Wednesday, September 30, 2015

RECAÍDA À VISTA

A poupança das famílias está em queda desde 2013, tendo atingido no 2º. trimestre deste ano o valor mais baixo desde o começo do milénio. 
 
Por outro lado, os portugueses nunca tiveram tanto dinheiro em depósitos à ordem. 
As poupanças aplicadas nos Certificados do Estado, onde as taxas são mais altas, aumentam mas estão longe dos 36 mil milhões depositados pelos particulares nas contas à ordem. Depósitos valem 60% dos activos da banca.
Certificados de Aforro vão render ainda menos em Outubro em consequência dos mínimos históricos consecutivos que têm sido atingidos pelas taxas Euribor.

O que é que está na origem do comportamento dos portugueses reflectido nestas notícias divulgadas pelos jornais nos últimos dias? 

A srª. Manuela Ferreira Leite atribui na sua habitual coluna do Expresso a inusitada preferência pelos depósitos à ordem ao medo ao risco, ( ) e que muito provavelmente poderá estar relacionado, entre outros, com o caso "BES"*.  Mas a confiança, sustentáculo primordial da actividade bancária, abalada por uma sucessão de escândalos, poderá condicionar o comportamento de alguns, mas apenas de alguns, daqueles a quem sobram no fim do mês algumas poupanças. 

A razão de peso da preferência pelos depósitos à ordem, do meu ponto de vista, é outra: as taxas de juro a roçar o zero dos depósitos a prazo e das aplicações em títulos da dívida pública. Entre aplicações amarradas a prazos de vencimento e retribuições abaixo das taxas de inflação e a disponibilidade da liquidez dos depósitos à ordem, muitos daqueles que não gastam tudo o que ganham preferem os DO para o que der e vier. Se a desconfiança fosse suficientemente desmotivadora não teriam os lesados do BES embarcado em aplicações de alto rendimento poucos anos depois da erupção do escândalo  BPN. E quem não confia na banca nem depósitos à ordem lhes confia. 

As taxas de juro motivam a propensão para poupar ou consumir. Neste momento a motivação vai no sentido da preferência pelo consumo, preferencialmente produtos importados. 
E assim se prepara o terreno onde germinam as crises: crédito barato, poupança escassa, consumo importado elevado, desequilíbrio da balança comercial, aumento do endividamento, estagnação económica.
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* "Assim, confio que o distanciamento do Governo em relação a este caso não passe de aparência, porque, apesar de se tratar de matéria do domínio privado tem efeitos que atingem o interesse público. E não é pelo défice, é pelo crescimento económico", escreve, inigmaticamente, MFL a terminar o seu artigo.

Tuesday, September 29, 2015

ENTRE BÓIAS

Ouve-se na Antena 1, noticiário das oito da manhã, que, segundo investigação da rádio estatal a ministra das Finanças, quando ocupava o cargo de secretária de Estado do Tesouro, pediu à administração da Parvalorem, empresa pública que ficou a gerir os ativos de má qualidade do ex-Banco Português de Negócios (BPN), que mexesse nas contas de forma a que estas revelassem um cenário de perdas mais otimista do que o real, reduzindo os prejuízos reconhecidos em 2012. Assim foi feito, e as perdas inicialmente reveladas de 577 milhões foram parcialmente reduzidas para 420 milhões ... A Antena 1, que transmitiu depoimentos confirmativos, de um interveniente identificado e de outro não identificado, informou ainda que pediu ontem esclarecimentos à ministra das Finanças sobre esta questão, mas ainda não recebeu resposta. 
Entretanto, horas depois, vd. aqui, a Ministra já desmentiu a "manipulação ou ocultação de contas".

Quem ouve esta notícia só por arreigado partidarismo pode deixar de considerar esta informação, no momento em que é feita, com evidentes intenções de socorro do candidato da oposição, embaraçado nos, geralmente inesperados, valores das sondagens. Irá o sr. António Costa lançar mão desta pequena bóia para tentar safar-se à última hora das previsões das sondagens? 

Por outro lado soube-se, também hoje, que vd. aqui, a taxa de desemprego subiu ligeiramente para 12,4% em Agosto.

As eleições do próximo dia 4 de Outubro podem ser determinantes para o governo nos próximos seis anos, qualquer que seja vencedor se o for, como tudo leva a crer, com minoria relativa. A não ser que, ganhando a coligação sem maioria absoluta, o sr. António Costa consiga reunir à esquerda uma maioria que o apoie. E convença o PR que essa maioria pode governar estavelmente o país. 

Uma bóia maior mas difícil de agarrar por um candidato que joga nestas eleições todo o seu futuro político.

Monday, September 28, 2015

DEMAGOGIAS & COMPANHIAS

Caríssimo António,,

As declarações do sr. António Costa acerca do aumento do défice em consequência do empréstimo do Estado ao Fundo de Resolução são sensivelmente demagogicamente equivalentes às do sr. Passos Coelho quando este garante que os juros pagos pelos bancos ao Fundo de Resolução são uma oportunidade para reequilibrar o défice.

A verdade é que nem a operação é uma revelação meramente contabilística (um registo contabilístico revela sempre um facto influente da situação patrimonial da entidade a que se reporta) nem os juros pagos (se forem pagos!) ao Estado são um negócio a explorar.

A verdade é que, para já, os valores emprestados ao FR estão às costas dos contribuintes. Sairão de lá? Veremos.

Há uma parte que não sairá: aquela parte que a Caixa terá de suportar enquanto membro maior do FR. Aliás, a CGD, informou-nos há pouco tempo o sr. Passos Coelho, ainda não reembolsou um centavo do empréstimo que recebeu para recapitalização há três anos.
Note-se que, nessa altura, recebeu ainda um aumento de capital. Tem pago pelo menos os juros? PC não disse.

Mas, para além da Caixa, há mais membros do FR em situação vulnerável. Ou não?

Depois, afirmou sr. Fernando Ulrich há uns tempos atrás que, se as perdas com a venda do Novo Banco atingirem um montante que coloque em risco o sistema financeiro, a participação no FR (relativamente à constituição do qual os banqueiros não foram formalmente ouvidos nem achados) dos, forçados, diferentes membros é matéria que pode ser impugnada. Para além da incontável multiplicidade de impugnações que já estão ou virão a ser montadas sobre este embrulhado caso.

Tudo conjugado, receio que o abalo do BES/Novo Banco terá uma intensidade sugadora que nos entrará pelos bolsos dentro não inferior aquela que nos está sugando o BPN.

Sem que a justiça tenha, até agora, acordado da conivente dormência
que a embala. 
E ninguém a acorda.

Sunday, September 27, 2015

80/80

- Oitenta por cento dos portugueses estarão convencidos que Sócrates cometeu os actos ilegais de que é suspeito. Vinte por cento acredita que ele está inocente.
- E oitenta por cento estarão convencidos que nunca será julgado culpado desses actos em tribunal. Vinte por cento acredita na justiça.

Saturday, September 26, 2015

COM QUEM VAI JOGAR O F C BARCELONA?

Em Novembro de 2014 coloquei aqui, em título, o mesmo titulo de hoje: "Com quem vai jogar o F B Barcelona" se nas eleições de amanhã os votos dos pró-independência forem claramente maioritários? 

No mesmo apontamento coloquei link para o El País que, nesse dia, apontava aqui: "Las 10 consecuencias económicas de una Cataluña independiente". 

 1 - Salida del euro y ausencia del BCE
 2 - Sin supervisión bancaria europea
 3 - Sin fondos estructurales y fuera del BEI
 4 - Impacto en los mercados y en la prima de riesgo
 5 - Dudas sobre la financiación, el déficit y la deuda
 6 - La caída del comercio y de los aranceles
 7 - Menos atractivo para la inversión extranjera
 8 - El riesgo de las deslocalizaciones
 9 - ¿El fin de la gallina de los huevos de oro del turismo?
10-  El coste de crear un nuevo país y del reingreso en la UE

Nenhuma destas 10 ameaças parece ter demovido os nacionalistas catalães. 
Hoje, quase um ano depois, o FT coloca aqui  a 11ª. ameaça : "Madrid warns Catalonia independence would be own goal for Barça", mais ou menos isto: Madrid alerta os independentistas catalães para um golo na própria baliza. Se a Catalunha se tornar independente, o Barça deixará de poder jogar na Liga Espanhola.
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Será que o 11º. argumento terá a força que os dez restantes, em conjunto, não parecem ter?
Amanhã, veremos.
.



Curioso é que, se for o caso, um português, neste caso Cristiano Ronaldo, tal como os restauradores em 1640, influencie, de algum 
modo, as pretensões nacionalistas dos catalães.


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A CULPA DOS SINDICATOS

- Ouvi esta manhã na rádio a líder do BE insurgir-se contra a concessão da exploração a gestão privada do Metro e Carris de Lisboa. Dizia ela que os contribuintes irão passar a pagar 55 milhões e euros por ano, a título de indemnizações compensatórias quando, até agora, essas contribuições andavam pelos 32 milhões. É mesmo assim?
- Não tenho ideia dos números em causa mas não me parece que esses estejam certos. Em todo o caso o que posso dizer é que a culpa da privatização da gestão dos transportes públicos é dos sindicatos.
- ?
- As indemnizações compensatórias são inevitáveis, se pretendermos ter uma cidade menos poluída, com menos automóveis a rodar ou estacionados, uma cidade com melhor qualidade de vida para todos, residentes, visitantes, turistas ... Mas o que a líder do BE não diz é que a culpa da privatização é, principalmente, devida ao comportamento dos próprios funcionários das empresas, comandados pelos sindicatos ...
- ?
- Quando eu lá estive, faziam-se concursos para admissão de motoristas. Concorriam mais de mil para cem vagas. Feitas as provas de admissão entravam cem com contrato a prazo, à experiência, por seis meses. Pois pouco depois de passarem ao quadro como efectivos entravam em greve!
- ?
- E eu dizia-lhes: vocês estão a penalizar sobretudo os menos favorecidos, aqueles que não têm automóvel, e a exigir aumentos de impostos que têm de ser suportados pelos contribuintes. Sim, aumentos de impostos porque como é que se pagam as indemanizações compensatórias com que se equilibram as contas da empresa? Diziam-me que também eles pagavam impostos ... E não cediam. Claro que, um dia, a privatização viria a tornar-se uma solução óbvia. Basta comparar o comportamento grevista nas empresas públicas e privadas de transportes públicos. 

Thursday, September 24, 2015

O JOGO DA CABRA CEGA

No meio da arruada geral, a abertura do jogo.

"Dez meses depois de ter sido decretada a prisão preventiva de José Sócrates, a Relação de Lisboa decidiu levantar o segredo de justiça interno no processo "desde a data de 15 de Abril de 2015", disse ao Negócios fonte do tribunal. Os advogados do ex-primeiro-ministro vão, assim, passar a poder ter acesso à prova constante do processo e que tem vindo a ser reunida pelo Ministério Público na investigação". 



"Para a equipa de Rosário Teixeira, que tem a investigação em mãos, este acaba por ser um revés, já que o Ministério Público tem insistido sempre na importância para a investigação da manutenção integral do segredo de justiça". - aqui


Wednesday, September 23, 2015

O QUE NOS VALE É O NOVO BANCO

Foi hoje confirmado, vd. aqui,  que "o défice orçamental de 2014 foi revisto em alta de 4,5% do PIB para 7,2% do PIB, reflectindo a recapitalização de 4,9 mil milhões de euros do Novo Banco feita pelo Fundo de Resolução, e os défices de 2015 e 2016 também podem vir a ser afectados."

O que diz o sr. Passos Coelho a isto? 
Diz que "Quanto mais tempo demorar a vender o Novo Banco, mais juros recebe o Estado", vd. aqui

O que diz o sr. António Costa ao mesmo?
"O programa eleitoral do PS foi feito com suficiente "realismo" para "acomodar" o "gigantesco buraco" orçamental divulgado pelo INE". - vd. aqui  

Podemos, portanto, dormir tranquilos: O Novo Banco é uma mina bem escorada. Quanto mais tempo demorar a venda, diz Passos, tanto melhor. Até porque, diz Costa, o gigantesco buraco está perfeitamente acomodado no programa do PS. Se o sr. Passos Coelho continuar como primeiro-ministro, o Novo Banco contribuirá para a redução do défice pretendida por Berlim, via Bruxelas; se o sr. António Costa vencer o torneio, o gigantesco buraco do Novo Banco será tapado pela abundância socialista enquanto o sr. António José Seguro esfrega um olho.

Tuesday, September 22, 2015

DEMOCRACIA ALTERNATIVA

No meu apontamento de ontem, IsabelPS colocou um link para este artigo publicado no Observador em meados de Julho, considerando ter encontrado nele "a solução mais interessante para este impasse democrático", e que fundamentalmente encarece a prática do orçamento participativo (OP) adoptada em alguns munícipios, com destaque para a experiência realizada em Cascais. 

Acerca do processo OP, das suas virtualidades e dos desígnios dos seus promotores e executantes, tenho fundadas dúvidas. O OP é uma ementa de pequenos projectos elaborada pelos autarcas para ser submetida às escolhas dos munícipes obrigando-se os primeiros a realizar os projectos mais votados pelos segundos. 
Não é difícil perceber que desta prática não resulta, necessariamente, uma escolha dos projectos socialmente mais úteis (a votação pode ser condicionada) mas os autarcas recolhem aplausos dos munícipes por uma prática de participação democrática limitada por uma lista fechada de opções. Por outro lado, os autarcas promovem-se pessoalmente junto da opinião pública através de meios publicitários (p.e. outdoors) com custos relativamente elevados considerando o valor dos projectos em votação. 

No caso de Cascais, a minha atenção insurge-se contra o elevado número de volumosos prédios degradados e abandonados há muitos anos, que a ninguém escapa, a menos que seja totalmente distraído, logo à entrada pela marginal no centro da cidade, que preferiu continuar a ser a Vila de Cascais. Perguntar-me-ão: E o que pode fazer a Câmara de Cascais contra aquela degradação urbana se não é proprietária das ruínas? Aliás, de um modo geral, porque o problema não é um exclusivo de Cascais, muito pelo contrário, o que podem fazer os autarcas para limparem a sujeira urbana que lhes desfeia as cidades, as vilas, as aldeias, e, além de reduzirem a qualidade de vida dos residentes (só os alarves se podem sentir bem na vizinhança de escombros) são repulsivos para os visitantes e turistas?

Podem, e devem, diligenciar incansavelmente para derrubar os obstáculos, legais ou outros, que impedem a limpeza das áreas urbanas dos escombros que as povoam. 
Sem que aos contribuintes tenha que ser pedido um cêntimo para essa limpeza.

O citado artigo merece uma leitura mais alargada.  Para não alongar um apontamento que já vai longo demais destaco:

"Pela primeira vez (em 2014, no OP de Cascais), os participantes tiveram direito a dois votos, um dos quais podia ser usado para votar contra um projeto e não a favor dele." 

"Nova Iorque tem muito a aprender com Cascais” - Lex Paulson

Quando, em Novembro de 2014, sugeri aqui a virtualidade do voto negativo, desconhecia o conceito Democracia 21, que se sustenta na multiplicidade de escolhas, favoráveis ou desfavoráveis, à disposição dos eleitores ou votantes. Mas não consigo constatar em Cascais os méritos enaltecidos pelo jornalista do Observador nem vislumbrar como pode, na matéria, Nova Iorque ter muito a aprender com a nossa cidade.


GRANDE E BICUDO É O PROBLEMA DAS PENSÕES

A nacionalização do banco já custou ao Estado 4,5 mil milhões, já reconhecidos no défice orçamental. Mas há ainda créditos de 3,2 mil milhões de cobrança duvidosa. A manter-se o ritmo de cobrança destes créditos observado desde 2010 até 2014, as perdas apagar pelos contribuintes, atingirão os 7,3 mil milhões de euros. - vd. aqui

Quanto custará o Novo Banco, ninguém sabe, ainda que os principais responsáveis políticos tenham começado por afiançar, tal como no caso do BPN, que os contribuintes não seriam chamados a pagar um cêntimo.

Por outro lado, vd. aqui, Portugal gastou 19,5 mil milhões de euros a ajudar bancos e o Banco Central Europeu, vd. aqui, lamenta que Governo tenha conseguido até agora uma taxa de recuperação "muito baixa".
 
Ontem, soube-se, vd. aqui, que "a CGD concedeu crédito a fundação que não existe" ... "Na mira da justiça está o Sindicato dos Quadros dos Técnicos Bancários e, mais propriamente, o seu presidente, Afonso Diz que é suspeito de ter desviado cerca de 38 milhões de euros dos cofres do sindicato."

Anda alguém a falar destes e doutros escândalos banqueiros, bancários e caixeiros,  na geral arruada em curso?

Monday, September 21, 2015

FALHAS DEMOCRÁTICAS

Em Novembro do ano passado anotei aqui duas ideias que me pareciam, e continuam a parecer, fundamentais para garantir maior autenticidade ao voto ou à abstenção dos eleitores. 

Uma delas, que na altura ouvi a Rui Rio, propõe a redução do número de deputados em cada legislatura em função da abstenção observada. 
Deste modo, os partidos seriam obrigados, além do mais, a promover todas as diligências necessárias à actualização dos cadernos eleitorais e a motivar a participação dos cidadãos nos actos eleitorais com propostas crediveis e entendíveis, a dignificar a política.

A outra, que vim a saber depois não ser original, propõe o voto negativo.
A mim, e julgo que a muitos eleitores, faz falta nesta altura a possilidade de votar negativamente.
Sei que a estas eleições concorre o mais elevado número de partidos mas também sei, como a generalidade das pessoas sabe, que apenas três deles são candidatos a governar o país nos próximos quatro anos : Dois em coligação, o outro com eventuais apoios parlamentares de outros partidos com participção reduzida na AR. Ou, hipótese que só depois de conhecidos os resultados de 4 de Outubro e das diligências do PR se saberá, uma coligação alargada dos três maiores partidos. 

Se, por um lado, a mim me repugna, por ter ainda uma memória razoável, votar num partido que conduziu o país para uma situação financeira à beira da bancarrota, mas, por outro, decidi há muito tempo não revalidar o meu voto a este governo, que faço eu?

Abstenho-me, e entrego aos outros a obrigação de decidirem por mim?
Voto em quem, com possibilidades de governar, menos me repugne apoiar com o meu voto?
Voto num partido com reduzida representação na AR?

Qualquer destas hipóteses não permite uma genuína expressão da minha posição perante o actual leque partidário concorrente porque me obriga a optar pelo mal menor: a abstenção é uma renúncia ou uma indolência, o voto útil uma xaropada, o voto na oposição militante um cheque em branco.

A possibilidade de votar negativamente, i.e., votar no pior, faz falta. 

Sunday, September 20, 2015

O ANTÓNIO NÃO VOLTA MAIS

(cont. de aqui)

Passado pouco tempo o António embarcou num transatlântico de uma companhia italiana que passava por Lisboa rumo ao outro lado do Atlântico sul. No princípio, dava-nos conta da sua nostalgia, sentia-se "ilhado" no meio da multidão de uma cidade enorme. E era ávido de notícias do local onde nasceu, daqueles que tinham ficado do lado de cá. Uma avidez que se manteve ao longo dos anos.

Conversámos há dois meses atrás, ele tinha perdido a companheira há um ano e, recentemente, tinha-se submetido a uma intervenção cirúrgica delicada, mas mostrava-se animado e disposto a continuar sem descanso a sua actividade de advogado. 
E quando nos visitas, António? 
Vamos a ver. Daqui a uns tempos, talvez.

Eram nove horas da manhã de hoje quando soube que, desta vez, o António não volta mais.

Friday, September 18, 2015

COLECÇÃO DE AMANTES



É teatro? Pode ser, pode não ser."Colecção de amantes" é uma performance, um espectáculo que, por se revelar numa sala de teatro, neste caso a Sala Estúdio" do Teatro D, Maria II, talvez seja teatro.
A mim, contudo, afigura-se-me mais um estudo psicológico, de análise comportamental numa situção previamente parcialmente enquadrada. De que resulta, como é forçoso em análises de qualquer âmbito, uma recolha estatística que a "performer" debita à assistência, com graciosidade, reconheça-se. O resto, é muito pouco para ser arte.


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"espetáculo integrado no Ciclo Recém-nascidos

O primeiro projeto do Ciclo Recém-nascidos a subir ao palco da Sala Estúdio é Colecção de amantes, um espetáculo sobre encontros, de Raquel André. Nos últimos dois anos, foram 73 os encontros em que a performer visitou apartamentos com perfeitos desconhecidos, ficcionando aí, por uma hora, uma intimidade semelhante à dos que se conhecem há já vários anos. Cada encontro deu origem a uma fotografia, prova dessa intimidade construída, cujo conjunto foi dando corpo a uma coleção, a Colecção de amantes

Entre o Rio de Janeiro, Lisboa e Ponta Delgada, cidades onde Raquel André trabalhou, as fotografias foram-se multiplicando e, agora, a coleção quer-se infinita... Até à estreia, a performer transforma estes amantes em protagonistas do espetáculo, através das fotografias que foram sendo criadas. Colecionadora obsessiva, Raquel guarda estas pessoas como objetos raros de uma coleção peculiar, criando narrativas reais e ficcionadas do que esta coleção pode significar e projetar — porque, afinal, o que se procura quando se encontra alguém?" - aqui

No contexto das artes, o termo performance designa as apresentações de dança, canto, teatro, mágica, mímica, malabarismo, referindo-se ao seu executante como performer. Na segunda metade do século XX, surge um gênero artístico nos Estados Unidos que se chama Performance Arte (Performance Art), com características específicas.[1] Alguns teóricos, como Jorge Glusberg, porém, interpretam que tal manifestação artística tem sua origem já na antiguidade.[2] - aqui 

Thursday, September 17, 2015

POVO INDEPENDENTE

Os islandeses serão provavelmente, o povo mais cioso da sua independência. Poucos, cerca de 330 mil, mas orgulhosos da sua capacidade para ultrapassar as barreiras que a natureza ou os homens lhe colocaram pela frente. Deles se pode dizer que sempre se governaram porque nunca se deixaram governar. 

Na transição do primeiro para o segundo milénio já os godi, os representantes das comunidades, se reuniam em assembleia legislativa, anualmente no mesmo local, integrado hoje num parque nacional, para discutir e aprovar as leis que regiam as relações sociais em todo o território. 

Uma vez, a sua capacidade para consensualizar o modo de regular os seus interesses colectivos atingiu quase o ponto de ruptura quando o rei da vizinha Noruega, senhor de uma força naval considerável, entendeu que era tempo de os relapsos pagãos da Islândia abandonarem os seus ritos pagãos e as suas sagas e abraçarem a mensagem da Bíblia cristã.  

Por essa altura, já muitos habitantes da ilha, por uma razão ou outra, adoravam o crucificado. Reunidos os godi, o consenso tardou mas foi conseguido: Aceitaram o baptismo mas, quem quisesse, poderia continuar a adorar quem bem entendesse desde que o fizesse em privado; e, como prova irrefutável da sua conversão logo ali se fizeram baptizar e aclamaram o rei da Noruega como seu rei.
Este, no entanto, viria a morrer pouco depois numa batalha com outros vizinhos nórdicos sem nunca ter posto os pés na ilha ao lado. 

A mesma história repetir-se-ia ao longo dos séculos: sempre reinados por outros e sempre independentes. 

Halldór Laxness , Nobel da Literatura em 1955, é o gigante maior de um povo que se habitou a contar sagas nas longas noites árticas desde os começos da colonização do território no séc. IX.  Escreveu dezenas de obras, "Povo Independente" é uma novela épica deste povo geograficamente isolado mas culturalmente avançado. 
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"Povo Independente" encontra-se traduzido em dezenas de línguas.  Em Portugal foi editado pela "Cavalo de Ferro"com o título "Gente independente".

Tuesday, September 15, 2015

REFLAVIK

O aeroporto de Reflavik é a porta de entrada na Islândia, uma ilha com uma superfície cinquenta por cento superior a Portugal, com uma população inferior à ilha da Madeira, atingiu e mantem mesmo depois da devastadora crise financeira de 2008,  um nível de desenvolvimento económico e social que a coloca nos primeiros lugares do ranking do Programa para o Desenvolvimento Humano das Nações Unidas.

O aeroporto de Reflavik, que fica a 45 quilómetros da capital, Reykjavik, onde existe outro aeroporto para voos domésticos, parece situar-se no centro da Europa. Hoje, pelas seis horas da manhã, havia um frenezim de passageiros para dezenas de destinos na Europa e nos EUA. Por quê? Além do mais porque a Icelandair está a praticar preços bastante abaixo dos seus concorrentes que voam para os mesmos destinos, oferecendo a possibilidade de stop over aos seus passageiros, que poderão durante uns dias visitar o país.

A paisagem islandesa é, na generalidade, lunar, e a Islândia não é notável pelo registo monumental da sua história, ainda que seja impressionante a riqueza da sua tradição cultural. Pois os islandeses, conseguem atrair uma multidão de turistas, onde predominam os vizinhos germânicos, os nórdicos, e os asiáticos, tornando o sector um dos actuais pilares de crescimento do país.

E, na fila para deixar uma mala que veio no porão, e onde esperámos três quartos de hora, recordei a celeuma que entre nós se levantou a propósito da distância a que teria de se instalar um novo aeroporto na região de Lisboa. E na confusão que, nestes dias de fim de Verão, se observa no aeroporto da Portela, a pedir que  o substituam ou desdobrem.

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Correl. - 22/9 -  "O aeroporto de Lisboa recebe actualmente entre 17 a 18 milhões de passageiros por ano, um valor que coloca em cima da mesa a questão de um novo aeroporto. Segundo o presidente e CEO da Vinci, isso poderá acontecer antes do previsto e obrigará a rever os termos do contrato de concessão da ANA.""Caso se construa novo aeroporto será necessário “repensar as taxas”, diz CEO da Vinci" . - aqui




Sunday, September 13, 2015

ADÃO E A COSTELA

O Washington Post de há uma semana atrás publicava circunstanciada reportagem, que registei aqui, sobre a instalação de um novo museu - O Museu da Bíblia - numa zona próxima do Mall e do Capitólio. O assunto não mereceria, certamente, um destaque tão pronunciado se por detrás do empreendimento não estivesse um grupo económico dominado por evangélicos protagonistas de causas fracturantes geralmente adoptadas nos EUA pelos sectores mais radicais conservadores do partido republicano. Opõem-se aos métodos contraceptivos, ao alargamento da segurança social implementado por Obama, fazem uma interpretação literal da Bíblia. Para eles, os fundamentos da biologia moderna decorrentes da teoria da evolução são inaceitáveis, opõem-se ao seu ensino, batem-se pela continuação da explicação da vida através das alegorias bíblicas, a mulher foi criada por Deus a partir de uma costela retirada a Adão.

Tanta ingenuidade ou tanta obcecada ignorância presta-se a comentários satíricos.
Gene Weingarten, habitual colunista no Washington Post Magazine, adopta na edição deste fim-de-semana a costela de Adão para tema da sua diversão.

Resumidamente : uma vez que não tem o homem menos costelas que a mulher, concluiram alguns especialistas que a palavra hebraica "tsela" não terá o significado que durante séculos lhe foi atribuida.
Se Eva foi criada a partir de um osso, tal osso só pode ter sido retirado ... do pénis!
E porquê? Porque há osso (os baculum) no pénis dos gorilas, dos ursos, da foca macho cinzenta, e, ao que parece, na generalidade dos mamíferos. Por que não existe esse auxiliar viagral no homem? Porque o Criador o retirou para criar a sua obra-prima, a mulher.

Não será uma explicação científica mas é, certamente, uma metáfora mais plausível.


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Correl. - Terá sido o "Homo naledi" o doador?


Saturday, September 12, 2015

O SEM FUNDO DA CAIXARROTA


Considerando a estimativa do valor de venda do Novo Banco - 2 mil milhões de euros - feita pela Société Générale, a Caixa Geral de Depósitos, como maior banco do sistema, contabilizará perdas de €850 milhões, e o BCP, o segundo maior,  €580 milhões. A diferença - 570 milhões - será suportada pelos outras entidades financeiras participantes do Fundo de Resolução. Se (hipótese admitida como provável pela SG) a venda se vier a realizar por um valor inferior, as perdas dos participantes serão, consequentemente, aumentadas em proporção da posição relativa de cada um.

E a ineludível conclusão é esta, digam o que disserem os principais responsáveis pelo encaminhamento do escândalo financeiro do GES, que, além do mais, desembocou na criação do Novo Banco: só pela resolução deste imbróglio os contribuintes portugueses serão chamados a pagar, pelo menos, 850 milhões de euros. Qual será o valor da factura total, ninguém sabe, mas sabe-se que é incontável o número de parcelas que virão a ser adicionadas*. 

Incompreensívelmente, há largos meses atrás, o PR afirmou que das perdas da Caixa não resultarão perdas para os contribuintes, a ministra das Finanças ainda há pouco tempo reafirmava praticamente o mesmo, o primeiro-ministro reconhecia, eufemisticamente, que haveria perdas indirectas em consequência da participação da CGD no FR.

Independentemente das posições que vierem assumir os participantes do FR quando forem chamados a assumir as suas responsabilidades, das engenharias fiscais que vierem a ser adoptadas com o objectivo de acomodar as perdas observadas, dos resultados das litigâncias levantadas, das reduções de impostos decorrentes das perdas contablizadas, além de outros riscos previsíveis ou imprevisíveis por agora, as perdas que a Caixa vier a contabilizar em consequência deste processo terão reflexos negativos em cadeia no Orçamento Geral do Estado e, portanto, nos bolsos dos contribuintes.

A CGD, que foi recapitalizada em 2012, vd. aqui, através de um aumento de capital (750 milhões de euros) e de um empréstimo (900 milhões), de que ainda não realizou qualquer amortização, encaminha-se para a necessidade de mais uma recapitalização, hipóse, aliás, admitida em Novembro de 2014, vd. aqui, pelo primeiro-ministro.

Resumindo: Para além das ameaças que impendem sobre as contas do Estado decorrentes da instabilidade do sistema financeiro em geral, a CGD, por ser o maior banco, e um banco do Estado, assume-se cada vez mais como o banco maior predador dos interesses públicos. Quando, esperadamente, deveria acontecer o contrário.

Um descarrilamento que vem sendo observado há muito tempo sem que tenha havido até hoje a competência ou a coragem para colocar a Caixa nos carris.
E somos nós, os que pagamos impostos, quem paga estes desastres sucessivos ainda que haja quem nos tome por tolos e queira convencer-nos do contrário. 


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* Sete anos depois, é ainda desconhecido o custo suportado pelos contribuintes decorrentes da nacionalização, gestão intercalar e reprivatização do BPN. Entretanto os responsáveis pelos crimes praticados continuam impunes.

Friday, September 11, 2015

SHIRIN NESHAT


Veja aqui a apresentação da retrospectiva de uma obra fascinante, se não puder vê-la até ao dia 20 deste mês.
O vídeo TED em cima, à esquerda, ou aqui,  é elementar para a compreensão da artista e da sua carreira, também resumida, p.e., aquiaqui.


Thursday, September 10, 2015

NA PISTA DE 600 MILHÕES PERDIDOS

Um dos assuntos que mais tempo ocupou no debate de ontem à noite foi a insuficiência de financiamento da segurança social calculada pelo Governo em 600 milhões de euros, e a rejeição do líder do PS de novos cortes nas pensões para assegurar o equilíbrio do sistema. 
Contudo, se o sr. Passos Coelho não esclareceu os portugueses, nem agora nem nunca, onde se situa tal desequilíbrio, ao sr. António Costa também não ocorreu, nem agora nem antes, levantar a questão.

E, no entanto, não há reflexão séria sobre o assunto se não se souber se o défice é devido

- a insuficiência no sistema de segurança social financiada pela TSU por exceder o montante das pensões pagas os valores das contribuições recebidas;
- a insuficiência de financiamento da Caixa Geral de Aposentações por acumulação das contribuições devidas e não pagas pelo Estado ao sistema;
- ao pagamento de pensões a não contributivos;
- ao anormal crescimento de prestações sociais decorrentes de uma situação de recessão económica. 


Iludiu o sr. Passos Coelho a questão quando, mais uma vez, referiu a inevitabilidade de colmatar com aumento de impostos as insuficiências de financiamento em causa, se outras alternativas não forem admitidas.
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Ora,  das três hipóteses anteriores, só a primeira não deve suportada por impostos. O financiamento das pensões da segurança social dos funcionários públicos, ou equiparáveis neste caso, e dos não contributivos só devem ser suportadas por impostos, ou pelo seu aumento se houver défice. 
Por outro lado, é claramente iníquo que os custos sociais decorrentes de uma situção económica recessiva sejam suportados apenas pelos rendimentos, declarados, do trabalho.

Se uma parte do défice ocorrer no sistema contributivo (privado) deveria o Governo esclarecer os portugueses acerca da situação em que este sistema se encontra e apresentar propostas correctivas que, do meu ponto de vista, deveriam assentar na uniformização das condições de reforma para todos os beneficiários, actuais e futuros, tendo em conta toda a carreira contributiva e tudo mais que possa contribuir para o equilíbrio e equidade do sistema.

Quando o sr. António Costa afirma que "Não aceitaremos qualquer novo corte das pensões" isso significa que "aceita os cortes actualmente em vigor se for primeiro-ministro?". Se for este o caso, o sr. António Costa recua de posições antes assumidas.
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É importante notar que uma parte desses cortes decorre, certamente, do facto de haver pensões, fundadas em regras ou manobras imorais sobejamente conhecidas, que deveriam deveriam ser ajustadas.
Um sistema de segurança social financeiramente equilibrado exige que as regras em que se suporta ponderem as contribuições de cada um ou o suporte que a colectividade se dispõe a dar aqueles que não contribuiram para a segurança social ou contribuiram de modo insuficiente para uma vida com um mínimo de dignidade.

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* Minuto-a-minuto: Passos V Costa
"Não aceitaremos qualquer novo corte das pensões. Não aceitamos qualquer corte de 600 milhões nas pensões. A sustentabilidade depende da confiança e que é o que o Constitucional tem obrigado o Governo cumprir", diz António Costa. Lembra a maior reforma em 2007, do governo de PS. "O grande buraco aberto da segurança social foi este governo que abriu". Fez perder oito mil milhões à segurança social, nomeadamente com o desemprego. Por isso diz que para o PS "a prioridade máxima é a criação de emprego". E diversificar fontes da segurança social, como diz propor. E atira: A coligação propõe "maior aventura financeira para a segurança social".

"As pessoas só podem ter confiança na segurança social se corrigirmos essa situação". Volta a reafirmar necessidade de sentar-se à mesma mesa que o PS. Volta a dizer que espera ser possível após as eleições. "O programa do PS perfaz mais do que 600 milhões de euros", e contrapõem que o que ganha na receita de IRC "é de 4%, só isso, comido pela restituição IVA na restauração".


Wednesday, September 09, 2015

AUSTERIDADE - 4, SÓCRATES - 4

Após o debate, os candidatos eram aguardados pelos jornalistas de serviço, proporcionando uma espécie de prolongamento, que foi melhor aproveitado por António Costa sem que, contudo, me pareça que ele tenha conseguido desfazer o empate observado no fim do tempo regulamentar.

O debate poderia ter sido mais esclarecedor?
Dificilmente. Os candidatos repetiram-se, nenhum deles surpreendeu com uma qualquer declaração ou proposta inesperada susceptível de dar a volta ao empate técnico que as sondagens têm vindo a exprimir desde Maio.

Actuação medíocre da arbitragem. 
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A campanha séria já foi. A partir de agora, só foguetes, beijinhos e arruadas.


Tuesday, September 08, 2015

A DOG´S LIFE

Não sei por que carga de água de vez em quando entram-me no correio ofertas de taxas mirabolantes para resolver os meus apertos financeiros ou lançar-me num negócio prometedor. 
Onde vão estes anjos da guarda buscar o meu endereço de correio não sei, mas não é difícil imaginá-lo tantas são as ocasiões em que somos solicitados ou obrigados a revelar o sítio do nosso e-mail. Sem o endereço de e-mail não é hoje possível realizar um conjunto de operações ou formalidades, oficiais ou privadas, e alguns daqueles que nas empresas ou nas instituições ficam com estas informações à mão não se coibem nem são coibidos de fazerem negócios com elas.

Preocupa-se a entidade incumbida de garantir a confidencialidade dos dados com estas situações? Pelos vistos, não. Porquê? Gostava saber, mas devo ser caso único.



Ontem chegou-me mais uma oferta de dinheiro. A reembolsar em 24 meses a uma estupenda TAEG de 11,9%! E, no mesmo embrulho, uma sugestão de negócio: uma carrinha para venda de hot dogs.


Monday, September 07, 2015

O PREÇO DO VERDE

O Expresso deste fim-se-semana dava conta, mais uma vez, de vários projectos de melhoria ambiental em Lisboa: "Mais verde, mais passeios, mais esplanadas; mais gente, menos carros — são os princípios por trás da revolução que a Câmara Municipal de Lisboa (CML) quer lançar no chamado “eixo central”, que vai do Marquês de Pombal até Entrecampos." - aqui

No entanto, recentemente,  "residentes do Parque das Nações, em Lisboa, queixavam-se da degradação da zona, onde decorreu a Expo'98, responsabilizando a Câmara e a Junta de Freguesia, que gerem o espaço após a extinção da sociedade Parque Expo". - aqui

É geralmente assim, a forma como são feitos muitos dos investimentos públicos em Portugal com objectivos supostamente ambientais: uma vez feita a festa da inauguração do empreendimento e atirados os foguetes, os espaços intervencionados, sobretudo aqueles onde foram plantadas ávores, flores ou relva estarão dentro de algum tempo, uns mal tratados, semi-abandonados, outros secos por falta de rega e outros cuidados que nenhum ser vivo dispensa. 

A não inclusão dos custos de funcionamento e manutenção nos projectos de investimentos públicos em geral, e não apenas naqueles com finalidades ambientais,  é, aliás, uma das causas maiores dos falhanços observados nos anos em que, embalados pelo endividamento importado, os mordomos das festas só não se esqueceram da compra dos foguetório. 

Sunday, September 06, 2015

UM NOVO TESTAMENTO



Nascido secretamente em Paris, naturalizado em Inglaterra, James Smithson, sem filhos, legou em testamento, em segunda instância, aos Estados Unidos da América,  a sua fortuna (105 sacos contendo 104,960 gold sovereigns , cerca de $500,000 em 1838. equivalentes a $11,073,000 hoje) para uma fundação - Smithsonian Institution - em Washington DC, destinada ao "incremento e à difusão do conhecimento entre os homens". E deste modo nasceu em 1846 aquele que é hoje o maior complexo museológico e de investigação do mundo, com 19 museus e 9 centros de investigação, e diversas filiais fora dos EUA.
Curiosamente, James Smithson, que viajou bastante pela Europa, nunca esteve nos EUA.

Hoje, o Washington Post, dá-nos conta, aqui, da abertura em 2017 de um museu, que não é  parte do Smithsonian Institute mas está a ser construido nas proximidades do Mall, onde se encontra a maior parte dos museus Smithsonian, e do Capitólio: o Museu da Bíblia. 
De que Bíblia, isto é, de que leitura da Bíblia, se trata não se sabe por agora. Sabe-se que o empreendimento está a ser suportado por evangélicos ligados a actividades de comercialização de artesanato e kitsch - Hobby Lobby -, muito conhecidos recentemente por terem interposto objecções no Supremo Tribunal de Justiça contra a contracepção e de protecção social (vulgo Obamacare).

Mais um museu em Washington DC ou mais um bíblico desentendimento bíblico?

Saturday, September 05, 2015

MUDANDO DE ASSUNTO

Está até 4 de Outubro na National Gallery of Art a exposição "Gustave Caillebotte, The Painter´s Eye",  uma parte muito significativa da obra não muito prolífica de um artista que foi membro vital do ciclo de impressionistas da sua época:  Degas, Renoir, Sisley, Monet, entre outros.

Filho de um bem sucedido empresário na indústria têxtil, Caillebotte não só mantinha a maioria dos quadros que pintava na sua posse como comprava obras dos amigos tornando-se um importante mecenas do grupo de artistas a que pertencia.
A independência financeira de Caillebotte explica de algum modo o relativamente reduzido número de obras que produziu e que hoje, em grande parte nas mãos de coleccionadores privados, raramente são mostradas em público.


Caillebotte shared many of these impressionist concerns. His "Interior, Woman at the Window" (fig. 2), for example, features a man and woman within a compressed space, their physical proximity in sharp contrast to their emotional distance. The man, seated in an armchair, is absorbed in his newspaper while the woman stands before the window and gazes at the boulevard below, equally consumed by her own thoughts. Across the street at the Hotel Canterbury, another figure, glimpsed through parted curtains, watches the woman. It is a picture that suggests loneliness, isolation, and desire, but most significantly, perhaps, it is about vision and looking, where an indeterminate narrative of stolen glances and steady observation plays out across the Parisian boulevard.- in  Caillebotte brochure













Caillebotte’s work garnered considerable critical attention both positive and negative. It was not only praised for being “excessively original” and a “faithful representation of life,” but also criticized for its unidealized subject, prompting one reviewer to declare, “Do nudes but do beautiful nudes, or don’t do them at all!”-  in  Caillebotte brochure 

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Correl. - O mercado da arte continua efervescente com a acumulação de riqueza. 
A Christie´s anunciou há três dias atrás que vai ser leiloado, este outono, "Reclining Nude (1917-18)" de Modigliani, esperando que a obra atinja um valor a rondar os 100 milhões de dólares. 
No dia seguinte a Soteby´s anunciou o leilão de uma colecção avaliada em 500 milhões de dólares que pertenceu a A. Alfred Taubman, ex-chairman da leiloeira.