Wednesday, December 01, 2010

CÁ VAMOS CANTANDO E RINDO

Como acontece com a maior parte dos feriados, serão raros os portugueses que saberão explicar escorreitamente as razões pelas quais, hoje, os dispensaram de ir trabalhar. O feriado do primeiro dia de Dezembro, há muito que deixou de ter qualquer significado para o cidadão comum. E ainda bem.

Já vão longe os tempos em que o primeiro de Dezembro era o dia de celebrações nacionalistas e, subliminarmente, de propaganda da ditadura que aprisionava o País.
Uma receita pouco original mas de resultado garantido: a ordem em casa garantida com a ilusão do inimigo à porta.  

Era o dia em que os lusitos desfilavam no recreio da escola, recolhendo palmas dos papás e professores, ao ritmo dos tambores e das trombetas, levados  sem saberem para onde. Felizmente, não havia fardas para todos e, a falta de fardas dispensou-me, e a muitos outros, de entrar no desfile.

Estas e outras manifestações nacionalistas pacóvias induziram no cidadão comum um sentimento de repúdio gratuito relativamente aos povos do único país com quem temos fronteiras e que é, portanto, ponto incontornável de passagem por terra para o resto do continente europeu.  

Hoje o primeiro de Dezembro, é comemorado com a ida ao shoppings para adiantar ou completar as compras das prendas de Natal.

Mais um dia em que não se trabalha tem exactamente o mesmo efeito  de redução do PIB que um dia de greve geral. Ou mais. Porque, apesar de, nominalmente geral, a greve é, sobretudo, geral da função pública e dos transportes colectivos.

Mas, quem é que gosta desta arenga em tempos de crise?  No dia em que Cavaco Silva se lembrou de recordar que terça-feira de Carnaval não é feriado nacional, ia caindo o Carmo e a Trindade.

E assim, cá vamos: levados, levados sim. E, mais uma vez, sem saber para onde.

2 comments:

António said...

""O feriado do primeiro dia de Dezembro, há muito que deixou de ter qualquer significado para o cidadão comum. E ainda bem.""

E ainda bem?
Ainda bem porquê?
Acha melhor comemorar o 25 de Abril ou o 5 de Outubro?
O Regicídio, porque não?

Qualquer destas datas deve ser bem melhor, não?
Pois hoje, perco-lhe o respeito e vou radicalmente contra si.
E por acaso até não sou monárquico.

rui fonseca said...

"Pois hoje, perco-lhe o respeito e vou radicalmente contra si."

Engana-se, António. Ir radicalmente contra mim é uma honra. Nunca tive nem tenho pretensões de ter a verdade do meu lado.

Quanto a feriados, também lhe digo que o 5 de Outubro é quase tão ignorado dos portugueses como o Primeiro de Dezembro. E o 25 de Abril para lá caminha.

Temos feriados a mais. E, claro, trabalho a menos.

Mas também não tenho grandes dúvidas que ninguém convencerá os portugueses, em geral, do contrário.