A poupança das famílias está em queda desde 2013, tendo atingido no 2º. trimestre deste ano o valor mais baixo desde o começo do milénio.
Por outro lado, os portugueses nunca tiveram tanto dinheiro em depósitos à ordem.
As poupanças aplicadas nos Certificados do Estado, onde as taxas são
mais altas, aumentam mas estão longe dos 36 mil milhões depositados
pelos particulares nas contas à ordem. Depósitos valem 60% dos activos
da banca.
Certificados de Aforro vão render ainda menos em Outubro em consequência dos mínimos históricos consecutivos que têm sido atingidos pelas taxas Euribor.
O que é que está na origem do comportamento dos portugueses reflectido nestas notícias divulgadas pelos jornais nos últimos dias?
A srª. Manuela Ferreira Leite atribui na sua habitual coluna do Expresso a inusitada preferência pelos depósitos à ordem ao medo ao risco, ( ) e que muito provavelmente poderá estar relacionado, entre outros, com o caso "BES"*. Mas a confiança, sustentáculo primordial da actividade bancária, abalada por uma sucessão de escândalos, poderá condicionar o comportamento de alguns, mas apenas de alguns, daqueles a quem sobram no fim do mês algumas poupanças.
A razão de peso da preferência pelos depósitos à ordem, do meu ponto de vista, é outra: as taxas de juro a roçar o zero dos depósitos a prazo e das aplicações em títulos da dívida pública. Entre aplicações amarradas a prazos de vencimento e retribuições abaixo das taxas de inflação e a disponibilidade da liquidez dos depósitos à ordem, muitos daqueles que não gastam tudo o que ganham preferem os DO para o que der e vier. Se a desconfiança fosse suficientemente desmotivadora não teriam os lesados do BES embarcado em aplicações de alto rendimento poucos anos depois da erupção do escândalo BPN. E quem não confia na banca nem depósitos à ordem lhes confia.
As taxas de juro motivam a propensão para poupar ou consumir. Neste momento a motivação vai no sentido da preferência pelo consumo, preferencialmente produtos importados.
E assim se prepara o terreno onde germinam as crises: crédito barato, poupança escassa, consumo importado elevado, desequilíbrio da balança comercial, aumento do endividamento, estagnação económica.
---
* "Assim, confio que o distanciamento do Governo em relação a este caso não passe de aparência, porque, apesar de se tratar de matéria do domínio privado tem efeitos que atingem o interesse público. E não é pelo défice, é pelo crescimento económico", escreve, inigmaticamente, MFL a terminar o seu artigo.