Thursday, November 13, 2008

UMA CRISE ALEGRE

Ouço na rádio esta manhã que o reitor da Universidade Nova se demitiu para logo de seguida admitir que se candidata às próximas eleições, copiando, deste modo o discurso do seu colega da Clássica de Lisboa, que aproveitou a sessão de abertura do novo ano lectivo para desabafar contra o governo que não lhe dá os fundos que diz precisar e ainda por cima se ingere sistematicamente no governo das universidades. Os da tropa, desde os sargentos aos generais, almoçam e jantam para protestar e faltam às refeições nos quartéis com o mesmo objectivo: ameaçar que podem fazer disparates se o governo não lhe atende as reclamações de tratamento adequado, isto é, mais dotações no orçamento. Os professores do ensino secundário queixam-se do sistema de avaliação, coisa que seria dispicienda se não lhes cortasse as carreiras automáticas. AJJ, dono da Madeira e Porto Santo, decide que no seu território todos os professores são iguais e bons. Em Coimbra, os estudantes promovem mais uma manifestação de contestação às propinas. Ontem, em Fafe, a ministra da educação foi mal recebida pelos estudantes do secundário que contestam o estatuto do estudante; hoje, Chuva de ovos recebe secretários de Estado da Educação à entrada de escola em Chelas e o Presidente do Conselho das Escolas alerta para "ambiente de tensão" no ensino. Um rosário infindável de contas negras.
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Entretanto, OCDE e FMI em sintonia sobre recessão da Zona Euro no próximo ano ao mesmo tempo que a Alemanha anuncia ter entrado em recessão técnica no terceiro trimestre do ano.
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Os sinais de crise acentuam-se por todo o mundo através de notícias de perdas de actividade e aumento de desemprego, encolhendo os orçamentos. Em Portugal, alegremente, tentam esticá-lo puxando cada um a sua ponta. Por este andar, ainda acabarão por rasgá-lo.

5 comments:

António said...

Boa noite.
Esta coisa está assim a modos que a ficar sem conserto. Há rasgões a mais para uma manta tão enfraquecida.
Como está à vista, quem lhe provocou maiores danos, não foram os que agora estão lá muito em cima e que por perderem alguns privilégios já dizem que ou me agarram ou eu mato-o.
Era mordomia e desigualdade a mais, ainda é, mas não lhes chega.A grande maioria, cada vez mais vai tendo menos, mas isso faz parte da democracia nacional que é uma coisa muito nossa. Ou muito deles, como costumo dizer.
As universidades terão de funcionar sem dinheiro ou então abona-se o necessário e não se fala mais nisso, a não ser que queiram seguir a sua sugestão.
A educação, ou a falta dela, está a sair da casca e a reivindicar o seu espaço. A pouca vergonha, a violência e a revolta estão aí.
Dirá o Estado, segurem-me senão... ou vai ficar tudo como está?
Parar, andar devagarinho ou andar para trás?
Não deve haver muita crise. O pior Natal de há muito, está à porta e para o ano há eleições.

aix said...

Caro Rui, com todas essas pertubações e outras que se podem acrescentar, a paz social está mesmo ameaçada. Os tempos não são de facilidade nem para governantes nem para governados. Embora nem sempre comedida nas suas análises políticas creio que, neste caso, a sugestão de um «pacto social» para a educação que acaba de ser proposto pela conferência episcopal é ponderada e de bom-senso. Porque rebentou esta bolha agora? Nunca me lembrei tanto do ditado “casa onde não há pão...”. Porque a questão é esta: a manta não pode esticar para todos os lados. Se não vejamos:
-o Reitor da Clássica (que já foi meu director e admiro) invoca falta de verbas para justificar a sua (não) demissão
-os profes invocam burocracia de processo para contestar a avaliação
-na atitude (como sempre de incomensurável demagogia) do madei/rense/reiro ajj vejo resquícios de vingança pela limitação de verbas atribuidas pelo governo central
-os da tropa “fandanga” lutam por previlégios como os da assistência médica e medicamentosa para um leque de familiares que vão das esposas às sogras e outros parentes
-a contestação da avaliação (não deles mas dos seus profes) feita por alunos faria rir se não fosse tão ridícula.
Perdeu-se o tino: se enveredarmos pelas políticas de (auto)demissões vamos parar aonde? Até no futebol há limites de expulsões para o jogo poder continuar. O que é que ganhou a saúde com a demissão do ministro no auge das (necessárias) reformas? Diz-se que “no entrudo vale tudo”, mas política não é entrudo. Então os que maioritariamente votaram não se podem sentir defraudados por os seus eleitos serem afastados por pressões, sejam elas políticas ou sociais? Depois, no meio desta balbúrdia, sobressai tudo o que for para confundir. Vaja-se o caso da avaliação de desempenho, onde (como sabes) me sinto à vontade. Ainda ninguém distinguiu 2 conceitos básicos: a valiação e a sua aplicação. É que avaliados somos todos, é da natureza humana. Até o teu (magnífico) blog é avaliado pelos que o frequentamos. Daí a necessidade de passar a avaliação de um processo empírico para um processo de rigor metodológico (já que científico é impossível). Mas outra coisa é a aplicação da avaliação, ou seja, os seus efeitos: estes são do domínio exclusivo da gestão, podendo ter (ou não) implicações financeiras. Só há uma finalidade indiscutível da avaliação: a melhoria de desempenho do avaliador e do avaliado.Desculpa a extensão do comentário.

Rui Fonseca said...

"As universidades terão de funcionar sem dinheiro ou então abona-se o necessário e não se fala mais nisso, a não ser que queiram seguir a sua sugestão."

António,

A minha proposta, perdõem-me a imodéstia, é incontornável.

Não é possível, com o crescimento que a despesa pública tem observado relativamente ao PIB, que não aconteça nada relativamente às propinas no ensino superior.

O ensino universitário tendencialmente gratuito não é apenas insuportável pelo orçamento do Estado como representa uma política altamente injusta para os que não podem de modo algum entrar na universidade por razões económicas, enquanto outros, que podem pagar, se dão ao luxo de andar por lá quase gratuitamente, muitos deles sem aproveitamento aceitável.

Por outro lado, é incompreensível para mim que um casal pague mais para ter os filhos num jardim de infância que na universidade.

Subsidie-se sim quem não pode e merece.

Enquanto isto não acontecer as universidades não deixarão de sofrer o contágio das fraquezas do orçamento e, pios ainda, não se renovarão nunca. Como recebem do Estado conforme os alunos que têm inscritos nunca haverá incentivo para selecionar e melhorar.

Salvo melhor opinião.

Rui Fonseca said...

Cara Amiga A.,

Copio do seu interessante comentário a parte final

"Só há uma finalidade indiscutível da avaliação: a melhoria de desempenho do avaliador e do avaliado"

Assim deveria ser. Acontece, que se bem parece, a avaliação está sendo utilizada para os professores colocarem em causa todas as intenções da ministra em alterar-lhes aquilo que eles consideram os seus direitos adquidos.

Cavaco Silva, enquanto PM, entendeu definir o regime de carreira para a função pública.

Desse regime constava a avaliação de desempenho com forma de promover os mais capazes.

Saiu C Silva e entrou Guterres. O governo deste, com o orçamento folgado, decidiu aplicar o regime das carreiras mas a avaliação de desempenho não tinha restrições. Resultado: Eram todos bons ou execlentes. AJJardim fez o mesmo agora na Madeira.

Caro que este sistema é muito bom para os professores e melhor ainda para o governo que evita aborrecimentos mas tem um contra: implica o crescimento imparável da despesa.

Que é paga com os impostos que pagamos.

Sem alternativa, por não haver mais folga para mais crescimento da despesa, calhou à Maria de Lurdes fazer o trabalho mais difícil: impor uma avaliação de desempenho com restrições subordinadas uma distribuição normal: x% excelentes, y% bons, z1%regulares, Z2% abaixo de regular.
Ou qualquer coisa parecida.

Ora isto que parece fácil, é uma complicação tremenda, sobretudo se não houver uma determinação forte.

De modo que, minha Cara Amiga, ou a ministra consegue levar a causa a bom termo ou voltará tudo para trás. Não sei é como irão, neste caso, arranjar dinheiro para uma situação à deriva.

Isto sob o ponto de vista financeiro. Sob o ponto de vista da exigênciade qualidade, a situação não poderia senão piorar.

Salvo melhor opinião.

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Grato pela referência.
Quanto à extensão não se preocupe. Diga sempre tudo o que lhe vai na alma. Felizmente, por isto não pagamos impostos.

Rui Fonseca said...

Francisco,

Só agora reparo que o comentário era teu e não da Amiga A.

As minhas desculpas a ambos que, no entanto, não implicam qualquer mudança no meu comentário.

Esse nick name, Aix, ainda não o consegui ligar à tua pessoa.

Um abraço