A imprensa de todo o mundo dá hoje relevo aos resultados de um estudo publicado na revista Nature - Business culture and dishonesty in the banking industry - da autoria de investigadores da Universidade de Zurique, que sugerem que a cultura de negócios prevalecente na indústria bancária conduz à desonestidade, tornando-se necessárias normas de reposição de uma cultura de honestidade.
Resultados que parecem redundantes considerando a sucessão de escândalos financeiros que tem irrompido um pouco por todo o mundo, com particular incidência nas economias ocidentais e, muito particularmente, em termos relativos, em Portugal, onde a quase totalidade do sistema foi abalado, de um modo ou de outro, por atentados à honestidade de processos que contribuiram para a degradação da imagem externa e a ruína da economia do país. A investigação realizada na Universidade de Zurique por métodos científicos confirmou a percepção que o rasto de desonestidade dos banqueiros tem vindo a deixar pelo caminho.
Não faço a mínima ideia de que modo entendem os investigadores poder ser injectada uma boa dose de cultura de honestidade num mundo onde a palavra chave da sua proposta entrou há muito tempo em desuso. O cheiro do dinheiro é inebriante e a tentação de o possuir não é anulável por catecismos de moral nem por mais leis ou regras. A abundância de leis é uma delícia para os advogados e um labirinto por onde se escondem os larápios.
Repito-me. Só há uma saída: Separar os bancos de depósitos dos outros, ditos de investimento. Aos primeiros seria imposta uma fiscalização apertada, nomeadamente, dos seus indicadores de solvência e liquidez, vedadas todas as operações especulativas, proibidas as relações com off-shores, sujeitando-se todos os seus serviços financeiros a uma prévia aprovação casuística do regulador. Só os depositantes destes bancos teriam garantias, limitadas, dos seus depósitos e só estes bancos poderiam contar com a protecção do Estado em caso imprevisível de risco sistémico. Todos as actividades dos outros seriam abrangidos pelas leis e regulamentos dos casinos.
Os escândalos observados no BPP, BPN, BES, e, em certa medida, com o BCP, estavam expostos muito antes de terem deflagrado, mas os reguladores assobiaram para o ar. Desconheciam os reguladores que a CGD, o banco do Estado estava a municiar a guerra pela luta de poder no BCP? Desconheciam os reguladores que o BCP emprestava a quem quisesse subscrever ordens de subscrição de acções do banco? Ignoravam os reguladores que com estas e outras práticas do conhecimento público o BCP inflaccionava o valor das acções e promovia a especulação bolsista?
Ignoravam os reguladores que o BPP vendia produtos de risco com capital assegurado, como se isso fosse perduravelmente possível? Ignoravam os reguladores que o BPN fazia o mesmo que o BPP e tecia uma teia de empreendimentos de risco envolvendo a solvabilidade do banco? Ignoravam os reguladores que o BES fazia o mesmo que o BPP e o BPN e tecia uma teia de interesses familiares e conhecidos de muito maior extensão?
Se ignoravam é ignorância a mais, e não há catecismo algum de princípios morais que possa contrariar tanta ignorância. Prosaicamente, a regra é esta: a ocasião faz o ladrão. Aos banqueiros são-lhe facultadas uma infinidade de ocasiões. A única forma de lhe conter os ímpetos de ganância é reduzir-lhe as ocasiões. Mas ninguém mexe uma palha, talvez porque estejam todos confortáveis com a palha que têm.
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Corr. - (21/11) Talking about their work makes bankers more dishonest
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Corr. - (21/11) Talking about their work makes bankers more dishonest
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