O caso não é único nem sequer, se considerado individualmente, materialmente muito relevante. Sabe-se que o Estado é grande e os governos, onde quer que se encontrem, os seus tutores. E os tutores, já se sabe, cuidam mais da sua vidinha que dos interesses do Estado ainda que jurem fazer o contrário. Daí que se passeiem pelos corredores da função pública muitos que ninguém sabe por que por lá andam. No mi(ni)stério da Agricultura havia, ainda há poucos anos, mais de doze mil funcionários. Contas feitas, quatro funcionários por cada agricultor, contando nestes os graúdos e miúdos, os activos e os desmobilizados. Hoje serão cerca de metade, e ainda sobrará muita gente.Tanto assim é que, segundo notícia do Expresso de anteontem, um fulano recebeu ordenado durante vinte anos sem nunca ter posto os pés no serviço nem ninguém ter dado pela falta dele. E na Defesa, por exemplo, quantos não andarão a marcar passo no mesmo sítio toda a vida?
E quantos, comparecendo ao serviço, nos custarão mais impostos, pelos gastos que a sua presença implica ou proporciona, do que este espertalhão que se limitava a receber e não mexer uma palha? Ninguém sabe. Recorrentemente, os candidatos ao governo prometem reformar o Estado, o actual primeiro-ministro lembrou-se de o refundar. Mas não disse quando, nem como, nem o que entende por isso. Até agora, a redução mais substancial dos custos dos serviços prestados pela função pública (é essa a razão de existência do Estado) realizada pelo actual governo tem incidido sobre a redução indiscriminada dos salários dos funcionários, atingindo de igual modo os úteis e os excessivos, os competentes e os relapsos. Mas como, mesmo assim, os custos subsistem elevados, o Governo, ao mesmo tempo que reduz os custos reduzindo os salários aumenta os preços, aumentando impostos. Aqueles que no passado ousaram mexer no monstro acabaram por ser sacudidos borda fora pela sua cauda escamada, com os aplausos incontidos da oposição na altura.
Há dias, o primeiro-ministro desafiava publicamente o líder da oposição a encontrar alternativas para a redução da despesa pública na eventualidade de o Tribunal Constitucional dar provimento às dúvidas de inconstitucionalidades do OE levantadas pelo PR e por toda a oposição. Um desafio que, para ser sério, deveria ter sido feito antes e em privado. Assim, assistiremos à brincadeira do costume.
7 comments:
Em minha opinião, o problema, caro Rui Fonseca, não reside no aspecto do governo não saber como resolver estes casos de excesso ou de inutilidade dos postos, que só pode ser de uma forma: reformando antecipadamente, ou negociando a indeminização e rescindir o contrato. O problema, é que, extinguindo os postos e até alguns serviços, deixa de haver lugares de gestão e administração para colocar aqueles membros do partido que convém manter em banho-maria e ainda para provir aos filhos e afilhados dos messenas que financiam as campanhas.
Desde que este pessoal descobriu a "máxima" «uma mão lava a outra e as duas lavam o rosto» tem sido um fartar vilanagem.
É o país e a gente que temos...
"O problema, é que, extinguindo os postos e até alguns serviços, deixa de haver lugares de gestão e administração para colocar aqueles membros do partido..."
Mais do que isso, Caro Bartolomeu: funções que poderiam ser desempenhadas por funcionários de carreira são preenchidas por afilhados vindos não se sabe de onde que não têm outro mérito para além de terem bons padrinhos.
Declaração de interesses: Não sou, nunca fui nem serei funcionário público.
Pois eu, já não posso afirmar o mesmo. Neste tempo, chego a pensar que nasci já, funcionário público, sendo que, a função que desempenho, nada tem de pública.
Uma valsa a mil tempos...
" ...a função que desempenho, nada tem de pública."
???
...porque apesar de funcionário público, o resultado do meu trabalho não reverte positivamente para a "coisa pública".
Ou seja, pagam-me para ser peça de uma máquina que nada produz.
Essa é boa.
E ninguém ainda deu por isso?
Intriga-me. Não me diga que é funcionário do Mistério da Agricultura...
Caro Rui, presumo que tenha assistido ao filme intitulado Being There com Peter Sellers e shirley MacLaine. A história do jardineiro que chegou a ser conselheiro do presidente Américano... ando por aí... também sou um fiel jardineiro.
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