Tuesday, November 25, 2014

ESTE MUNDO E O OUTRO

A atenção dos portugueses foi desviada nos últimos meses e, mais intensamente, nas últimas semanas para os escândalos financeiros e políticos que assaltaram o país em número e intensidade nunca antes atingidos depois do 25 de Novembro de 1976. Há um antes e um depois de Novembro de 1976, haverá um antes e um depois de Novembro de 2014. O que aconteceu em Portugal na última década explica em grande parte a emergência dos acontecimentos que provocam uma hipertensão política que promete prolongar-se por um período que colocará à prova a resiliência da nossa democracia. Forçados a olhar para o estado miserável a que chegou o nosso umbigo somos levados a esquecer-nos que o nosso mundo é parte dependente de um mundo muito maior. Desgraçadamente, se, entre nós, a democracia tem andado em bolandas provocadas por uma praxis política que só reconhece o confronto, a partir de agora esse confronto promete hipertrofiar-se destravadamente. A prisão preventiva de José Sócrates, que, dizem os entendidos e os outros, pode ser longa, pode provocar uma romaria à cadeia de Évora exacerbando um confronto partidário que não se amainará com as eleições legislativas daqui a quase um ano. 

Entretanto, a OCDE divulgou hoje o seu relatório de Novembro, que  - vd. aqui - apoia as posições francesas e italianas de maior distensão nas políticas de austeridade perante a inflexibilidade de Berlim. Nas fotografias publicadas no "Le Monde", a Zona Euro continua com mau aspecto numa altura em que, ainda segundo outro artigo publicado no mesmo diário, a economia norte-americana continua a surpreender pelo seu vigor.  Draghi, que conta com apoio da OCDE neste relatório, tem feito o que pode e o que os alemães dizem que ele não pode, mas, certamente, não pode sozinho endireitar um caminho com um traçado que Merkel continua a insistir ser o  melhor. Para a Alemanha, talvez.


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