Ouvem-se com alguma frequência vozes desculpabilizadoras da ineficácia do Banco de Portugal na prevenção dos casos que levaram a totalidade dos maiores bancos portugueses, de um modo ou de outro, a recorrerem à intervenção do Estado, isto é, aos bolsos dos contribuintes. Nuns casos, essas intervenções são, espera-se, transitórias e, eventualmente não penalizadoras dos contribuintes, noutras, mais graves, as intervenções concretizam-se, inequivocamente, pelo roubo aos cidadãos portugueses de valores que arrombam irremediavelmente o Orçamento de Estado. Inquivocamente, roubos, porque não há palavra mais adequada; irremediavelmente, porque contribuiem para o empolamento de uma dívida pública que ninguém sabe ainda como pode vir a ser domada.
Defendem essas vozes que o Banco de Portugal não é polícia nem juiz. E que os casos de polícia acontecidos no tempo do sr. Vitor Constâncio e que agora ocorrem com o sr. Carlos Costa, são do foro policial e, eventualmente, judicial. Ponto final.
Não sei o que é que o sr. Mário Draghi e os outros veneráveis governadores dos bancos centrais pensam do assunto, mas admito que pensem o mesmo, isto é, não são polícias, as suas atribuições, em matéria de fiscalização dos bancos, não vão muito além de pescar das contas uns números e com eles calcularem uns rácios. E se os rácios estão conforme as regras, a corporação está limpa. Se os valores são manipulados e os caixas disfarçadamente roubados, esses assuntos já não são com eles. Nem com os revisores oficiais de contas ou os auditores, que é para isso que lhes pagam, para não verem para além da superfície das contas.
Mas, indiscutivelmente, acontece haver ladrões dentro dos bancos. Internos. Se o roubo é cometido por graduados ou subalternos, a administração sabe o que deve fazer e a solução é privada. Mas se os gabirus são administradores, e, normalmente, o administrador presidente o gabiru chefe, quem tem o olho no que roubam porque o que roubam vai ser pago pelos contribuintes? A polícia? Nem a polícia nem os tribunais percebem de bancos ou de moscambilhas banqueiras. Quando a polícia é chamada já o roubo foi consumado e apresentada a conta aos inocentes. Depois seguem-se anos a arrastar processos até às prescrições finais.
Mais grave, no entanto, é o facto do papel atribuido, ou assumido, ao governador e à sua tripulação ser de embrulho. Ao governador Carlos Costa, e ao governador Constâncio, chegaram informações que os deveriam ter levado a, oportunamente, actuar ou a chamar a polícia, de modo a evitar ou a reduzir os roubos. Não actuaram, embrulharam. Mais valia que não contássemos com eles.
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Correl. -
"A auditoria forense ao BES descobriu que foram feitas gigantescas
transferências de dinheiro para fora do banco através de quatro
offshore, segundo uma notícia da SIC, que dá conta que terão sido
favorecidos "alguns accionistas e clientes do banco" e que a gestão de
Ricardo Salgado é acusada da prática de "actos ruinosos".
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