Friday, March 09, 2012

POLEMICAMENTE INCORRECTO

Na situação de crise económica e social em que afundaram o país, a pior atitude dos principais responsáveis é perderem tempo com causas menores ou extemporâneas, esquecendo a imperiosa necessidade de consensos alargados acerca das alternativas possíveis para sair do poço, sem as quais, por mais que se esmurrem os políticos  uns aos outros, os esmurrados acabarão sempre por ser os mais desprotegidos daqueles que votaram neles para defenderem os interesses do país.

Nos últimos dias, a questão das portagens pagas em Agosto e embolsadas pela Lusoponte têm sido delícias para a oposição atacar o governo e o governo para defender nem sei o quê. Já toda a gente percebeu que quem decidiu mandar cobrar portagens na Ponte 25 de Abril em Agosto se esqueceu de fazer o resto; e que a Lusoponte, arrecadou e calou. Ganhamos alguma coisa em perder mais tempo com aquilo que já está esclarecido, só falta ser emendado?

Como se a guerrilha partidária não bastasse para nos esgotar a nossa enorme pachorra, decidiu o PR meter mais entropia no processo. O anúncio feito hoje do lançamento do seu livro de discursos do primeiro ano do seu segundo mandato é um manjar para os media, para os analistas políticos, para os partidos, para os bloggers. Não, porque o livro, que não li, seja uma sedução de leitura para os portugueses, mas porque no prefácio, que também não li, Cavaco Silva regista a "deslealdade institucional do então PM Sócrates por não lhe ter dado conhecimento da proposta para o PEC IV que apresentou em Bruxelas".

Toda a gente minimamente informada sabe o que se passou. É evidente que uns, partidários, sabem de uma maneira e outros sabem de outra; para aqueles que, como eu, sofrem de daltonismo partidário, o PR não foi informado e deveria ter sido. Mas é pertinente que venha agora remexer no assunto? Não é.

É público e notório que este PR, que preside em circunstâncias extremamente difíceis para o país, tem tido algumas intervenções públicas que, no mínimo, teremos de considerar polémicas. Tão polémicas que não agradando nem a gregos nem a troianos dificilmente agradarão a alguns portugueses, a não daqueles com tanta devoção ao santo lhe perdoam todos os pecados.

Mal aconselhado ou mal ponderado, o certo é que a rota deste PR tem ido por alguns atalhos escusados.
Espera-se, que depois de alguns tempos em que o assunto vai ser tema escusado de todos os debates, Cavaco Silva faça uma reflexão sobre o seu papel neste momento de crise e pondere bem as consequências das suas palavras em público. Basta que não volta a esquecer-se que é PR em exercicío num momento particularmente grave para o país.

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Act. - Como era facilmente previsível, Silva Pereira acusa Cavaco de não ter autoridade moral para falar de deslealdade. 

6 comments:

Anonymous said...

Mais uma vez o cinzentismo dos defensores da necessidade de consensos alargados.
É ao abrigo desse guarda chuva que essa miopia comporta que o cinzentismo não ousa chamar nada pelos nomes, tudo se cala porque é necessario o consenso.
Assim, sentam-se á mesma mesa, comem da mesma gamela gente honesta e trafulhaas, trabalhadores e parasitas, velhacos e bailarinos, patriotas e traidores.
A necessidade de consensos alargados serve para branquear a história? Sócrates devia ser julgado por crime de lesa Patria ou no minimo de gestão danosa e os seus comparsas por cumplicidade.
Como não estamos na Islandia ao menos que se registe em escrito para que a lei da morte não faça esquecer a governação abjecta a que fomos submetidos.

rui fonseca said...

Caro (a) Anonymous,

Obrigado pelo comentário, que respeito, mas do qual discordo.

Se ler atentamente o que escrevi não encontra nenhuma sugestão de branqueamento do que for ou de quem for.

A democracia não é apenas consumada com confrontos mas também com consensos quanto a questões fulcrais da sociedade.

A posição do PR vai ser atacada, vai servir de mote a discussões sem fim.
E ele, que não pode autodefender-se,
não terá muitos a seu lado,

Quem perde é o país que precisa de um referencial acima dos partidos.

Salvo melhor opinião.

Anonymous said...

Caro senhor, cada um sabe os valores que defende.
Tenho para mim que uma crise pode obrigar-nos a poupar, a perder poder de compra, a fazer sacrificios, mas não pode ser razão para se perder a dignidade que seria consequencia desses consensos alargados que impediriam lembrar a governação a que Portugal foi sujeito por Sócrates.P or maior que seja a crise temos a obrigação de deixar todos os testemunhos para que não se esqueça.

rui fonseca said...
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rui fonseca said...

rui fonseca said...
Diz o Antonymous que "Por maior que seja a crise temos a obrigação de deixar todos os testemunhos para que não se esqueça."

Totalmemte de acordo.
Mas quem é que os quer encobrir?
O caso, ou os casos em questão, são sobejamente sconhecidos e foram objecto de discussão pública na altura.

Até alguns socialistas não pouparam críticas a Sócrates. Soares, se não me enganou, chegou a afirmar publicamente que um dia ele iria pagar por isso. Que ele tinha tido a obrigação de
manter o PR informado.

Que mais testemunhos são precisos?

Voltar a eles nesta altura, é inoportuno e dá aso a vir a ser criticado por muitos e defendido não sei por quem. Veremos

Anonymous said...

" Quem é que os quer encobrir?"

Quer maior encobrimento que o silencio?
O facto politico mais relevante do ultimo ano foi sem duvida a teimosia, incompetencia e deslealdade de Sócrates. Vamos cala-la num prefacio de um livro que trata precisamente desse período?
E, meu caro senhor há uma grande confusão , eu não defendo Cavaco mas sempre que ele ou outro qualquer fizer algo para que não se esqueça aquilo a que fomos submetidos, tudo o que se escreva e faça para que o figurão não continue a passear impune será visto com admiração.
O senhor só poderia ter razão se pudesse dizer que o que Cavaco escreveu era falso, não o fazendo nada poderá calar a verdade.