Thursday, November 13, 2014

POUCOS, MAS GRANDESSÍSSIMOS

“A classe média acaba por ser a grande sacrificada, porque se procura sempre proteger quem tem menos recursos e porque, infelizmente, ricos temos poucos. Se tivéssemos mais, facilitaria, mas em Portugal, de facto, não há muitos” - Ministra das Finanças / Discurso no American Club -  cf. aqui.

A srª. Maria Luís Albuquerque não deve ter tido tempo para ler "O Capital no sec. XXI". Se tivesse, saberia que a acumulação de riqueza tem sido uma constante histórica, interrompida em períodos de conflitos bélicos, que se acentuou nas últimas décadas. Mesmo depois da crise espoletada em 2008, reacentuou-se a tendência de concentração da riqueza num pequeníssimo grupo de indivíduos. Ainda que não existam dados fiáveis sobre o grau de concentração da riqueza em Portugal, os relatórios dos principais organismos internacionais coincidem na conclusão que o nível de desigualdade no nosso país é dos mais elevados. 

Este governo sacrifica a classe média, introduziu um imposto de classe, mas poupou os mais ricos, aquele número reduzido que é detentor da maior parte da riqueza e beneficiário da maior fatia do rendimento nacional. Seria útil que, para confirmar ou infirmar as suas declarações, a srª. Maria Luís Albuquerque tornasse públicos os dados sobre a distribuição da riqueza e rendimento em Portugal. Ou, pelo menos, a carga tributária, em percentagem, que incide sobre os diferentes níveis e tipos de rendimentos. 

Talvez, desse modo, a Ministra das Finanças percebesse que os ricos são poucos mas os seus rendimentos são, relativamente, menos tributados que os rendimentos das classes médias. Que não há progessão mas regressão tributária em consequência de múltiplos factores que a classe média não usufrui. E que a riqueza dos poucos ricos é fiscalmente praticamente intocada. E que a crescente desigualdade social é um factor decisivo do anémico crescimento das economias ocidentais.

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