Wednesday, October 03, 2012

EM NOME DO ESTADO

Várias vezes já, apontei neste caderno de apontamentos a ingenuidade, a ignorância ou a falta de sentido crítico de alguns e a dissimulação propositada de outros na atribuição ao Estado de culpas que o mentecapto não tem.

O Estado como conjunto das instituições que controlam e administram uma nação ou, noutra acepção, como país soberano com estrutura própria e politicamente organizado, não é uma identidade volitiva, não tem méritos nem culpas identificáveis. São os tutores dos interesses colectivos prosseguidos pelas institituições que compõem o Estado, quaisquer que sejam os meios usados que os empossaram, que são ou não são culpados, dos resultados positivos e negativos das múltiplas acções realizadas em nome do Estado.
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Vem isto a propósito deste título - Estado responsável por desnorte estratégico e perda de valor do BPN - que não foi, segundo deduzo da notícia, fruto de criatividade ignorante ou sensacionalista do jornalista, que às vezes acontece. Não, a responsabilidade atribuida ao Estado consta da proposta de conclusões da comissão parlamentar de inquérito sobre o BPN e reporta-se ao período entre Janeiro de 2008 e início de 2012, entre a nacionalização e privatização do mostrengo.

"O Estado, como accionista, teve um papel preponderante no desnorte estratégico do BPN, contribuindo para a perca de valor do banco", escreve o relator Duarte Pacheco, do PSD. O accionista Estado não teve papel nenhum, senhor deputado. Alguns, que os senhores não nos dizem quem, estão escondidos por detrás dessa figura abstracta, cepo de todas as marradas, julgada culpada de perdas que em grande medida contribuiram para arruinar o país, e nem os senhores deputados os denunciam nem os tribunais os condenam, porque os contribuintes pagam.

Se o Governo, a Caixa Geral de Depósitos e o Banco de Portugal da altura são implicitamente responsabilizados no relatório, que consequências resultam daí? O governo foi substituido, o governador do BP promovido, os administradores da Caixa recompensados,  e os contribuintes chamados a pagar a factura gorda.

Segundo a notícia da Lusa "não foi possível identificar o valor da dívida da antiga Sociedade Lusa de Négócios ao BPN, sendo o valor de 1000 milhões de euros o mais identificado" e que "a própria administração do BPN reconhece que esta exposição não diminuiu ao longo dos três anos e meio em que esteve nacionalizado". Simplesmente, inacreditável se não ocorresse em nome do Estado.

Resumindo: Como se esperava, também os trabalhos desta comissão serão inconsequentes. Aqueles que, antes e depois da nacionalização, abriram o buraco enorme que os contribuintes portugueses terão de pagar, continuarão impunes, uns dos crimes praticados, e outros, dos erros que cometeram em nome do Estado.
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Correl.- BPN custa 3405 milhões de euros aos contribuintes. Mas "todos os anos se vão verificar novas imparidades [perdas]" nos activos do Banco Português de Negócios (BPN) que ficaram a cargo do Estado. Duarte Pacheco afirmou, ( ), ser "difícil" fazer previsões sobre os possíveis encargos que os contribuintes terão no futuro relativamente aos activos tóxicos que ficaram em duas sociedades veículos criadas pelo Estado. (aqui)
Oposição critica em coro proposta de relatório sobre o caso BPN
BPN vai pesar 500 milhões no défice deste ano.
 

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