer.Não é uma questão de medo.

Não tenho nada contra a China e até acho que a politica economica seguida pelo governo chinês, a avaliar pelos resultados, foi muito mais inteligente que a do ocidente.

O que me inquieta é o aparente 'descaso' com que a China é tratada.

Acho essencial para resolver os problemas termos uma visão realista e desapaixonada do Mundo.

Sinto que se continua a falar da posição da China no Mundo actual como um país emergente, cuja prosperidade vai acabar a qualquer momento.

Parece-me que muitas pessoas se recusam a aceitar que o cenário mudou.

A China tem muitos problemas para resolver mas, queiramos ou não é hoje uma potência que não pode ser ignorada e cuja dinamica tem que ser levada em conta como factor para as soluções que queiramos encontrar.

Rui Fonseca said...

"A China tem muitos problemas para resolver mas, queiramos ou não é hoje uma potência que não pode ser ignorada e cuja dinamica tem que ser levada em conta como factor para as soluções que queiramos encontrar."

Inteiramente de acordo.

Ouvi esta manhã na rádio que pela primeira vez a China ultrapassou os EUA na venda de automóveis.

Há cerca de 15 anos o veículo mais ugtilizado era ainda a bicicleta.

Eu estive lá nessa altura e testemunhei isso mesmo: Nuvens de bicicletas a atravessarem as avenidas por onde hoje circulam automóveis que contribuem para que Pequim seja uma das cidades mais poluídas do mundo. Notável, no entanto,é também o esforço dos chineses para incrementarem o uso de veículos eléctricos como forma de reduzirem os níveis de poluição atmosférica.