Thursday, December 16, 2010

SONHOS E RABANADAS - PARTE 3

- Manel, ...
- Qual é a dúvida? Vá lá, despacha-te que estamos atrasados. 
- Manel, não temos papel..., desculpa a rima mas o teu estro ocupa a casa toda. 
- Papel? Que papel?
- Daquele em que se imprimem as notas.
- Não há lá?
- Pois o mais certo é não haver. Se nos barricamos sem papel, não vamos longe.
- Pois não. Devias ter-te lembrado disso há mais tempo. 
- Só agora é que decidimos deixar o euro e ir para as coroas...
- Decidimos? Quem decidiu fui eu, ora essa!
- A decisão Manel pertence ao governo, quer dizer pertence-me a mim...
- Tretas! Tretas! Tretas! Quem manda sou eu, fui eleito directamente pelo povo, não te esqueças. E se tens dúvidas mando chamar o César.
- Se assim achas...
- Mas não penses que, nesse caso, te libertas. Nem penses! Estás umbilicalmente ligado a esta revolução e só te desprenderei dela quando a revolução parir. Estás preso Zé, fica sabendo, se já não te tinhas apercebido disso. 
- Hum! E como é que resolves a falta de papel?
- Resolvo? Essa é boa!, as questões de intendência estão na tua alçada. Eu defino a estratégia, tu incumbes-te das operações. Passamos pela Fernandes, ali em frente da nosssa casa do Rato...vá mexe-te! 

(noque, noque, noque)

- Alteza, o táxi está à espera, e  o polícia disse-lhe que ele não pode estacionar mais tempo ali.
- Embora todos!
- Mas Manel ...
- Não há papel, já sei. Vamos buscá-lo. Quero dizer, vais tu buscá-lo, eu e "o defesa" ficamos à espera dentro do táxi. Vá, mexe-te!
- Mas Manel, a Fernandes não tem papel para imprimir moeda...
- Não tem? Então quem é que tem?
- Não sei. Só telefonando...
- Chiça!, Zé, telefonar nem pensar! Quando é que, de uma vez por todas, pões na tua cabecinha que a uiquiliques anda por todo o lado? Vê o que está a acontecer em Espanha: o Zé Luis a dar à rotativa e a malta a fugir com os capitais. Ele a imprimir pesetas e a malta a trocá-las por euros. Assim, nunca mais lá chega. Ele a tirar água do poço e a água a correr para o poço...
- Bela metáfora...
- Tu sabes, por acaso, o que é uma metáfora? Não deves saber. É coisa que não se aprende em português técnico.
- Sei, claro que sei: O Zé Luis mete pesetas e malta deita-as fora. Mete - fora. Me-tá-fora.

(noque, noque, noque)

- O táxi foi-se embora. Devo mandar parar outro?
- Já!... Vá! Vamos embora!
- Para onde Manel?
- Para onde? Ainda perguntas para onde?
- Não temos papel, não sei se te recordas...
- E eu, posso retirar-me, Manel?
- Nem pensar! Quem entra neste grupo não sai. Entraste, agora aguentas. Também estás preso. Sabes por acaso onde é que se compra papel para notas?
- Talvez na Fernandes...
- Foi o que eu disse, mas aqui "o nosso primeiro" diz que a Fernandes não tem...
- Pois é provável que não tenha. Mas devem saber quem tenha ...é uma questão de passarmos por lá.
- Claro!, claro!, claro! É uma questão de passarmos por lá.

(noque, noque, noque)

- Alteza, O táxi ...
- Embora todos! Tu Zé, sentas-te à direita para ires à papelaria.

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