Em princípio, ao começo da próxima quarta feira, a Europa saberá quem os norte-americanos elegeram seu presidente para o quadriénio de 2013 a 2017. A menos de uma semana das eleições, as sondagens prognosticam uma ligeira vantagem de Romney sobre Obama no voto popular, mas porque a composição do colégio eleitoral que, ulteriormente, elegerá o presidente não é proporcional ao número total de votos angariado pelos delegados de cada um dos candidatos a nível nacional - os votos dos delegados no colégio eleitoral de cada estado representam apenas os votos do candidato vencedor nesse estado - a vantagem final parece ainda pender para Obama. Poderá assim repetir-se a situação observada em 2000 quando Al Gore, candidato dos democratas, que obteve a maioria com mais 500 mil votos a nível nacional perdeu no colégio eleitoral por cinco votos, após uma renhida e confusa recontagem de votos que se prolongou (vd aqui) quase até à data limite do mandato do presidente cessante (Bill Clinton).
A eleição de um presidente dos EUA tem sempre repercussões que extravasam largamente os interesses dos que decidem com o seu voto quem deve governar a América. Não é, obviamente, indiferente para o mundo em geral, e para a Europa em particular, que na próxima terça-feira vença Romney ou Obama, sendo também óbvio que não é indiferente para os norte-americanos, e desde logo para o seu presidente, a evolução da situação política, económica e financeira na Europa. Aliás, a avaliação que os norte-americanos fizerem no próximo dia 6 da administração Obama no crítico sector da economia não valorizará um factor que também condicionou em certa medida o comportamento da economia norte-americana durante o seu mandato: a turbulência que assaltou a União Europeia, condicionando gravemente o seu crescimento económico e colocando em risco o sistema financeiro a nível mundial depois da grande erupção de um sistema minado pela ganância dos banqueiros e a gula dos políticos observada nos EUA ainda durante o mandato de George W Bush.
A grande diferença, contudo, entre a capacidade de os norte-americanos, mal ou bem, escolherem quem deve presidir aos destinos do seu país durante quatro anos e a incapacidade dos europeus votarem democraticamente naqueles que decidem os caminhos do seu futuro próximo e, indirectamente, do seu futuro a longo prazo, não pode ser mais evidente. Roomney ou Obama, um deles será presidente eleito em conformidade com a Constituição aprovada em 1787. A União Europeia é, de facto, governada pelo voto ou pelo veto dos mais fortes, liderados pela Alemanha.
Obama ou Romney, qual deles será a melhor opção para os interesses europeus, e sobretudo dos países mais fragilizados? Martin Wolf, prestigiado analista de política económica e financeira no insuspeito de enviesamento à esquerda Financial Times, considera no seu mais recente artigo publicado - Romney would be a backward step - que se Romney ganhar as eleições no próximo dia 6, os EUA regressarão a um tempo e a um modo de governo que se demonstrou desastrado. É certo que Romney inflectiu nas últimas semanas da campanha o seu discurso para o centro com o objectivo de ganhar votos ainda indecisos, mas a sua base de apoio é outra, e dela, Romney, se for presidente não poderá esquivar-se.
Mergulhada numa crise em que ninguém vislumbra sequer o começo do fim, para a União Europeia, e sobretudo para os países fragilizados do sul, a eleição de Obama será mais agregadora da unidade na Europa, porque a sua missão é mais solidária do que o radicalismo de liberalismo económico que dominará a acção de Romney como presidente. Entre Wall Street e Main Street só votam pela primeira os mais beneficiados e os mais prejudicados, neste caso, inconscientemente, por ela.
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Correl.- Economist apoia Obama com muito pouco entusiasmo
Correl.- Economist apoia Obama com muito pouco entusiasmo