Thursday, September 17, 2015

POVO INDEPENDENTE

Os islandeses serão provavelmente, o povo mais cioso da sua independência. Poucos, cerca de 330 mil, mas orgulhosos da sua capacidade para ultrapassar as barreiras que a natureza ou os homens lhe colocaram pela frente. Deles se pode dizer que sempre se governaram porque nunca se deixaram governar. 

Na transição do primeiro para o segundo milénio já os godi, os representantes das comunidades, se reuniam em assembleia legislativa, anualmente no mesmo local, integrado hoje num parque nacional, para discutir e aprovar as leis que regiam as relações sociais em todo o território. 

Uma vez, a sua capacidade para consensualizar o modo de regular os seus interesses colectivos atingiu quase o ponto de ruptura quando o rei da vizinha Noruega, senhor de uma força naval considerável, entendeu que era tempo de os relapsos pagãos da Islândia abandonarem os seus ritos pagãos e as suas sagas e abraçarem a mensagem da Bíblia cristã.  

Por essa altura, já muitos habitantes da ilha, por uma razão ou outra, adoravam o crucificado. Reunidos os godi, o consenso tardou mas foi conseguido: Aceitaram o baptismo mas, quem quisesse, poderia continuar a adorar quem bem entendesse desde que o fizesse em privado; e, como prova irrefutável da sua conversão logo ali se fizeram baptizar e aclamaram o rei da Noruega como seu rei.
Este, no entanto, viria a morrer pouco depois numa batalha com outros vizinhos nórdicos sem nunca ter posto os pés na ilha ao lado. 

A mesma história repetir-se-ia ao longo dos séculos: sempre reinados por outros e sempre independentes. 

Halldór Laxness , Nobel da Literatura em 1955, é o gigante maior de um povo que se habitou a contar sagas nas longas noites árticas desde os começos da colonização do território no séc. IX.  Escreveu dezenas de obras, "Povo Independente" é uma novela épica deste povo geograficamente isolado mas culturalmente avançado. 
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"Povo Independente" encontra-se traduzido em dezenas de línguas.  Em Portugal foi editado pela "Cavalo de Ferro"com o título "Gente independente".

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