Thursday, February 12, 2009

A GLOBALIZAÇÃO DO TRABALHO

E esta proposta, que tal?

IBM offers to shift laid-off workers to lower-wage countries
Some of the workers being let go by IBM have a chance to remain with the company - if they're willing to move to Brazil, India, China or a dozen other low-wage countries. But the expatriate employees likely would be paid local wages as they begin their new lives overseas.
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A questão que levanta no seu comentário, e a que só agora respondo por ter, entretanto, tentado divulgar e comentar os números que caracterizam o beco em que estamos metidos, é de resposta complexa.
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Há dias perguntava-me um amigo meu o que me parecia do caso, para ele intolerável, de um empregador norte-americano querer contratar um técnico altamente especializado asiático para trabalhar nos EUA pagando-lhe um salário bastante inferior ao correntemente pago a técnicos norte-americanos com qualificação semelhante (no caso que me descreveu, a qualificação do asiático até seria superior ao dos norte-americanos).
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Moralmente, parece-me mal, mesmo muito mal, respondi-lhe.
Em termos económicos não posso senão pensar do modo seguinte: o ordenado deverá resultar da negociação livre entre empregador e empregado. Se alguma lei impuser o pagamento de salários aos imigrantes iguais aos que são pagos a nacionais, para funções e com competências semelhantes, os empregadores recorrerão a trabalhadores imigrantes se a oferta de nacionais for insuficiente para satisfazer a procura num determinado momento. O que implica uma travagem na imigração e a sustentação de salários elevados. Com repercussões na competitividade, para além do incremento dos casos dramáticos de emigração clandestina.
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Se assim acontecer, não se movendo os trabalhadores por restrições à imigração, que podem ser salariais ou outras, movem-se as empresas. É o que está a fazer, segundo a notícia que transcreveu, a IBM. Neste caso, a empresa deslocaliza-se para um território onde os salários são mais baixos e onde ela conta com uma suficiente oferta de capacidades locais. Neste caso, a concorrência processa-se em sentido inverso mas as consequências são as mesmas: aos que trabalham em países com salários mais elevados é oferecida a possibilidade de continuarem a trabalhar para a empresa mas num outro país onde os salários pagos são mais baixos.
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Moralmente, como comecei por dizer, estas práticas parecem contrariar os direitos cívicos, e a nossa reacção é condenatória.
Mas, olhando para o outro lado da questão, o que é que vemos?
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Se a imigração é constrangida de modo a salvaguardar os interesses dos residentes dentro das muralhas, a sociedade tende a esclerosar-se por ausência de competição externa. Em Portugal existem neste momento centenas de milhares de trabalhadores estrangeiros e milhões de trabalhadores portugueses a trabalhar no estrangeiro. Ainda há bem poucos dias trabalhadores ingleses se rebelaram contra a entrada de trabalhadores portugueses e italianos.
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No caso da União Europeia, o problema mais delicado do seu funcionamento, e o maior perigo à sua consolidação política, é precisamente a falta de mobilidade do factor trabalho. Contrariamente ao que ocorre nos EUA onde a mobilidade é elevada até porque há uma língua comum, ainda que o espanhol esteja em progressão notável, na UE os constrangimentos à mobilidade do factor trabalho são muitos a começar na diversidade linguística.
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Lamentavelmente, confrontando-se Portugal neste momento com uma dívida externa galopante que será forçada a travar-se, e que está a parar o já débil crescimento económico que se vinha observando, muitos portugueses serão obrigados a emigrar e muitos imigrantes a trabalhar em Portugal obrigados a regressar aos seus países de origem. Ora estes fluxos migratórios não podem deixar de provocar alterações salariais nos países para onde as correntes migratórias se dirigem. Outra hipótese, politicamente inexequível, seria a redução global dos salários em Portugal, independentemente de muitas outras medidas que poderiam minorar a redução ou o desemprego.
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Poderia tudo isto ser planificado de modo a evitarem-se ajustamentos que terão sempre consequências traumáticas e a salvaguardem-se os princípios morais? Talvez possa, mas as experiências tentadas até agora têm-se mostrado desastrosas. Talvez porque
"no hay camino, el camino se hace al caminar"

2 comments:

A Chata said...

Caro amigo

No que diz respeito à proposta da IBM, acho que estou mais inclinada a concordar com a analise expressa no artigo por Ron Hira:

Ron Hira , an assistant professor of public policy at Rochester Institute of Technology in New York and author of the book Outsourcing America , said it's hard to know exactly what IBM's motivation is for Project Match program.
But, he added, "for workers, it is a clear indication that IBM plans on accelerating its massive offshoring of U.S. and Canadian jobs." Citing IBM India's rapid growth , Hira questioned whether Project Match was really a publicity stunt -

"a way to indicate compassion with zero real costs."


Fez-me lembrar a oferta de mão-de-obra barata feita à China pelo nosso ministro.

" a falta de mobilidade do factor trabalho. "

Qual trabalho?
O que está a desaparecer dia a dia?

"O que implica uma travagem na imigração e a sustentação de salários elevados. "

Que salários elevados?

Os salários em geral têem estado praticamente estagnados há muitos anos e não é só devido à imigração mas, também à generalização de contratos precários e mal pagos e à deslocalização das empresas para a Ásia.

A tão famosa "criação de riqueza" das últimas decadas só foi real para uma meia-dúzia, a da grande maioria não passou de endividamento descontrolado.

Rui Fonseca said...

"Que salários elevados?"

Cara Amiga A.,

Conto voltar ao tema nos próximos dias com um post dedicado ao assunto.