Friday, December 17, 2010

SONHOS E RABANADAS - PARTE 4

- Ora vamos a isto que é uma pressa! Zé, onde é que está o papel?
- O papel, Manel, está a chegar.
- A chegar? A chegar, como?
- Vem de camião. 
- Camião? Como, de camião? Não o trouxemos na mala do carro?
- Não cabia, Manel.
- Como, não cabia?
- Não cabia. Uma bobina de papel, mesmo de papel moeda, não cabe na trazeira de um carro ligeiro.
- Estamos tramados. De camião, à vista de toda a gente?
- Tinha de ser. E, depois, não havia papel na Fernandes. Tiveram de encomendar.
- Tiveram de telefonar, queres tu dizer?
- Devem ter telefonado, devem...ou mandado um fax ... um e-mail ... é, ... uma coisa dessas.
- Com mil diabos! A esta hora já todos os jornais foram informados!
- Esquecem-se até lá.
- Até lá?!! O que é que isso quer dizer?
- Quer dizer que o papel vai ser importado, não chega cá em menos de um mês.
- Um mês?!!!
- Um mês, pelo menos. Vem da China.
- Da China? Porquê da China?
- Fica-nos muito mais barato. Se fosse importado da Alemanha custava dez vezes mais e chegava ao mesmo tempo.
- Ainda bem que vem da China. Da Alemanha, nunca! Nem mais uma coroa para a Merkel!
Toma nota: Quando chegar a encomenda, fica o camião apreendido e o motorista preso. Prisão preventiva. Precisamos de gente para as operações. Aliás, não devíamos ter deixado ir embora o motorista de táxi.

(noque, noque, noque)

- Entra!  Ah! és tu, "defesa", o que é que concluíste?
- Quase nada, Manel. Estive a olhar para as máquinas e não me parece que tenham ar de quem lhe apeteça trabalhar...
- Essa é boa! Agora as máquinas também têm apetecimentos! Vamos lá ver isso.
...
- Hum!Hum!Hum! "Nosso primeiro" vamos ao trabalho! Liga a corrente!
- Já tinha ligado, mas não mexe.
- Não mexe? Não mexe porquê?
- Não sei.
- Como, não sabes? Não és engenheiro?
- Sou engenheiro mas esta não é a minha especialidade. Só telefonando ...
- E ele a dar-lhe com o telefone! Oh "defesa" manda o César apresentar-se aqui, e já!
- Com certeza, Manel. Mando uma mensagem cifrada ou preferes que vá lá a pé?
- Cifrada, nunca! A uiquiliques entrava nela em dois tempos. Manda-se uma metáfora.
- Metáfora? Que metáfora?
- Avé César! A coroa espera-te.
- Só isso?
- Só isso. Se tu, que estás aqui, não entendes, a uiquiliques também não. Uma metáfora bem esgalhada é um mundo de informação. Mas só César me entende, só eu entendo César.

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