Em Novembro do ano passado anotei aqui duas ideias que me pareciam, e continuam a parecer, fundamentais para garantir maior autenticidade ao voto ou à abstenção dos eleitores.
Uma delas, que na altura ouvi a Rui Rio, propõe a redução do número de deputados em cada legislatura em função da abstenção observada.
Deste modo, os partidos seriam obrigados, além do mais, a promover todas as diligências necessárias à actualização dos cadernos eleitorais e a motivar a participação dos cidadãos nos actos eleitorais com propostas crediveis e entendíveis, a dignificar a política.
A outra, que vim a saber depois não ser original, propõe o voto negativo.
A mim, e julgo que a muitos eleitores, faz falta nesta altura a possilidade de votar negativamente.
Sei que a estas eleições concorre o mais elevado número de partidos mas também sei, como a generalidade das pessoas sabe, que apenas três deles são candidatos a governar o país nos próximos quatro anos : Dois em coligação, o outro com eventuais apoios parlamentares de outros partidos com participção reduzida na AR. Ou, hipótese que só depois de conhecidos os resultados de 4 de Outubro e das diligências do PR se saberá, uma coligação alargada dos três maiores partidos.
Se, por um lado, a mim me repugna, por ter ainda uma memória razoável, votar num partido que conduziu o país para uma situação financeira à beira da bancarrota, mas, por outro, decidi há muito tempo não revalidar o meu voto a este governo, que faço eu?
Abstenho-me, e entrego aos outros a obrigação de decidirem por mim?
Voto em quem, com possibilidades de governar, menos me repugne apoiar com o meu voto?
Voto num partido com reduzida representação na AR?
Qualquer destas hipóteses não permite uma genuína expressão da minha posição perante o actual leque partidário concorrente porque me obriga a optar pelo mal menor: a abstenção é uma renúncia ou uma indolência, o voto útil uma xaropada, o voto na oposição militante um cheque em branco.
A possibilidade de votar negativamente, i.e., votar no pior, faz falta.
3 comments:
A solução mais interessante que já vi para este impasse democrático em que estamos é esta:
http://observador.pt/2015/07/11/nova-iorque-tem-muito-a-aprender-com-cascais/
Obrigado, IsabelPS, pelo seu contributo.
Li, e vou fazer dele tema do meu apontamento de amanhã.
Se começar a fazer escola o prestar de contas frequente, através de jornal ou web, consegue-se, mais que uns pontos mínimos ( o orçamento participativo, nem dois por cento é do bolo total), que os cidadãos acompanhem a evolução do orçamento e obras que se vão fazendo. Como com papas e bolos conta para a politica, em municípios, quanto mais abstenção, mais fácil é para o partido mais votado ter a maioria absoluta - em Cascais bastaram 20% dos votos. E esse é o pior erro que os abstencionistas cometem, quando tentam validar as suas opções.
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